Por Ana Paula Barcellos
Você provavelmente já deve ter pelo lido ou ouvido falar do movimento clean girl aesthetic, que dominou as publicações das redes sociais e caiu no gosto de famosas e fashionistas entre 2021 e 2023. Agora, como publiquei no perfil do Instagram da coluna (@experienciasdecabide), o grande movimento da vez é o messy girl: olheiras, cabelos bagunçados, aquela maquiagem meio “fim de balada”.
Se a pandemia e o pós pandemia inspiraram uma estética cara limpa, com looks confortáveis, o que a gente tem visto nesse fim de 2023 e começo de 2024 é o renascimento do combo padrão estético – e social também – do início dos 2000.
Aparentemente a beleza real já cansou. Cansaram de falar de diversidade de corpos, de repetir o mantra “aceite-se como você é”, dizer que tem espaço para toda mulher e todos os estilos. Aceitar seu corpo, seu peso, suas medidas, suas imperfeições? Já saiu de moda, pelo visto.

E a chegada desse padrão, bem pouco repaginado – ou seja, mais na cara dura mesmo – começou com o revival da estética Y2K, como foi chamada, seguiu com a volta das modelos magérrimas como eram as daquela época nas principais passarelas e vai se consolidando com o messy girl, a maquiagem forte e o cabelo desgrenhado somado à barriga chapada e o corpo magro heroin chic.

Messy Girl ou mulher padronizada?
Esse movimento, na verdade, nem começou com os anos 2000. Ele começou a pegar ainda no final dos anos 80 e começo dos 90, hypado por cantoras como Debbie Harry (vocalista do Blondie), Madonna e Courtney Love e, na época, era sinônimo de rebeldia. Pois o que deveria ser um movimento símbolo de libertação de um estilo muito certinho, uma fuga da perfeição, agora aponta no lado oposto.
No início dos 2000, a tendência foi repaginada e glamourizada por outras famosas, como as gêmeas Olsen (quem aí se lembra delas) e a supermodelo Kate Moss, que consagrou justamente o corpo magérrimo e a barriga seca – e muitas outras vieram nessa esteira, já sabemos – e virou padrão a ser almejado e alcançado.
O que mais me chama atenção nesse retorno (sim, a moda é cíclica, as tendências também, mas aqui a gente vê que o movimento vai além) é a volta do comportamento e dos anseios ligados a esse estilo, que basicamente diz: não basta se sentir bem ou parecer bonita, você precisa SER bonita e de acordo com o padrão estético vigente, precisa ser validada como bonita pelos olhos alheios. E esse parece, novamente, o requisito exigido para ser levada a sério, ou ter algum valor. Novamente.

Ando pensando muito sobre isso nos últimos meses e me dei conta de que esse movimento já pegou – ou pelo menos afetou consideravelmente – boa parte das escritoras, influenciadoras e humoristas que acompanho nas redes – e que são todas talentosíssimas, mulheres incríveis. Agora todas elas postam foto de treino nas redes, todas elas estão magras e com barriga pelo menos marcada pela musculação. Não basta ser inteligente, sagaz, bem humorada e divertidíssima, tem que ser super padrão e provar que é padrão. E pouca coisa me lembra mais o começo dos 2000 do que isso.
No começo dos anos 2000 eu tinha 16/17 anos e a corrida era exatamente essa: se matar para se encaixar no padrão estético imposto pela sociedade e pela mídia, ter barriga chapada pra mostrar na calça de cintura baixa, estar o tempo todo bonita. Ser “apenas” inteligente e divertida não bastava. Você precisava gabaritar a lista, ser esse combo mesmo, e o mais importante: aparentar ser esse combo.

Volta pro início messy de 2024: completo 40 anos na semana que vem e vejo nós, mulheres, voltando obedientemente pra rodinha do ratinho. A diferença é que agora você encontra cropped plus size e calça cintura baixa também em tamanho maior. Mas as pessoas estão voltando a dizer que já não é suficiente, tá? É só pra usar enquanto você não perde os quilinhos extras e ajeita essa barriga! Já voltou pra academia?
Cansada do Capitalismo engolir todas as lutas, todas as nossas pautas, reinvindicações e transformá-las em mercadorias – junto com nós mesmas, para sermos consumidas. Cansada dessa nossa “revolução” ser sempre uma “Onda”. É mesmo difícil demais manter o progresso que se imaginava alcançado.

Ana Paula Barcellos
Viciada em botas, sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências. Tem foto da Suzy Menkes na estante e escreve essa coluna usando pijama velho, deitada no sofá enquanto toma café com chocolate. Me siga no Instagram Me siga no Instagram @experienciasdecabide e yopaulab
Foto principal: Pinterest
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