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Moda plus size resiste e luta para sobreviver no Brasil

Por Ana Paula Barcellos

Quem acompanha essa coluna há mais tempo sabe que falo sobre moda plus size e a dificuldade de encontrar roupas em tamanhos maiores realmente bonitas, sobre gordofobia… desde o começo da coluna, em 2019. De lá pra cá, falei também – e não só eu, né, gente? Muita gente escrevendo sobre o assunto, que é realmente importante – sobre gordofobia, sobre os avanços positivos nesse sentido, como a indústria da Moda estava avançando rumo a uma inclusão mais verdadeira e mais plena.

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Estava. E tenho falado muito sobre isso também. A sensação que dá é que o pouco que se avançou nos últimos 4 anos está se perdendo muito rápido e isso é muito, muito desanimador. Ao mesmo tempo que aumentou o tanto de perfis engajados nas redes sociais, falando de body positive, de aceitação de todos os tipos de corpos, denunciando o uso excessivo de Photoshop e filtros nessas mesmas redes, vemos também o aumento de um movimento que busca resgatar justamente o inverso disso: o padrão de beleza esquelético e torneado que já fez tantas mulheres sofrerem.

Vi hoje no Instagram fotos de uma apresentadora de TV brasileira, loríssima, de olhos claríssimos, magérrima, que vinha fazendo reflexões interessantes sobre todos os “tipos de beleza” e adivinhem: as fotos retocadíssimas, para aproveitar o exagero e a intensidade irônica dos adjetivos – um braço chegou a ficar torto de tanto Photoshop para afinar.

Aí a gente tem também a Victoria’s Secrets e todo um movimento engajado na volta do padrão 2000, movimento amparado por modelos como Gisele Bündchen que passaram os últimos anos arrotando frases feministas e de bem estar para as mulheres. Sei sim, aham.

Foto: Instagram Wondersize

A boa notícia no meio dessa porcariada toda é que a moda plus size luta pra resistir aqui no Brasil e segue desafiando os preconceitos e a gordofobia. Uma das empresarias brasileiras que está nessa frente é Amanda Momente, criadora da marca Wondersize, no mercado desde 2017. A grife foi criada justamente pela dificuldade que Amanda sentia de encontrar roupas em tamanhos maiores e bonitas.

Amanda Momente Foto: Instagram

“Isso que a sociedade jugou tanto eu transformei em inteligência para a empresa que tenho hoje”, disse em entrevista à AFP. A marca de Amanda segue as tendências internacionais de Moda e cria roupas modernas e coloridas para pessoas gordas, com boa modelagem e caimento. Se antes, para as pessoas gordas só tinha roupa, agora tem moda também. As peças já não servem apenas para as pessoas “esconderem” suas formas volumosas, mas para valorizarem essas formas também.

Moda plus size não é apologia à obesidade

“Produzir moda para pessoas gordas não é fazer apologia à obesidade, é dar opção e possibilidade para chegarem aonde quiserem”, pontua a empresária, que vende suas peças on-line e em feiras do nicho.

Seguindo esse movimento, o setor de moda tamanho maior está crescendo no brasil, chegando a 75% nos últimos 10 anos. E isso graças às marcas menores como a Wondersize. Enquanto as grandes lojas e grifes reservam no máximo um cantinho para vender tamanhos grandes, essas lojas pequenas apostam em atender a essa demanda “reprimida”, como diz Marcela Liz, presidente da Associação Brasil Plus Size, a ABPS, que representa esses pequenos empreendedores e as médias empresas do segmento também.

Letticia Munniz Foto: Instagram

Mas como coloca muito bem a apresentadora e modelo plus size Letticia Munniz, 33, é preciso haver uma inclusão definitiva, sem retrocessos: “Ao mesmo tempo que o nosso trabalho se fortaleceu, ele entra em um lugar de cota. Ainda não se posicionou lado a lado com as outras pessoas como iguais”, disse à AFP.

E é sobre isso: a moda plus size precisa ter mais que uma pequena fatia do mercado geral, precisa deixar de ser nicho. Dando um Google, aparecem as estatísticas: somos muito mais G e GG no Brasil do que PP e P , atualmente. Essa moda que está aí, comos e fosse representativa de uma maioria, não nos representa em nada. As pessoas com corpo de Barbie e Ken são a minoria. A minoria que quer que continue sendo o padrão ideal, o padrão impossível. Chega disso!

Ana Paula Barcellos

Viciada em botas, sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências. Tem foto da Suzy Menkes na estante e escreve essa coluna usando pijama velho, deitada no sofá enquanto toma café com chocolate. Me siga no Instagram @yo.anap e @experienciasdecabide

Foto principal: Ju Romano no Pinterest

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(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.

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