Skip to content

Meu extraordinário encontro em Torino

Por André Luiz Lima

A arte dos encontros foi me levando para várias rotas e, nesses caminhos, fui encontrando pessoas que compartilharam suas histórias em culturas diversas, assim fui desmistificando crenças.

A arte do ator me ajuda no estudo mais profundo da personagem, abrindo portas dentro de mim com a possibilidade de vários olhares.

Meus encontros em Torino, na Itália, ajudaram a entender melhor esse processo que já colocava em prática há algum tempo.

Senta que lá vem história!

Fui convidado para fazer a direção de um espetáculo de uma companhia francesa de Paris que estava fazendo fusão com uma companhia italiana de Torino.

Eles me disseram que gostariam de trabalhar sobre o tema “Gêneros“. Um tema complexo. Pensei em começar o processo a partir do olhar para nós mesmos. Como tínhamos França, Itália e Brasil já era um bom início.

Nos reunimos no Centro Cultural Cascina Macondo, aos arredores de Torino, uma das cidades mais fascinantes e misteriosas ao norte da Itália, região do Piemonte, cortada pelo rio Pó, cercada de montanhas e colinas com vista magnífica dos Alpes Suíços, rica em parques. Ela é a primeira capital da Itália com edifícios barrocos, arquitetura contemporânea, antigas coleções de arte, manifestações cinematográficas de fama internacional, o segundo Museu Egípcio do mundo pela importância de seu acervo, o inovador Museu do Cinema e guarda uma das principais relíquias católicas: o Santo Sudário.

Cheguei em Torino pela estação de trem Porta Nuova vindo de TGV de Paris, uma viagem bem agradável que leva em torno de 5 horas.

Confesso que estava nervoso para enfrentar esse processo delicado, cheio de sutilezas e riscos.

Respirei, decidi enfrentar, absorver o máximo o que essa experiência poderia me dar e divido aqui o maior aprendizado.

Um dos atores me pegou na estação e fomos direto para o campo com direito a uma vista espetacular das montanhas, vilarejos com sons e gestos típicos dos moradores, aromas e sabores da culinária Italiana me tiravam o fôlego de emoção.

Cheguei no Centro Cultural Cascina Macondo e tive o prazer de ter sido recebido com alegria por Anna Maria Verrastro e Pietro Tartamella, um casal de artistas incomensuráveis que me ensinaram muito e não tenho palavras da importância desse encontro.

Pietro, como um bom artista, comprometido e realizador de sonhos, comprou um monastério antigo que estava abandonado e transformou em um centro cultural com espaço para receber hóspedes.

Cascina Macondo é um lugar especial que surgiu da tentativa de criar uma atmosfera que lembra o vilarejo Cascina Macondo, citado por Gabriel Garcia Márquez em seu livro “Cem anos de Solidão“.

Pois eles conseguiram!

Esse pequeno paraíso que acolhe sonhos, transforma pessoas, realiza projetos artísticos dirigidos a um público vasto e heterogêneo. E, o que mais me encantou, que é o objetivo, a criação de espaços e tempos dedicados ao “fazer juntos” para uma comunidade ativa e inclusiva. 

Nesse espaço, entendi o melhor sentido da frase: “As artes não são apenas para comunicar ideias, são formas de ter ideias, de criar ideias, de experimentar e de dar forma ao nosso conhecimento em novas formas” (As Artes nas Escolas – Fundação Calouste Gulbenkian, 1989).

No meu processo artístico, ouço pessoas que vão me dando pistas, e sempre tenho a mensagem que necessito.

Uma dessas foi Rosa, uma participante e colaboradora da Biblioteca Viva Torino, um projeto nascido na Dinamarca nos anos 80, é uma forma inovadora de promover o diálogo, diminuir o preconceito e favorecer o entendimento entre diferentes pessoas. É reconhecida pelo Conselho da Europa como uma boa prática para o diálogo intercultural como forma de promover os direitos humanos.

A Biblioteca Viva permite enfrentar os estereótipos e desafiar os preconceitos mais comuns de uma forma positiva e construtiva. Na verdade, não existem categorias, mas sim pessoas com suas histórias pessoais, suas escolhas e os motivos dessas escolhas. Com a Biblioteca Viva, os “leitores” podem entrar em contato com pessoas que não teriam a oportunidade de conhecer.

 Ao final, esse processo produz o acontecimento que favorece o diálogo entre os livros humanos e seus leitores.

Diferentes culturas, detenção e prisão, vícios, deficiência, doença mental, orientação sexual, profissões, religiões, cultura cigana, valores e histórias locais, bairros e subúrbios, veganismo, entre outros são os temas que as Bibliotecas Vivas abordaram até agora.

O encontro com Rosa e, estando trabalhando em um centro cultural inclusivo com pessoas sérias, comprometidas em compartilhar, cada uma fazendo sua parte para melhorar o seu, o meu, o nosso mundo me leva a seguinte conclusão: quanto tempo perdemos em questões centradas em nós mesmos. Se cada um fizer a sua parte dentro do todo, quebrando preconceitos dentro das várias questões, facilitaria o diálogo e a compreensão da complexidade das pessoas e de suas histórias na Arte dos Encontros.

Viva a Vida, André.

André Luiz Lima

Londrinense, ator, diretor, professor, palestrante e produtor cultural

Foto: Acervo pessoal

Compartilhar:

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Designed using Magazine Hoot. Powered by WordPress.