Por Maurício Chiesa Carvalho
A consultora em liderança e estratégia Jackie Jenkins-Scott discute as diferenças entre abordagens “responsivas” e “sistemáticas” de liderança. Líderes responsivos não impõem seus pontos de vista; eles procuram criar visões compartilhadas. Eles descobrem o que sua organização precisa e trabalham com seus colegas para encontrar pontos em comum. O manual de Jenkins-Scott vai ser muito útil a quem estiver aprendendo ou praticando a liderança responsiva. São 7 ideias fundamentais, além do que, os líderes responsivos conseguem transformar a cultura das suas organizações seguindo práticas “secretas”:
• Segredo 1: “Aproveite as oportunidades”.
• Segredo 2: “Seja um competidor excelente liderando com o coração”.
• Segredo 3: “Deixe as malas prontas.”
• Segredo 4: “Atue com excelência em meio ao risco.”
• Segredo 5: “Aborde os seus opositores.”
• Segredo 6: “Valorize a interconexão das pessoas.”
• Segredo 7: “Recupere-se rapidamente.”
Os estilos de gestão se enquadram em diferentes categorias. Alguns líderes utilizam a “liderança sistemática” porque acreditam que podem alcançar seus objetivos por meio dessa abordagem para tratar de mudanças ou reformas dramáticas. No entanto, prefira uma estratégia melhor para alcançar esses e outros objetivos: a liderança responsiva. Os líderes responsivos se concentram principalmente nas pessoas. Em vez de impor suas opiniões, os líderes responsivos criam uma visão compartilhada. Eles diagnosticam o que a empresa precisa e trabalham com seus colegas para desenvolver uma estratégia comum capaz de atender a essas necessidades.
Os líderes responsivos definem o tipo de comportamento que desejam nas suas empresas. Como outros líderes imitam as suas realizações, os líderes responsivos acabam gerando um efeito cascata. Eles tornam suas culturas corporativas mais responsivas e eficazes, implementando as sete estratégias secretas:
Segredo 1 – Aproveite as oportunidades
Os líderes responsivos selecionam metas e estratégias que funcionam melhor para alcançar as possibilidades futuras. Eles sempre procuram e avaliam caminhos alternativos. Eles exercem quatro atributos de liderança: “curiosidade, humildade, empatia e resiliência”. “Henry Ford percebeu que as pessoas comuns, não apenas as ricas, poderiam e deveriam se beneficiar dos automóveis; ele então produziu em massa o Modelo T.”
O ex-secretário de Estado dos EUA Colin Powell personifica os quatro atributos essenciais de gestão. Embora tenha servido com mérito nas Forças Armadas dos EUA e no governo, ele considera o seu discurso de 2003 nas Nações Unidas justificando a guerra no Iraque durante o governo George W. Bush como uma “mancha” em sua carreira ilustre. A sua capacidade de autojulgamento demonstra que até mesmo os grandes líderes podem errar, indo contra seus valores e padrões importantes quando estão sob pressão.
A escritora Jackie Jenkins-Scott não tinha muita experiência executiva quando começou a trabalhar na antiga Dimock Community Health Center de Boston. Tendo trabalhado na segunda campanha bem-sucedida de Michael Dukakis para o governo de Massachusetts, ela poderia ter permanecido na equipe. No entanto, um conhecido a incentivou a se candidatar a uma posição.
Segredo 2 – Seja um competidor excelente liderando com o coração
Você precisa de mais do que conhecimento e coragem para liderar em tempos difíceis. Você precisa de coração. Os maiores líderes recorrem ao intelecto e às emoções. A sua humildade e empatia vão incentivar você a liderar com o coração. Em um ambiente institucional, a vulnerabilidade fortalece a sua resiliência e curiosidade.
“Procure no dicionário a definição de ‘coração’: um órgão vital e a parte mais central de tudo o que existe.”
A professora de assistência social e escritora bestseller Brené Brown pesquisou extensivamente os benefícios da vulnerabilidade. Ela sugere que a coragem é o núcleo da vulnerabilidade, especialmente a coragem de aceitar uma situação menos que perfeita. A vulnerabilidade dá a você a confiança para construir relacionamentos, mesmo sabendo que eles podem não durar. Ela permite que você se arrisque e lide com as mudanças.
Segredo 3 – Deixe as malas prontas
Mudanças no seu ambiente externo podem prejudicar sua capacidade de agir da melhor maneira e levar você a sair rapidamente da sua função de liderança. No passado, talvez você tenha ajudado a promover mudanças positivas na organização, mas é possível reconhecer hoje certos obstáculos com potencial de impedir o seu funcionamento adequado no futuro. Você pode se sentir pressionado a abandonar ou modificar seus valores. Nesse ponto, mesmo acreditando que todos na empresa adoram a sua liderança, esteja atento a qualquer alteração nas finanças e no poder capazes de alimentar um movimento para derrubar você.
John Oscar Boone Sr. chefiou o sistema penitenciário estadual de Massachusetts. Quando assumiu o cargo, ele se tornou o primeiro afro-americano a liderar um grande sistema penitenciário estadual nos Estados Unidos. Boone achava que, para atuar efetivamente como gerente, você sempre deve estar preparado para sair em pouco tempo. Na verdade, ele atuou como comissário por apenas um breve período. Durante esse período, ele fez grandes esforços para reformar o sistema prisional. Mas, apesar das suas conquistas, Boone perturbou o status quo quando tentou quebrar o poder do clientelismo existente. Ele aprendeu que os líderes responsivos devem permanecer politicamente conscientes.
