Nathielly Lorena Bernardo sofreu um acidente e está superando a situação difícil com uma atitude madura e consciente: “A escolha de cair e levantar é somente sua”
Suzi Bonfim
O Londrinense
O que você faria se um mês antes de completar 16 anos, quebrasse três dentes da frente em um acidente em casa? Difícil responder já que uma situação destas envolve muitas questões. A estudante Nathielly Lorena Bernardo, então, com 15 anos, surpreendeu ao gravar um vídeo e postar nas redes sociais que, em 14 de janeiro 2023, perdeu os dentes e parte da arcada dentária (raiz e ossos) ao sair correndo pelo piso escorregadio da calçada, bater contra o portão da garagem da casa dela e cair de boca no chão. O post, em pouco mais de um mês, teve mais de 40 mil visualizações e centenas de mensagens de solidariedade. Veja o vídeo: Tua força se torna a dos outros, quando tua fraqueza é compartilhada
Nathielly explicou para O Londrinense que, depois do impacto provocado pela gravidade dos efeitos da queda e as primeiras providências médicas, ela e a família foram em busca de tratamento especializado. A ideia de gravar o vídeo foi para ajudar subsidiar a inclusão do caso dela, muito complexo na questão de ortodontia, em um estudo científico e, assim, tentar resolver o problema com menor custo.
O estudo científico acabou não acontecendo, já a postagem nas redes sociais emocionou milhares de pessoas. “O vídeo chegou muito longe. As pessoas se comoveram, perguntaram como poderiam ajudar financeiramente, pedindo a chave PIX, fazer vaquinha, querendo saber como eu estava emocionalmente e tudo mais”, lembra a garota.
À primeira vista, o comprometimento no rosto da jovem chama a atenção pela estética e é inevitável pensar o que a garota sofreu ao se olhar no espelho.“Os primeiros dias foram de maior dificuldade por conta da estética, realmente; além das dores, dos remédios fortes que faziam mal (antibióticos) e também muito sangramento. Esses foram mais difíceis”, ressalta.
A angústia deu espaço à tranquilidade com o apoio da família, dos amigos e de uma rede solidária criada para viabilizar o tratamento ortodôntico. “Quando eu tive a certeza que teria um bom tratamento, que teria ao meu lado pessoas muito cuidadosas, que me acolhiam, não senti mais diferença. Como adolescente, eu mesma me surpreendi porque a estética passou a ser o menor problema pra mim. O que importa é quem eu sou. Não mudei interiormente, mudei pra melhor para ver o mundo de uma forma diferente e sempre levei isso e tenho levado de uma forma bem tranquila”, garante.
Questionada sobre a diferença na sua forma de ver o mundo a partir do acidente, a adolescente que foi adotada aos 5 anos de idade, demonstrou muita maturidade para os seus 16 anos, recém completados neste mês. “Eu precisei ver o acidente de perspectivas diferentes, de pessoas diferentes. No momento em que eu me importava só com a minha visão, eu ficava muito preocupada. Foi traumatizante. Mas, no momento em que comecei a ver com os olhos de outras pessoas a situação, fiquei mais tranquila e vi que tudo tem um propósito, realmente”, assegura.

UM OUTRO OLHAR
Sempre se pode tirar algo de bom de fatos e ações complicadas na vida. O trauma provocado pelo acidente acabou aproximando mais Nathielly de algumas pessoas da família. “Eu tive mais contato com minhas primas mais velhas que me apresentaram perspectivas da família de que já viviam batalhas difíceis. Coisas que, antes do acidente, eu não via sob esta perspectiva”, constata.
Segundo a jovem, houve um trabalho de conscientização para entender que muita gente passa por situações tão difíceis quanto a dela e que nem por isso a vida estacionou. “Comigo não poderia ser diferente. O que me aconteceu não vai voltar atrás e a forma de seguir em frente é ver o lado bom de tudo isso”, reconhece.
Por fim, ao encarar com mais leveza o que passou, também serviu de exemplo para outras pessoas com histórias de vida difícil e que não sabiam por onde começar. “Eu conversei com duas pessoas, falei da minha experiência e espero que um dia elas também possam ver o lado bom da vida delas”, diz Nathielly.
EXERCÍCIO DA FÉ
A força e superação demonstrada pela adolescente tão elogiadas pelo público nas redes sociais são fruto da fé. “O momento de maior desespero não foi nem no da queda, mas da cirurgia que eu tive que realizar no mesmo dia. O que me tranquilizou foi ver uma imagem de Nossa Senhora no consultório. Aí, eu fechei os olhos, não quis ver o procedimento e fui levando com calma todo o resto”, afirma.
Neste contexto, a atitude diante da adversidade da vida para esta garota de 16 anos também é bem diferente para a faixa etária: “Para muitas pessoas a força seria o apanhar e não cair. Para mim, a força é você apanhar, cair, sangrar, chorar, mas, sabendo que em algum momento você vai precisar levantar e ajudar outras pessoas por motivos iguais, semelhantes ou diferentes. Nesse sentido, eu tinha me perguntado se a força seria uma necessidade ou uma escolha de cada pessoa”, expôs reflexiva.

