Por Ana Paula Barcellos
Taí uma tendência que eu, sinceramente, considero meio gasta. Pra mim já deu, ficou meio over. Mas entre o povo que curte trends essa é uma que segue firme, devemos continuar vendo por aí, tanto nos dias de folia quanto no último mês de verão que ainda temos.
A estética sereia, sereismo ou mermaidcore, apareceu há alguns anos e conquistou muitas fashionistas. Cheia de elementos do fundo do mar e da praia, tem muito a ver com o clima do nosso país. Traz também boas pitadas de sonho e magia, coisa de sereia e de mitologia, dos contos de fadas.
Mas essa tendência não já não se limita aos brilhos, metálicos e caudas de sereia furta-cor. Ela tem aparecido cada vez mais forte em crochê, tricô e em cores naturais, como algodão cru etc. Antes a pegada eram os tons pastéis; agora, o legal é embarcar no off white ou tons de azul e lilás, mas tudo com pegada mais artesanal.
Outro ponto forte dessa vibe sereia são os elementos bordados. Contas, perolas (principalmente as naturais como a pérola barroca, que também é conhecida como pérola de água doce), strass, cristais, búzios, elementos bordados com conchas… devem aparecer sobretudo aplicadas em peças tricotadas e crochetadas, como já falei.
Por aqui, a tendência tem aparecido também com fortes influências das religiões afro-brasileiras. Alguns arranjos de cabeça, por exemplo, lembram bastante o da orixá Yemanjá, a rainha do mar. E esse é um adereço que deve aparecer muito no carnaval.
Pra quem gosta da energia do mar, da vibe praiana, é prato cheio. Perfeito para criar looks carnavalescos mas também outros mais casuais, que vão bem até no trabalho. Um exemplo? Pros dias de folia, cropped de crochê com apliques, hot pants seguindo a mesma linha e arrastão azul ou neon, com arquinho ou arranjo de cabeça. Aí você pega o mesmo top, uma calça pantalona (aí pode ser tecido plano ou jeans) ou outro modelo que seja reto, com as pernas largas como está se usando, um cinto largo, sapatilha, papete ou mesmo um coturno. Já tem dois looks!
Dica brecholenta: a pegada mais artesanal dessa releitura do sereismo me lembra muito o “top de crochê feito pela minha vó” que dominou as ruas em 1997 e 1998. Foi um boom do crochê, o que mais se via eram meninas usando tops e alcinhas estilo biquini de lacinho. Quem investia numa pegada mais “hippie”, aplicava búzios e contas que davam um ar mais praiano – me lembro de algumas meninas levando peças pros artesão do calçadão customizarem. Pra quem curte garimpar (seja em brechós ou no armário da mãe, das amigas), vale a pena buscar esse tipo de peça perdida no tempo, com certeza tem muitos tesouros desses esquecidos por aí.
Por aqui, tenho o sereismo limitado a alguns brincos lindos com figuras de sereias mesmo (ou nereidas, né, Ângela?), colares de pérola barroca e um anel de prata bem sereiudo. Se tem uma coisa muito legal, pra mim, nas tendências de Moda – mesmo naquelas que a gente não abraça tanto – é a lembrança que elas trazem das nossas peças que estão esquecidas no guarda-roupa ou na caixa de acessórios. Eu mesma, já fiquei com vontade de tirar a poeira dessas que falei e sereiar um pouco!
Ana Paula Barcellos
Viciada em botas, sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências. Tem foto da Suzy Menkes na estante e escreve essa coluna usando pijama velho, deitada no sofá enquanto toma café com chocolate.
Foto: Reprodução/Aquamermaid