Perguntas mais frequentes estão sendo respondidas na redes sociais com o desafio de combater a desinformação
Agência UEL
Bebida alcoólica corta efeito do remédio? Pode tomar o remédio só uma vez? O uso contínuo leva à perda do efeito no organismo? Essas são algumas das perguntas mais recebidas nas redes sociais do projeto Informações sobre Medicamentos, iniciado em agosto de 2020 – por integrantes do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Estadual de Londrina (UEL). As dúvidas mais frequentes se transformam em conteúdos que são publicados, com linguagem simples e acessível, para orientar a população sobre prevenção de doenças, promoção da saúde e utilização correta de medicamentos.
Temas como asma, diabetes, fibromialgia, anabolizantes, anti-hipertensivo, entre outros, já foram publicados até o momento. O material é elaborado também a partir de dúvidas recebidas no balcão de atendimento da Farmácia Universitária, ou com base em datas comemorativas do calendário do Ministério da Saúde. A última publicação, feita em maio, por exemplo, foi sobre o risco de medicamentos na gravidez, devido ao Dia Nacional da Redução da Mortalidade Materna.
Como explica a coordenadora Joice Cruciol, professora do Departamento de Ciências Farmacêuticas, do CCS, o desafio é combater a desinformação e ainda falar do medicamento sem induzir ao uso indiscriminado. Por isso, são disponibilizadas informações com base em pesquisas, mostrando a indicação do remédio, como age no organismo. Outra ação importante visa alertar o público para a importância da avaliação dos sintomas por um profissional da saúde antes da automedicação.
Uso correto de medicamentos
As pesquisas e os projetos desenvolvidos por Joice se baseiam no princípio do Uso Racional de Medicamentos, conceito que renasceu em 1988, com a Organização Mundial da Saúde (OMS), e chegou de forma mais intensa no Brasil a partir de 2002. Este princípio pode ser popularmente interpretado como “uso correto de medicamentos”, que envolve cinco parâmetros. Conforme explica a professora, “utilização do medicamento quando há necessidade clínica, para aquele paciente específico, na quantidade correta, pelo tempo correto e com o custo acessível”.
Um dos pontos de atenção sobre o uso correto é a medicação por conta própria. Estudos epidemiológicos indicam que 50 a 60% da população mundial faz automedicação. “Nós sabemos que vai acontecer, que as pessoas vão usar medicamentos por conta própria, então é importante que sejam utilizados para obter os melhores efeitos”, afirma.
O grande problema é quando essa utilização do medicamento parte da indicação de algum amigo, parente, vizinho – sem conhecimento específico sobre o assunto – ou pelas falsas informações veiculadas nas redes sociais. Esse uso indiscriminado e sem conhecimento pode levar à efeitos colaterais ou mesmo intoxicações devido à inadequação do produto ao caso. Por este motivo, ela defende a participação do profissional da saúde – especialista no assunto – para seleção do medicamento antes de ser utilizado.
Adaptação
Joice Cruciol coordena dois projetos de ensino complementar, um sobre consultório farmacêutico e outro sobre discussão de casos, realizados até então na Farmácia Universitária. Foi para se adequar à pandemia da Covid-19 e possibilitar a continuação das atividades, que as discussões e os estudos de caso foram levados para as redes sociais.
O projeto tem participação de estagiários do curso de Farmácia, que fazem a produção do material, além de professores consultores do Departamento de Ciências Farmacêuticas, que auxiliam na definição dos temas e supervisão do conteúdo elaborado.
Todo o material produzido pode ser acessado nas redes sociais do projeto Informações sobre Medicamentos e @infomedicamentos2020.
Principais dúvidas respondidas
A professora Joice Cruciol, que além de farmacêutica é doutora em Medicina, responde às perguntas feitas no início da matéria, e que são consideradas as dúvidas mais recebidas nas redes sociais do projeto.
Pode tomar o medicamento somente uma vez?
Professora Joice Cruciol – Sim. Há casos específicos em que se pode utilizar o medicamento uma única vez ou ser prescrito na forma “se necessário”. Um exemplo seria uma dor de cabeça por tensão ou excesso de trabalho ou estudo, mas é necessário que um profissional da saúde avalie outros parâmetros, para saber se aquela dor de cabeça não significa um problema mais grave, principalmente se essa dor de cabeça é recorrente.
Há outros casos de dor que são inflamações, como por exemplo, torções de tornozelo, comuns no desempenho de atividades esportivas, que configuram casos de tratamento com quantidades definidas e por duração determinada de fármacos e que devem ser prescritas por um profissional da saúde habilitado a prescrever, seja o médico e, em alguns casos, o farmacêutico. Nestes casos, o uso de uma única dose pode ser prejudicial, porque não trata adequadamente o problema da inflamação e ele pode se tornar crônico, necessitando de terapêuticas mais agressivas no futuro, como cirurgias, por exemplo.
Se usar um remédio por muito tempo, ele para de fazer efeito?
Professora Joice Cruciol – Depende do medicamento. A grande maioria manterá seus efeitos constantes ao longo do tempo. Medicamentos para as doenças crônicas mais prevalentes, como hipertensão, diabetes, asma, dislipidemia mostram ação contínua e melhor se o paciente utilizar todos os dias, preferencialmente no mesmo horário. Por outro lado, alguns medicamentos de ação no Sistema Nervoso Central, como os hipnossedativos (soníferos) e anticonvulsivantes, por exemplo, precisam ter suas doses ajustadas após algum tempo de uso contínuo, mostrando novamente a importância do profissional avaliar o paciente periodicamente.
Bebida alcoólica corta o efeito do medicamento?
Professora Joice Cruciol – Sim. As bebidas alcoólicas podem tanto diminuir o efeito do medicamento, quanto aumentar. Isso ocorre porque o álcool tem efeitos diferentes dependendo do(s) medicamento(s) em uso e também das quantidades de álcool ingeridas. Há medicamentos que serão potencializados, ou seja, terão efeito maior do que o esperado; já outros que perderão o efeito. Como saber? O farmacêutico é o profissional mais capacitado para fazer essa avaliação. E um dos problemas que notamos é que muitas vezes o paciente deixa de tomar o medicamento de uso contínuo para tomar uma cerveja no final de semana. Essa oscilação na maneira como a pessoa conduz seu tratamento medicamentoso passa a ser fator importante para picos hipertensivos e internamentos evitáveis, por exemplo. O melhor é pedir auxílio para um farmacêutico avaliar os medicamentos que estão em uso e obter orientação adequada caso a caso.
Perguntas e pedidos de orientações podem ser enviadas na rede social do projeto Informações sobre Medicamentos; ou podem ser respondidas no balcão da Farmácia Universitária, tanto pela professora Joice Cruciol, como por outros professores e farmacêuticos que atuam na área.
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