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O reencontro com o verdadeiro teatro

O espetáculo “Olhos nos Olhos”, do Boca de Baco, traz de volta a magia teatral para os londrinenses

Telma Elorza

O LONDRINENSE

Não sou crítica de teatro. Não tenho conhecimentos suficientes para isso. Mas sei do que gosto. Sei quando o espetáculo mexe comigo, me emociona, me faz sentir eletrizada e presa no momento. Sei distinguir quando os atores colocam a alma naquilo que estão fazendo. Sei quando o texto é bom, compreensível, envolvente. E me senti toda assim, na sexta-feira (20), à noite, quando fui assistir “Olhos nos Olhos”, do grupo Boca de Baco, na Usina Cultural. Depois de dois anos de um deserto cultural, o grupo traz de volta à Londrina o nível de espetáculo que a cidade merece, que tem tradição de apresentar. Me emocionei, saí do teatro feliz. E quero que, quem não teve a oportunidade de assistir, vá hoje (21) ou amanhã (22), quando termina essa temporada. Não perca.

A história é envolvente e autobiográfica. Narra o reencontro de velhos amigos, integrantes de um grupo teatral, numa festa organizada por um deles, em um velho teatro. Só que a festa é uma catarse, onde uma notícia incontornável será revelada. Tentam romper o constrangimento do reencontro, entre taças de vinho e memórias. Nessas memórias, conduzidas pelo mítico profeta grego cego Tirésias, atravessam a jornada de figuras como Narciso, Édipo, Antígona, Odisseu e Baco. As reflexões sobre o mito foram base para os participantes da festa recontarem suas próprias histórias de vida. Emocionante, bem costurado, o texto fala da realidade de cada um – baseada na vivência real dos atores – , no período que estiveram separados.

Criado há mais de 30 anos, o grupo Boca de Baco traz para cena os atores Beto Passini, Nivaldo Lino, Jackeline Seglin, Reinaldo C. Zanardi, Fátima Carreri, Silvia França e Antonio Jr. e, em um contexto de sombras, eles relembram histórias e tentam inventar um novo presente. Como recomeçar depois da grande tragédia pessoal e coletiva? Como encontrar algum sentido heroico na nossa vida cotidiana e frágil? Os atores deram o melhor de si. E conquistaram a atenção da plateia. Eu mesma mal respirava.

Quero deixar registrado minhas sinceras felicitações ao jornalista, escritor e dramaturgo Renato Forin Jr, ao diretor paulista Luiz Valcazaras, e ao Luciano Bitencourt, um dos fundadores do grupo e fundamental na realização da peça, que foi criada a partir de sua idealização e pesquisa.  “Olhos nos Olhos” tem ainda trilha sonora original do músico Tonho Costa, cenário de Júlio Vida e figurinos de Gustavo Neves. Toda a equipe reúne cerca de 30 pessoas, entre produtores, técnicos e artistas de Londrina. A pesquisa e o processo de criação de texto e montagem do espetáculo demandaram mais de dois anos e meio de trabalho coletivo do grupo, entre encontros virtuais e presenciais.

A temporada encerra neste domingo, às 20 horas. Os ingressos antecipados podem ser adquiridos por R$20 (mais taxa) pelo Sympla. Na hora, o valor é R$40. Classificação indicativa é 16 anos. A lotação do espaço será reduzida e o uso de máscara é solicitado ao público.

Boca 30 e Uns

Criado no início da década de 1990, em Londrina, por bancárias, bancários e estudantes da UEL, o Boca de Baco chegou aos 30 anos a bordo de um projeto de memória e muitas histórias. “Boca de Baco 30 e Uns” traz as marcas do tempo presente: a pandemia do Coronavírus, a crise agônica pela qual passa o país e as transformações culturais e tecnológicas vividas no mundo. “Olhos nos Olhos” é a 13ª montagem do grupo, que em sua trajetória traz encenações marcantes como “O Abajur Lilás” e “Navalha na Carne”, de Plínio Marcos, e “Fando e Lis”, de Fernando Arrabal. O grupo também tem trabalhos com dramaturgia própria, como “Último Inverno”, de Francelino França, e “Balada de Um Poema”, de Marcos Losnak, todos com encenadores convidados.

Serviço:

OLHOS NOS OLHOS

Últimas apresentações: dias 21 e 22 (sábado e domingo), às 20 horas

Local: Usina Cultural (Av. Duque de Caxias, 4159)
Duração: 75 min

Produção: KAN
Patrocínio: Fenae (Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa)

Foto: Fabio Alcover/Divulgação

Apoio institucional: APCEF Londrina e Usina Cultural
Apoio: Hotel Crillon, Pastel Mel, Kery Grill e Barraco da Sopa

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