Estudo já rendeu 110 trabalhos científicos e a formação de quase 90 profissionais especializados na área de solos
Agência UEL
Com uma trajetória de mais de 30 anos atuando junto ao Departamento de Agronomia (CCA) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), com foco em estudos sobre a física, manejo e conservação de solos, o professor João Tavares Filho assistiu às modificações ocorridas nas últimas décadas na agricultura paranaense e no país, marcada por números sempre superlativos. A produção de grãos no Brasil (ciclo 2022/23) está estimada em 312,5 milhões de toneladas, um acréscimo de 40 milhões de toneladas em relação à safra passada, o que representa uma alta de 15%. Os dados foram divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em abril.
Hoje, o setor agrícola representa um quarto do PIB nacional. Somente a produção de grãos responde por um quinto de todos os empregos e por mais de 40% das exportações brasileiras, chegando perto da casa dos US$ 100 bilhões. Dentro deste contexto, o projeto coordenado pelo professor João Tavares Filho, “Qualidade Física de Solos sob diferentes manejos agrícolas”, ganha relevância por avaliar a qualidade e sugerir soluções para uma das terras mais valorizadas do território nacional.
Os solos da região são chamados de Latossolos Vermelhos, reconhecidos como apropriados à produção agrícola porque demandam menor investimento para obterem altas médias de produtividade. Entre as características está a coloração avermelhada e a textura argilosa. A terra vermelha ocupa 32% da área territorial do estado e responde por 7,2% da produção brasileira. Essa capacidade de produção impulsionou o desenvolvimento de Londrina e região, que abrigou a cultura cafeeira nas décadas de 30 a 70 – posteriormente substituída pelas lavouras de soja, milho e trigo.
O professor lembra que a terra vermelha foi submetida inicialmente ao preparo tradicional que contempla aração, gradeação e semeadura. Esse processo convencional vigorou na região até praticamente o final da década de 1980, quando começou a ser difundido o chamado plantio direto na palha. Segundo o pesquisador essa mudança ocorreu porque as propriedades rurais começaram a registrar intensa erosão, com consequente perda de solo. Foi necessária a intervenção do governo estadual, que colocou em prática um programa de recuperação do solo paranaense, envolvendo universidades e institutos de pesquisas, entre eles o antigo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), atual Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR).
Foi nessa época que começaram as primeiras experiências do chamado Sistema de Semeadura Direta. De acordo com o professor, infelizmente, com o passar dos anos, os produtores deixaram de usar a rotação de cultura, fundamental para a manutenção e conservação dos nutrientes, para literalmente manter a terra viva. Dentre outros fatores, isso colaborou com a volta do problema da erosão e do desgaste do solo. “É como se você não deixasse o solo respirar”, compara o professor.
Compactação
Prática comum na agricultura moderna, produtores fazem o plantio utilizando máquinas cada vez maiores e mais pesadas de plantio direto, que acabam causando compactação do solo. Consequência disso é que não raro os agricultores necessitam utilizar implementos para escarificação do solo e, às vezes, grade aradora.
Para o professor, esta prática necessita ser melhor avaliada, considerando mais do que resultados numéricos. Como o investimento para recuperação de áreas inteiras de plantio demanda altos custos, o ideal seria o agricultor visualizar a relação custo-benefício. “É uma conta lógica que implica em gastar menos para produzir melhor e não somente quanto se pode colher ao final da safra”, compara. A contabilidade prevê menor demanda por adubo e defensivos, com a vantagem de obter os resultados gastando menos para produzir melhor.
O projeto do professor conta com apoio do CNPq e já rendeu 110 trabalhos científicos e a formação de quase 90 profissionais especializados na área de solos, que fizeram pós-doutorado, doutorado, mestrado, graduação e também iniciação científica.
Carbono no solo
Atualmente, o professor João Tavares tem se debruçado em estudos de retenção de carbono no solo, que reduz a liberação do gás na atmosfera, diminuindo a formação de gases de efeito estufa.
Pesquisadores sustentam que o solo é o maior reservatório de carbono na natureza. Por isso, o estudo de seus atributos físicos é importante para entender e reduzir o impacto das constantes mudanças climáticas. Mais uma demonstração de que o uso da tecnologia pode ajudar na qualidade de vida e na sustentabilidade nesse momento em que o Brasil é desafiado a aumentar a produção de alimentos diante da escassez de áreas para expansão da agricultura.
Foto: Tom Fisk/Pexels