John Oscar Boone Sr. “afirmou que, para ser eficaz em seu trabalho, mantenha suas malas prontas. Você não pode realizar o seu trabalho quando tem medo de perder o emprego. Se você agir assim, não vai ter a coragem necessária para fazer o que é certo.”
Jim McCormick, autor de Business Lessons from the Edge, explica que os líderes responsivos se comportam com probidade, para que possam cumprir três objetivos cruciais: 1) permanecer fiéis a seus valores; 2) provar que outras pessoas podem confiar em você em uma negociação comercial; e 3) garantir que sua reputação não seja atacada. Ele sugere que você mantenha um equilíbrio mental e emocional e elabore uma lista de questões com as quais você nunca vai se comprometer.
Segredo 4: Atue com excelência em meio ao risco
Ao lançar o iPhone, a mensagem de Steve Jobs era muito clara: a Apple tinha um novo produto que podia vincular seus usuários a outras pessoas e à Internet. Ele criou grande expectativa entre os membros da plateia dizendo que a introdução de um produto inovador pode melhorar o status quo. Ele falou sobre como o lançamento do Macintosh transformou a computação e como o iPod mudou a natureza da indústria da música.
“A vulnerabilidade é o berço da inovação, criatividade e mudança. Criar é produzir algo que nunca existiu antes. Não há nada mais vulnerável do que isso.” – Brené Brown, professora da Universidade de Houston
Jobs revelou que o novo dispositivo da Apple combinaria os atributos do iPod, de um telefone celular e de um browser da Internet. O foco da sua mensagem entusiasmou os seus ouvintes. Em contraste à eficácia de Jobs, o cofundador da Google, Sergey Brin, fez uma grande trapalhada no lançamento do Google Glass. Jobs anunciou algo que a Apple poderia oferecer prontamente. Já Brin falou muito sem oferecer nada de concreto e sem sensibilizar o público.
Reduza o que você pretende dizer em um pensamento significativo. Em seguida, crie uma estratégia de como e onde partilhar essa mensagem. Pode ser necessário repeti-la antes que o público compreenda completamente o que você está dizendo.
Segredo 5: Aborde os seus opositores
Você pode amplificar sua energia aprendendo e compreendendo as preocupações dos seus opositores. Se as pessoas duvidam de você, fornecer argumentos lógicos raramente ajuda. Quem está contra você é mais propenso a responder à emoção.
“Ir atrás da oposição também tem o grande benefício de ajudar a manter os líderes no caminho ético certo. Conduta ética e questões de integridade, justiça e equidade são pontos de debate em muitos ambientes de negócios.”
Os líderes responsivos conversam abertamente com os descontentes e procuram aprender a base do seu descontentamento. Certos tipos de pessoas – incluindo “manipuladores, agressores, fanáticos” ou pessoas social ou profissionalmente néscias – podem lançar mão de ataques emocionalmente venenosos. Embora a emoção nem sempre seja um fator negativo em uma discordância, você deve reconhecer sua presença e avaliar se os seus oponentes estão oferecendo dados imprecisos para expressar sua opinião. A emoção pode gerar notícias falsas, como o movimento mais radical que acusou o ex-presidente Barack Obama de não ser americano de nascimento.
Em um ambiente de trabalho, preencha as lacunas ouvindo todos – inclusive os oponentes – e buscando pontos em comum, como um objetivo ou estratégia compartilhada que transcenda outras diferenças.
Segredo 6: Valorize a interconexão das pessoas
Os líderes alcançam melhores resultados quando usam de consciência e empatia. Por exemplo, uma empresa promoveu um candidato interno subqualificado para uma posição de liderança em detrimento de um candidato claramente mais qualificado que apresentava excesso de peso e parecia menos atraente. A pessoa mais qualificada processou a empresa e foi bem-sucedida. Se os líderes tivessem prestado mais atenção ao mérito, poderiam ter evitado um processo com danos monetários significativos. Esse resultado enfatiza a importância de valorizar as pessoas por seu conhecimento, contribuições e habilidades, sem discriminação. Isto é o que gera “capital social”.
“O tempo é tudo, porque o capital social se combina com o tempo. As equipes que trabalham juntas por mais tempo se aprimoram porque levam o tempo necessário para desenvolver a confiança que promove sinceridade e abertura. É o tempo que cria esse valor.” – Margaret Heffernan, empresária
Segredo 7: Recupere-se rapidamente
Se você deseja correr riscos, aprimore sua capacidade de lidar com contratempos. Para preservar sua flexibilidade e resiliência, aplique o que o consultor de liderança Peter Block chama de “boa mordomia”. Em vez de buscar o controle sobre as pessoas, trabalhe com elas para aprimorar a organização.
Há vários tipos diferentes de líderes; nem todos seguem um conjunto de regras. Muitos líderes acham útil empregar a chamada “regra das 24 horas”, que orienta o gestor a esperar pelo menos um dia antes de se comprometer com uma decisão importante ou antes de se envolver com um sócio com quem não concorda e que provoca respostas emocionais intensas. Esteja preparado para escutar. Lembre-se de que a sua primeira abordagem para um problema pode não ser a melhor.
Artigo baseado na autora: Jackie Jenkins-Scott foi presidente do Dimock Community Health Center por 21 anos e presidente do Wheelock College por 12 anos. Ela fundou a JJS Advising em 2016 para se concentrar no desenvolvimento de lideranças e estratégias organizacionais.

Maurício Chiesa Carvalho
Administrador, Executivo de RH, psicanalista, consultor, docente e escritor. Conselheiro da Academia Europeia de Alta Gestão e um dos RHs mais Admirados do Brasil de 2021. Linkedin mauríciochiesacarvalho
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