Por Márcia Huçulak
Já vem de alguns anos que a política se inclinou para uma polarização frequentemente extrema, cenário que não é exclusividade do Brasil, tampouco restrito ao mundo dos políticos.
Se tornou comum que assuntos complexos sejam tratados no espírito de “conversa de boteco”, com uns completamente a favor e outros completamente contrários a algo.
Não raro, os “argumentos” desse “debate” se restringem a desacreditar o interlocutor – quando não simplesmente xingá-lo.
Além disso, as fakenews — ou, em português, as mentiras — parecem estar cada vez mais presentes.
Grande parte desse cenário pode ser atribuída à expansão das redes sociais, que se tornaram onipresentes na comunicação pública de muita gente.
Esse mau sintoma dos tempos atuais tem um agravante que me parece crescente: o viés nocivo nas redes digitais passou a impregnar os parlamentos, que, como é óbvio, são locais do mundo real, onde as pessoas convivem frente a frente umas das outras, não protegidas por telas distantes que desumanizam relações.
O “lacrar” toma espaço do dialogar, já que tiradas espertas nas redes sociais rendem mais cliques e likes do que boas ideias para projetos.
Os parlamentos, no entanto, são espaços por natureza de um debate que precisa gerar luzes, não trevas de desavenças. Precisa ser adulto e responsável.
Contra a intolerância
Vivemos um tempo em que, com frequência, é necessário lembrar conceitos óbvios, que parecem estar sucumbindo no meio da balbúrdia digital.
Vamos a algumas deles.
Política é a arte construir consensos, sem os quais as políticas públicas padecem e não avançam da forma como deveriam.
Diversidade e divergência de pensamento, por sua vez, são construtivas; não podem ser canalizadas apenas para a depreciação.
Sem tolerância e respeito, no entanto, não é possível colher os bons frutos que podem ser extraídos da natural diferença entre as pessoas.
Vida é equilíbrio.
Ódios (supostamente) ideológicos inviabilizam o debate público. Intolerância mina a capacidade de uma sociedade discutir, compreender e resolver questões importantes, que quase sempre são complexas.
O espaço ocupado pelos intolerantes termina por desencorajar a participação de muitos que poderiam trazer, de forma produtiva e civilizada, boas contribuições ao debate público.
O ambiente hostil dificulta ainda mais a participação das mulheres. Além de alvo frequente de preconceitos sexistas, uma característica comum entre nós é a propensão de entender bem uma questão antes da tomada de posição – o que pede debate maduro e ponderação.
Num ambiente em que expressar opinião significa risco de virar alvo de represálias e cancelamentos (muitas vezes desproporcionais), quantas boas pessoas se afastam do debate público?
O preço de não aceitar e respeitar o outro é muito alto.
Quando os bons se recolhem, os maus prosperam.
Márcia Huçulak
Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
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Ilustração: Canva
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1 comentário
Concordo, Deputada.
É muito ruim para o Parlamento manter parlamentares lacradores. São muitos os maus exemplos.
O Parlamento precisa ter mais coragem para cassar mandato daquele parlamentar que quebra o decoro parlamentar.
O exemplo mais nítido, é o do Abílio Brunini, deputado federal, que se comporta desrespeitosamente na Câmara, na CPI dos atos golpistas foi absurdo.
Já deveria ter tido o mandato cassado. E ele admite descaradamente que está lá para isso mesmo. Pasmem.
O Congresso Nacional, muitas câmaras de vereadores, assembléias legislativas está repleto de parlamentar que viola o decoro parlamentar.
Precisamos de uma reforma eleitoral que proíba certos comportamentos.
Democracia representativa não significa termos qualquer pessoa eleita, e nisso eu também culpo o eleitorado, que vota muito mal, escolhe muito mal, se seduz pela demagogia, pelos extremismos, pelo ódio, acredita em fake news.