Por Ana Paula Barcellos
Faz tempo que eu não falo sobre desfiles grifados ou trago influências da alta costura. Hoje, fazendo meu giro fashion da semana (o momento em que eu paro pra ler sobre tudo que tem de novo no mundo da Moda, pra ver tudo que está rolando), me dei conta de que tudo de mais interessante, pelo menos hoje, está acontecendo no andar de cima da Moda.
Quem viveu plenamente o começo dos 2000 sabe do impacto que a Victoria’s Secrets teve em toda uma geração de mulheres. A marca inovou na forma de fazer lingerie, é verdade, e trouxe modelos incríveis, mas por outro lado contribuiu muito, muito mesmo, para a propagação do péssimo padrão estético que passou a vigorar naquela época, de modelos brancas, bronzeadas e esquálidas com barriga chapada.
A VS, que reinou soberana como uma das marcas queridinhas naquela década, tombou feio há alguns anos (mais especificamente em 2018) com sérios problemas de imagem causados tanto pela divulgação desse padrão estético e pela falta de diversidade de corpos entre suas modelos quanto por denúncias de assédio por parte das mesmas – dá pra conferir isso em detalhes no documentário “Victoria’s Secret: Angels and Demons”, de Matt Tyrnauer (2022).
De lá pra cá, a grife tem feito um esforço enorme para mostrar que mudou: demitiu muita gente do alto escalão, trouxe outro foco para seus produtos (fazendo sutiãs de amamentação e para pessoas mastectomizadas, por exemplo) e aumentou a diversidade de corpos em suas campanhas. Mas será que isso é suficiente?
Eu, cá, tenho minhas dúvidas. O mundo da moda vive justamente uma chamada apelativa para o retorno desse padrão estético que destruiu a cabeça e a autoimagem de tantas mulheres. Faz muito pouco tempo que uma diversidade maior de corpos começou a aparecer nas passarelas e já existe o risco deles desaparecerem. Uma marca com esse passado e esse apelo, nesse momento, parece ser a última coisa que o mundo da Moda precisa.
A edição da Marie Claire desse mês faz uma reflexão importante sobre esse tema e pondera que não adianta simplesmente a marca voltar fazendo diferente, já que tem uma dívida com as mulheres que prejudicou. Foram mais de 20 anos de ditadura da magreza, agora seria preciso um esforço real pra dizer que o contrário é melhor, e não apenas colocar modelos gordas e não-brancas nas passarelas ou criar sutiãs diferentes. É é muito sobre isso.
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Ana Paula Barcellos
Viciada em botas, sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências. Tem foto da Suzy Menkes na estante e escreve essa coluna usando pijama velho, deitada no sofá enquanto toma café com chocolate. Me siga no Instagram @yo.anap e @experienciasdecabide
Foto principal: Getty Images