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Metalinguagens cinematográficas em dois filmes imperdíveis

Por Marcelo Minka

O sol nasceu cedo na fazendinha, torrando os miolos logo de manhã. E hoje vamos escrever sobre o cinema discursando sobre o… cinema. Dois filmes discorrem sobre a criação artística desta arte de maneiras muito diferentes e, por vezes, interessantes. Vamos a eles.

O primeiro é o indicado para vários Oscars do queridinho hollywoodiano Steven Spielberg, indicado inclusive a melhor filme e melhor direção, Os Fabelmans. Queridinho sem pejorativos mesmo, super querido, ele é um dos responsáveis pela minha paixão pelo cinema com seu Caçadores da Arca Perdida (1981) e E.T. O Extraterrestre (1982). Spielberg sempre usou de pirotécnica em suas produções, mas com muita emoção, e isso faz toda a diferença. Em Os Fabelmans, enquanto discorre sobre criações imagéticas, ele conta sua própria história de vida centrado em suas referências cinematográficas, ao mesmo tempo em que homenageia sua família.

Os Fabelmans – Foto: Divulgação

O diretor ainda aproveita para discutir o preconceito aos judeus em uma participação incrível de Judd Hirsch, discorre sobre as descobertas sexuais na adolescência e o conflito com a religião, enquanto mostra como desenvolveu sua arte cinematográfica aliando técnica, entretenimento, emoção e humor. Apesar do tempo passar sem nos apercebermos dele, o filme poderia ser mais enxuto, três horas é muita coisa. Spielberg encerra sua cinebiografia com uma participação impagável de David Lynch (Twin Peaks – 1990) na pele do diretor “das antigas” John Ford (As Vinhas da Ira – 1940). Um filme agradável para os cinéfilos.

O segundo filme é imperdível. Confesso que fiquei meio perdido nos primeiros 40 minutos de projeção, mas aguente firme, vale a pena. Dirigido por Damien Chazelle (La La Land – 2016), Babilônia é pura potência deleuziana cinematográfica, é original. Ao contrário de Fabelmans que fala de cinema na ótica de Spielberg enquanto diretor, Babilônia fala de cinema usando o cinema, frame a frame, diálogo a diálogo, referenciando toda sua história de modo incrível.

O filme é excesso, do primeiro ao último minuto. Excesso de loucuras, excesso de emoções, excesso de excrementos (literais e metafóricos). Nesta experiência cinematográfica, às vezes nos sentimos dentro de um circo, às vezes dentro de um cabaré, de um desenho do Pernalonga, de um bloco carnavalesco, e por aí vai.

O foco do roteiro é a turbulência da indústria na transição do cinema mudo ao falado, apoiado por personagens pra lá de doidos, como o produtor/ator Jack Conrad (interpretado por Brad Pitt), a atriz em ascensão Nellie LaRoy (Margot Robbie) entre outros. Babilônia é todo movimento, não tem parada nem local nem temporal, embalado em uma deliciosa trilha sonora de Justin Hurwitz (La La Land – 2016) e apoiado na belíssima fotografia de Linus Sandgren (O Primeiro Homem – 2018).

E, coisas de Hollywood, não dá pra entender porque o filme não está concorrendo aos Oscars de melhor filme, diretor e atriz. Margot Robbie definitivamente rouba a cena, todas elas, em atuação inesquecível. Babilônia está concorrendo apenas para trilha sonora original, direção de arte e figurino.

Fazendo uma comparação quase que grotesca, quando você vai a um restaurante de um chef premiado, o principal objetivo não é matar a fome e sim ter uma experiência gastronômica. O mesmo se pode dizer de Babilônia, vá ao cinema não para ver um filme e sim para ter uma experiência cinematográfica. Três horas de filme que poderiam ser quatro. Nota dez.

Marcelo Minka

Graduado em licenciatura em Artes Visuais, especialista em Mídias Interativas e mestre em Comunicação com concentração em Comunicação Visual. Atua como docente em disciplinas de Artes Visuais, Semiótica Visual, Antropologia Visual e Estética Visual. Cinéfilo nas horas vagas.

Foto: Divulgação

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