Primeiro grupo exclusivamente feminino busca o acolhimento para que elas possam falar sem se sentirem constrangidas
Telma Elorza
O LONDRINENSE
A psiquiatra Alessandra Diehl e a psicóloga Simone Oliani fazem palestra sobre Alcoolismo Feminino, na próxima terça-feira (7), às 19h30, no primeiro grupo dos Alcoólicos Anônimos (AA) voltado exclusivamente para mulheres, em Londrina. A palestra pretende trazer informações sobre a doença do alcoolismo, as diferenças entre alcoolismo feminino e masculino, e as possibilidades de tratamento para os alcoolistas e seus familiares. Será realizada na Paróquia Coração de Maria (Av. Higienópolis, 1073), aberta à toda comunidade.
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Segundo a psicóloga Simone Oliane, que é profissional amiga do AA, o grupo de Londrina voltado exclusivamente para mulheres se baseia em uma pesquisa que identificou que elas tem mais benefícios se podem falar de suas vulnerabilidades em um ambiente exclusivamente feminino. “O estudo, conduzido por pesquisadores da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), foi publicado na revista Drug and Alcohol Review. E elas relatam sentirem-se mais acolhidas e menos expostas do que em um grupo misto”, aponta.
Simone diz que o programa terapêutico do AA se baseia no compartilhamento de experiências e de vivências. “Nas reuniões mistas, muitas vezes elas têm dificuldade para expor questões pessoais e íntimas, que poderiam envolver, por exemplo, a questão da sexualidade ou afetiva. Muitas mulheres referem sentirem-se constrangidas por conta do preconceito que há na sociedade. Algumas acabam abandonando o tratamento por sentirem-se mais vulneráveis. Mesmo que sofram do alcoolismo como os homens, as mulheres são mais estigmatizadas e vistas com um viés moral na sociedade como um todo”, explica.
Alcoolismo feminino
A psiquiatra Alessandra Diehl, que também é presidente da Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Drogas (ABEAD), diz que a palestra é extramente oportuna, já que o aumento de consumo de álcool por meninas, entre 12 e 13 anos, é alarmante. “Elas estão bebendo muito antes do que os meninos, ainda no ensino fundamental. E quanto mais precoce a experimentação, mais chance de desenvolver problemas graves como o alcoolismo”, afirma.
Segundo ela, biologicamente as mulheres são mais vulneráveis e mais afetadas pelo álcool. “Além disso, as mulheres em idade fértil e na gestação desenvolvem a síndrome alcoólica fetal, que é muito grave, porque a mãe vai gerar um bebê com baixo peso ao nascer, com retardo mental, com dificuldade de caminhar e falar”, enumera a psiquiatra.
Simone diz que, nos últimos anos, principalmente pós-pandemia, aumentaram muito os diagnósticos de alcoolismo no público feminino. “As mulheres, antes, demoravam para pedir ajuda e viviam seu sofrimento em solidão. No máximo, pediam ajuda para quadros como depressão e ansiedade. Que muitas vezes vinham mascarados com transtornos por uso de álcool. Hoje temos visto um aumento de mulheres pedindo e buscando ajuda de forma significativa”, diz.
A psicóloga afirma que as mulheres encontram, no grupo feminino, o acolhimento que precisam em sua jornada. “Elas encontrarão outras mulheres que vivem os mesmo sofrimentos e que encontraram, no programa de 12 passos do AA, a possibilidade de viver uma vida sóbria e com sentido, com coragem e sobriedade. Para isso, basta ter a disposição de rever seu comportamento de beber. Não há taxas para ser membro. O sigilo e o anonimato é orientado”, explica.
Sobre o A.A
ALCOÓLICOS ANÔNIMOS® é uma Irmandade de pessoas que compartilham, entre si, suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolverem seu problema comum e ajudarem outras a se recuperarem do alcoolismo. O único requisito para ser membro é o desejo de parar de beber. Para ser membro de A.A., não há taxas ou mensalidades.
A.A. não está ligado a nenhuma seita ou religião, nenhum movimento político, nenhuma organização ou instituição; não deseja entrar em qualquer controvérsia; não apoia nem combate quaisquer causas.
O propósito primordial é mantermo-nos sóbrios e ajudarmos outros alcoólicos a alcançarem a sobriedade.