Por Maurício Chiesa Carvalho
Sermos francos e verdadeiros, embora sejam consideradas virtudes, torna-se um hábito de vida saudável e já se sabe que é cientificamente comprovado, quando somos sinceros com nós mesmos e com as pessoas ao nosso redor, vivenciamos um bem-estar físico e mental.
Cada vez mais, a relação subjetividade x trabalho tem sido abordada e explorada. Contudo, cada pessoa é uma pessoa. Cada cultura, uma cultura. Cada empresa, uma empresa. Não existe empresa dos sonhos se aquele sonho não for o seu.
Muitas organizações pregam vários cenários no processo de seleção que não condizem com a verdade. Que vão desde oportunidade de crescimento e desenvolvimento a um clima organizacional favorável. E muitas vezes, não é verdade.
Já presenciei organizações em que o colaborador com prestígio, tempo e alta remuneração procurou se desligar da empresa, pelo ambiente, cultura ou chefia tóxica, aceitando inclusive ganhar menos. Também já vi situações em que a opinião da amiga da proprietária tinha mais peso do que o exemplo e argumento do próprio gestor da empresa. Aqui, o EGOsistema de gestão está presente e infelizmente, o ecossistema de gestão padecerá. Quem adoece? Os colaboradores.
Adoecimento este que se agravou neste dois anos de pandemia. Os custos de impacto mental nas pessoas passa de US$1 trilhão no mundo, segundo diversos estudos.
Outro discurso é os utilizados de “retenção de talentos”. Termo clichê, tanto pela palavra talento quanto retenção. As pessoas engajam por propósito e se mantem por significado, sentimento de pertença e confiança.
A confiança gera credibilidade e permite uma cultura de segurança psicológica. E tudo por meio do respeito e atenção. Ser verdadeiro. E franco.
A falta da franqueza bloqueia as ideias inteligentes, retarda as ações rápidas, prejudica a formação da maturidade pessoal e profissional e impede que as pessoas capazes contribuam com todo o seu potencial. É algo devastador”. As pessoas não falam o que pensam e não entram nos debates com medo de ofender os outros e/ou evitar conflitos, criam-se barreiras gigantescas, acabam engolindo seus comentários e críticas, ficando de boca fechada, além de adoçarem as más notícias. Para manter as aparências, reprimem seus sentimentos e ideias e guardam para si mesmos, o que pode ser muito danoso à necessidade da organização.
Por que acabamos não sendo francos?
São diversos fatores que vão desde a educação e o capital sociorrelacional desde a infância, medo de feridas, de irritar as pessoas, zona de conforto, querer agradar e não magoar e até mesmo nossa escola e negócio que, às vezes, não é direcionada a sermos francos, e sim “políticos”.
A pergunta que fica é: Quem ama, fala a verdade? Quanto vale ouvir o que você precisa melhorar ao invés de ouvir o que já sabemos que estamos bem?
De acordo com Nancy Bauer, professora de filosofia da Tuffs University, as pessoas acabam não dizendo o que realmente pensam, ou opinam com franqueza sobre alguma situação porque se torna mais fácil agir assim. Quando se é totalmente franco, é muito provável que isso resulte em uma situação constrangedora – raiva, dor, confusão, tristeza, ressentimento. E piora quando se tenta consertar a situação. As pessoas têm receio em ser totalmente francas, o que disserem pode não ser bom e são fortes as chances de ela ser isolada ou boicotada pela equipe. Mas o que não percebem é que a falta de franqueza é uma forma de alienação e omissão, acrescenta o filósofo Immanuel Kant.
Estão, entre os benefícios da franqueza, o desbloqueio de ideias, aumenta a velocidade das ideias inteligentes, desenvolve maturidade, sentimento de segurança e credibilidade, aumenta a confiança, reduz mecanismos de fuga, defesa/ataque, as relações são pautadas em dados concretos, fatos e argumentos reais e não achismos, objetividade na resolução de problemas redução de conflitos, prejuízos e custos.
Perdeu-se, por meio de modismos ou necessidade mercadológica organizacional, a habilidade de exercemos a franqueza. Nos posicionar. Sermos sinceros. Por necessidade de defesa, jogam-se “jogos psicológicos” que nos fazem transitar entre perseguidor, vítima e vilão, num processo inconsciente defesa-ataque. A pergunta é: Por quê?
Como gestor e administrador, profissional ou até mesmo como pessoa, recomendo: “pague pelo preço da franqueza, que virará investimento em credibilidade do que ficar devendo para omissão”. Por fim, faça a seguinte pergunta: E se fosse comigo?
Por fim, sejamos franco: até onde falamos realmente a verdade? Até onde lidamos com os fatos a nós postos e traçamos estratégias? Negamos a verdade? Ou, de certa maneira, vivemos em um estado de realidade, negando os fatos.
Como se diz: a verdade pode machucar, mas nos liberta. Liberta para?
Ai, é com você leitor: o que te prende? Ótima semana!

Maurício Chiesa Carvalho
Administrador, Executivo de RH, psicanalista, consultor, docente e escritor. Conselheiro da Academia Europeia de Alta Gestão e um dos RHs mais Admirados do Brasil de 2021. Linkedin mauríciochiesacarvalho
Foto: Pexels
1 comentário
Falar a verdade e ser sincera é a maneira que estou lidando pra acabar com meus medos de enfrentar os obstáculos encontrado, embora acredito que o encher o saco e agradar os que o convém parece ser o mais coerente nos padrões atuais.
Neste contexto, procuro falar a verdade e seguir os meus preceitos, não vou na conversa dos outros e procuro ficar com a cabeça erguida e alma limpa. Falar a verdade, doa quem doer.