Por Márcia Huçulak
2023 chega ao fim sem que consigamos, como sociedade, reverter de vez uma tendência que surgiu com mais força a partir de 2015: a queda nos índices de vacinação da população.
O problema, que foi crescendo na mesma medida em que as campanhas antivax começaram a ganhar corpo, ganhou contornos ainda mais graves durante a pandemia de covid-19.
Prossegue até hoje, colocando em risco avanços importantes da saúde pública em todos os países.
Ao mesmo tempo em que a covid-19 forjou um grande feito da ciência – a disponibilização de imunizantes seguros em um curto espaço de tempo –, também serviu de palco para os negacionistas lançarem mão de um sem-número de teorias da conspiração e desinformação que levaram muitas pessoas a resistirem às vacinas.
LEIA TAMBÉM
Esse é um episódio de correlações sociais, políticas e psicológicas que merece ser mais bem estudado e aprofundado. Mas um resumo do que esse movimento causou é simples: quem fez isso advogou pela morte e pelo caos no sistema de saúde.
Mais grave ainda que tal posicionamento tenha sido motivado por questões políticas – como vimos aqui no Brasil e em outros países.
O viés político ainda vem sendo explorado por recalcitrantes do negacionismo, sob um deturpado manto de “liberdade”.
A ignorância, no entanto, é terreno fértil para muitos males. A má-fé, por sua vez, utiliza-se da ignorância para prosperar, retroalimentando um ciclo nefasto para sociedade.
As vacinas são fruto da melhor ciência que, por conceito, é complexa e demanda muito conhecimento, estudo, dedicação e prática.
Há uma ampla gama de protocolos que garantem toda a segurança para um imunizante chegar até o braço de um ser humano: ensaios pré-clínicos com testes em animais; ensaios clínicos, em várias fases, com testes em humanos; revisão regulatória; aprovação; licenciamento…
Há critério, seriedade e controle, como os muitos anos de funcionamento do sistema de vacinas comprova facilmente.
Questões complexas, no entanto, sempre foram difíceis de explicar para a massa da população, que obviamente não é familiarizada com tantas minúcias técnicas de difícil compreensão – como é o caso de comportamento de vírus e de células, modificações genéticas, vetores virais, entre muitos outros no ramo da imunologia, virologia e epidemiologia.
Nesse cenário, é relativamente simples plantar irresponsavelmente mentiras como a de que o imunizante transforma a pessoa em jacaré, transmite Aids ou implanta um chip de monitoramento chinês.
Vacinas evitam riscos de reaparecimento de doenças
Risível, mas as campanhas de desinformação – disseminadas por gente sem a menor condição de opinar sobre ciência ou evidência científica – são pródigas em utilizar esse tipo de barbaridade para ampliar os estragos. A troco de quê, mesmo?
Mas a dúvida gera insegurança nas pessoas.
E com isso chegamos ao ponto de que a cobertura vacinal ainda não recuperou os índices que fizeram do Brasil uma referência mundial – e do Paraná e Curitiba, referências nacionais de bom desempenho, com campanhas e estruturas de vacinação sempre muito eficientes.
Dessa forma, doenças como poliomielite e sarampo correm o risco de reaparecer ou já reapareceram.
O caso da poliomielite é emblemático. É responsabilidade absoluta dos pais vacinarem seus filhos no primeiro ano de vida. Se não fizerem isso, colocam a criança em risco de uma doença que pode matar ou causar sequelas graves para o resto da vida (como paralisia permanente e atrofia de músculos e ossos).
O índice para se manter uma comunidade livre da pólio é de 95% de imunização das crianças (de 1 ano). Estamos em quase todos os municípios brasileiros com percentuais muito abaixo, repito, num país que já foi uma referência em eficiência de vacinação para o mundo.
As vacinas disponíveis foram desenvolvidas há mais de 50 anos, período mais do que suficiente para comprovar sua eficácia e segurança. Foi pelas vacinas que aumentamos a expectativa de vida das pessoas no mundo todo. Muitas vidas foram salvas por elas.
Em pleno século 21, ainda ter que discutir a sua eficácia é no mínimo algo a ser estudado pela ciência.
Vacina é vida!
Márcia Huçulak
Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
www.marciahuculak.com.br; Instagram: @marciahuculak; Facebook: Márcia Huculak. Telefone gabinete: (41) 3350-4223.
Leia mais colunas de Márcia Huçulak – Mulher na Política
Foto: Pedro Ribas/SMCS
(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.
1 comentário
Texto importante e necessário considerando certos movimentos que insiste em negar a ciência e seus comprovados benefícios à saúde humana, menosprezar a importância vital da vacina.
E eles estão na política, eleitos por um eleitorado cúmplice desse absurdo.
Pais se recusam a vacinar seus filhos.
Políticos sem caráter utilizam do negacionismo mentiroso, canalha para se auto-promover, prejudicando a população e tendo reflexo negativo no esquema de vacinação obrigatória nos primeiros meses de vida.
Ato criminoso.
Não deveriam nem ter mandato parlamentar.
O negacionismo é um fenômeno mundial, criado por indivíduos com interesses escusos, ilícitos, inescrupulosos.
Fico muito angustiada e estarrecida em ver tanta gente sendo levada sem duvidar, sem questionar a certas ideologias, demagogias, mentiras, crendices, fortalecendo esses grupos que dominam e manipulam facilmente, prejudicando abertamente a vida dessas pessoas, sem o menor escrúpulo.
Responsabilizo a mídia hegemônica e as redes sociais por não exercerem a verdade como princípio, valor no campo da comunicação digital.
É o vale tudo que importa.
Não importa se é mentira ou verdade. O Ibope importa.
Tristes tempos vivemos.