A filha adotiva do casal Geraldo e Douglair de Fátima (Tuca) Bernardo, revela sua maturidade precoce ao concluir o que considera ser forte. “Eu cheguei à conclusão de que força é resultado de duas coisas – a necessidade e escolha . Todos nós nascemos fortes e o ciclo de cair, levantar e ajudar outras pessoas é uma necessidade. A escolha de cair e levantar é somente sua”, pontua. E conclui: “muitas pessoas não têm o apoio que eu estou tendo, esta certeza de que tudo vai dar certo. Mas quando você começa a acreditar e cria pelo menos uma situação em que tudo já deu certo, ser positivo mesmo que a situação seja quase inacreditável, ajuda bastante”, diz confiante.
A REABILITAÇÃO ODONTOLÓGICA
A relação entre Nathielly e o especialista da Clínica de Prevenção e Reabilitação Odontológica Inplancare, Norberto Nesello, é uma “providência divina” em toda esta história. A garota chegou à clínica indicada por uma cliente, depois de ter passado pelo atendimento emergencial, no dia 14 de janeiro deste ano, e constatado traumatismo causado por queda da própria altura. “A adolescente, teve além de escoriações, um grande inchaço no lado direito do rosto e ainda perdeu os três dentes anteriores e sua estrutura de suporte óssea e gengival”, resume Nesello sobre o quadro clínico na época do acidente.

Norberto Nesello explicou ao O Londrinense que, como os ossos sofreram fraturas, entre as ações previstas está um enxerto ósseo na área afetada. Todos os exames para diagnóstico e para entender o momento ideal de realizar cada interferência já foram feitos respeitando o crescimento da Nathielly. “Assumimos a responsabilidade sobre o caso e realizamos as pontes para captar os recursos de materiais para enxerto e reabilitação completa. Além da Inplancare Odontologia de Alto Padrão, as empresas Radiotech, clínica de radiologia e imagens odontológicas, Plenum Bioengenharia, implantes e biomateriais, integram esta parceria para devolver o sorriso para a jovem. Contamos também com a ajuda do médico anestesiologista Hussein Fayez Mohanna que também vai desempenhar um papel importante para limitar danos de todas as formas possíveis ao longo do tratamento”, garante Nesello
A previsão dos especialistas é que todo o processo pode demorar até 36 meses, dependendo da adaptação do organismo da garota. “Com a graça de Deus e a generosidade de todos os envolvidos, caminhamos para, no período entre dois a três anos, finalizar a reabilitação e devolver o melhor sorriso possível para esta menina que ensina a cada dia como exercer o perdão e a ressignificação. Um verdadeiro anjo que foi enviado para que possamos melhorar como pessoas”, considera Nesello.

ACOLHIDA AO 5 ANOS
Talvez, o início da história da vida da Nathielly possa explicar tudo o que ela expressa hoje em ações que estão muito acima da realidade para a pessoa na idade dela. Em 2007, com apenas 9 meses, depois de uma denúncia ao Conselho Tutelar de Londrina, de abandono por parte dos pais biológicos que a deixavam sozinha em casa, ela foi encaminhada para o orfanato Casa de Maria.
A reintegração à família, uma das possibilidades nestes casos, não aconteceu. Os pais biológicos não procuraram mais pela filha no orfanato e perderam a guarda da menina quando ela já tinha quatro anos de idade. Neste meio tempo, Tuca, que era funcionária da Casa de Maria, cuidou de Nathielly desde quando ela chegou no orfanato e criou amor pela criança. Esperta e comunicativa, a pequena Nathielly pedia para ser adotada pela funcionária e, assim que a justiça liberou a menina para adoção, Tuca entrou com o pedido de guarda provisória em agosto de 2012 e, depois, adoção final. “Nossa filha tem todo o amor do mundo e estamos aqui ao lado dela para vencer todas as batalhas. Graças a Deus, uma corrente do bem se formou em torno dela para que volte a sorrir e continuar nos alegrando cada dia mais”, constata a mãe que Nathielly escolheu.
Confira a entrevista na íntegra concedida ao O Londrinense em parceria com o PodSuzi. Edição Adna Souza Digital
Uma resposta
Nathi é uma menina de muita luz e fé que vai fazer a diferença para a juventude com quem convive! Um exemplo!!