Conheça Marche: cenário espetacular e vinhos ótimos

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Por Edmilson Palermo Soares

Marche é uma região localizada no centro da Itália, possuindo uma área de 9.694 quilômetros quadrados: para o leste no Mar Adriático; para oeste os Apeninos Umbro-Marchigiani marcam a fronteira com a Toscana e Umbria; ao norte faz fronteira com a Emilia-Romagna e a República de San Marino; ao sul com Abruzzo e Lazio.

Os 173 km de costa ao longo da fronteira oriental oferecem uma infinidade de praias de seixos brancos protegidas por falésias para um cenário espetacular, tornando as cidades e vilas costeiras uma opção popular para os turistas.

Formada por cinco províncias: Ascoli Piceno, Fermo, Macerata, Ancona (capital) e Pesaro e Urbino.

O território é muito variado: montanhas 36%, colinas 53% e planícies 11%. As faixas planas são limitadas a pequenas áreas ao longo da costa e ao longo dos rios. Sempre se cultivou vinhedos em toda região e sua função é importante pela utilização dos terrenos das encostas, inapropriados para muitas outras culturas.

O clima é muito variado, dependendo da disposição e da altitude dos relevos:

  • Mediterrânico ao longo da costa e a sul;
  • Continental para o interior e para o norte, com maiores variações de temperatura e maior risco de geadas.

As suas características climáticas fazem desta uma região particularmente votada para a viticultura (principal cultura com 23.000 ha. de vinhedos, dos quais 48% são inscritas para a produção de vinhos DOC), gerando uma produção superior a um milhão de hectolitros de vinho por ano, principalmente das variedades Verdicchio, Trebbiano Toscano, Montepulciano e Sangiovese.

No século IX, Carlos Magno se tornou o imperador do Sacro Império Romano e dividiu seus domínios em feudos. Os que estavam localizados ao longo das fronteiras eram chamados de Marche (no alemão mark, que significa “sinal de fronteira”). Esses territórios eram governados por nobres nomeados pelo próprio imperador, que recebiam o título de Marqueses. Em determinada área foram criadas as “marcas” de Ancona, Fermo e Camerino, nascendo daí o nome da região de Marche.

As origens da viticultura e da produção de vinho na região de Marche remontam à era etrusca (séculos X e VIII a.C.), onde era utilizado o sistema de de “folignata” (cultivo da videira casada, que consistia em usar uma árvore alta para escalar a videira).

A presença da videira na antiguidade também é atestada pela descoberta de um túmulo de um guerreiro do século VIII a.C, no interior do qual existia uma bacia de bronze com mais de 200 sementes de uva de vitis vinifera.

Caio Plínio Segundo (Plínio, o Velho – 23 d.C. a 79 d.C.), em seu tratado “Naturalis Historia” descreve os vinhos de Marche qualificando-os como generosos.

Por volta de 1200, a produção vinícola era regulada por editais e normas específicas sobre como e o que plantar nas vinhas. Naquela época existiam até leis que protegiam a autenticidade do vinho, punindo severamente quem o adulterava ou, por exemplo, o diluía com água antes de vendê-lo.

Em 1579, em um documento que exigia o tipo de videira a ser plantada em um vinhedo, a uva Verdicchio – referente ao território da Matelica – foi mencionada pela primeira vez.

Andrea Bacci (filósofo, médico e escritor nascido em Sant’Elpidio, na região de Marche) publicou, em 1595, a sua monumental e importante obra “De Naturali Vinorum Historia” (História Natural dos Vinhos) onde descreve as diferentes zonas da região de Marche, identificando vinte territórios diferentes, bem como as técnicas de cultivo e vinificação típicas da região.

Marche fica na região central da Itália e traz paisagens espetaculares e uma enorme tradição na produção de vinhos de qualidade

No início dos anos 1800, a agricultura caracterizava-se principalmente pelo cultivo de cereais e os campos eram atravessados por fileiras de vinhas, uma convivência cultural que permitia obter da mesma terra os dois principais bens de subsistência do povo: pão e vinho. Nesta época, as uvas brancas mais cultivadas eram Verdicchio, Trebbiano, Moscatello Bianco e Uva Bianca della Maddalena; entre as uvas tintas:  Balsamina, Vernaccia e Moscatello Aleatico. Existem testemunhos sobre a dificuldade de conservação dos vinhos, pelo que se sugeriu a confecção do mosto para a produção do denominado “vinho cozido”, tradição que se mantém, ainda hoje em dia, na zona de Piceno e que também se encontra em Abruzzo.

Só na década de 1950 teve lugar o primeiro evento comercial significativo para a venda do vinho da região. A família Angelini, dona da Fazi Battaglia, lançou um concurso que visava criar uma garrafa que caracterizasse a comercialização do Verdicchio. Em 1953, o arquiteto milanês Antonio Maiocchi desenhou o que logo se tornou a garrafa em forma de ânfora e que ainda hoje está associada a Verdicchio. A forma da ânfora foi escolhida em memória dos recipientes tipicamente utilizados pelos etruscos e também o rótulo retratou personagens que remetiam à escrita etrusca, sublinhando o desejo de manter a ligação deste vinho com a sua história.

As vinhas de Marche

As vinhas cultivadas são 60% brancas (especialmente Verdicchio). A Verdicchio é hoje uma das mais interessantes uvas com bagas brancas nativas da Itália, capaz de vinhos complexos e bem estruturados.

Entre as variedades de uvas tintas, as mais importantes são a Montepulciano e a Sangiovese. Na região também existem vinhas autóctones como a Lacrima, uma casta negra de berrada caracterizada por um componente aromático muito original, e a Vernaccia negra.

Também são cultivadas Chardonnay, Ciliegiolo, Passerina, Pecorino , Trebbiano Toscano e Malvasia branca comprida.

A região de Marche apresenta 5 Denominações DOCG, 15 DOC e um IGT, sendo assim nomeadas:

  • DOCG
    • Castelos de Jesi Verdicchio Riserva;Conero;Offida;Verdicchio di Matelica Riserva;
    • Vernaccia di Serrapetrona
  • DOC
    • Bianchello del Metauro;Colli Maceratesi;Colli Pesaresi;Esino;Falerio;As terras de San Severino;Lacrima di Morro d’Alba;Pergola;Rosso Conero;Rosso Piceno;San Ginesio;Serrapetrona;Terre di Offida;Verdicchio dei Castelli di Jesi;
    • Verdicchio di Matelica
  • IGT
    • Marcas

Mas não só de vinhos vive esta região. Semana que vem falaremos sobre alguns fatos interessantes de Marche.

Edmilson Palermo Soares

Enófilo, sócio proprietário da Confraria da Taverna, loja de vinhos e espumantes que traz novas experiências no mundo do vinho, estudioso e entusiasta, com conhecimento prático provando vinhos de mais de 20 países e diversas uvas desconhecidas do público em geral. Me siga nas redes sociais: no Instagram @contaverna, Facebook Confraria da Taverna e Linkedin

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