Por que a gente paga tão caro por réplicas ao invés de valorizar o artesanato original?

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A coluna hoje começa na primeira pessoa: EU. O Eu é muito diferente do ego. O Eu é colaborativo. O Eu através das mãos é capaz de materializar beleza e funcionalidade muito antes do conceito de DESIGN… O Eu é tão maravilhoso que é exclusivo e ainda assim inclusivo.

Deus é Arquiteto, mas também é ARTESÃO, afinal foi esculpindo barro que ele fez todos os seres (Aqui não me refiro apenas ao Deus cristão). E os primeiros seres humanos usaram desse talento feito à imagem e semelhança para também criar e resolver problemas práticos do dia a dia: da roda até o manuseio da eletricidade.

Lembra do último texto: “acessórios nos dizem quem é você na tribo”? Pois é…. Perdemos nosso EU nas lojas de departamento, na produção em série das grandes marcas e deixamos só o EGO da última tendência e do valor monetário preencher esse vazio para criar “o look perfeito da celebridade”.

Cadê o EU que gosta, que valoriza e respeita a si mesmo afirmando: esse brinco todo diferentão, assimétrico, cheio de cores é a minha cara? Cadê esse EU que busca a identificação no conhecer quem fez seu artefato? Porque o Artesão não faz marketing, ele conta histórias… Se não com uma boa lábia, com as mãos ágeis e calejadinhas, ou com a própria beleza ímpar da sua obra.

Cadê o EU que valoriza o outro? Que sabe que tempo é dinheiro e que todo trabalho deve ser devidamente remunerado? Cadê o EU que sabe que aquele vestido de festa incrível comprado ou alugado em uma “boutique” é artesanato também porque tem bordado feito à mão e é feito sob medida pela habilidosa costureira?

Cadê esse EU que munido dessa compreensão não vai sair por aí pechinchando no pano de prato pintado da feirinha, no tapetinho de retalhos na tela ou ilustração do “amigo” só porque ele não está protegido por um ambiente glamourizado? E ainda: que não vai achar que não combina colocar um colar feito de flores pela tia nesse mesmo vestido?

Cadê esse EU que se recusa em ser desonesto e que admite que é absolutamente chique, sofisticado e de um bom gosto inquestionável  o crochê, o tricô, o  macramê, a pintura, a escultura; das obras de garrafa pet aos colares feitos de macarrão colorido pelos filhos. Porque todos  tem conceito, tem afeto, tem inspiração, tem criatividade e dedicação.

Feio, sem classe e sem graça é você comprar uma réplica. Quem é você na tribo? Quem escolhe esse triste ato está respondendo: “a cópia baratinha de um estilo que nem sei o que representa, mas está na moda.”

E se você pode comprar o “original da marca” lamento informar que TUDO que você compra de grandes marcas, essas grandes marcas usaram como inspiração na grande maioria das vezes o artesanato, a rua, o povo…. Ou seja, você não está comprando o original, você está pagando mais caro por uma releitura do popular.

Cadê o EU que entende que pertence a um povo e que deveria valorizar sua cultura – que inclui o artesão e seu artesanato?  

Fica aqui a reflexão. E artesanal é chique sim! Muito chique e muito fino. Valorizemos o que é feito por nossos artesãos! Bom fim de semana.

Fotos: Acervo pessoal

Esther Eugenia Martins

Graduada em Moda pela UEL e Técnica em segurança do trabalho pelo Senac. Atuo no Mercado de Moda há 10 anos com ênfase em PCP e Desenvolvimento. Pesquisadora da contracultura, underground e estereótipos, amo as danças árabes, música, meditação, plantas e a bicharada. Minhas referências estéticas preferidas são a Art Nouveau e a Art Déco.  

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