Pesquisa desenvolvida por professor de Economia da UEL demonstram a falta de responsabilidade ambiental geram efeitos negativos na economia
Agência UEL
Com foco no impacto ecológico das atividades econômicas, o estudo “Estrutura produtiva do Paraná: setores-chave, mercado de trabalho e meio ambiente”, desenvolvido pelo professor Umberto Antônio Sesso Filho, do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) demonstrou, entre outros pontos, que a pressão antrópica (humana) foi visível em muitos municípios do estado, no período à partir de 2016. O número crescente de automóveis em circulação e a perda de água, seja para consumo doméstico ou atividades produtivas, foram alguns dos fatores com efeitos negativos na economia.
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O estudo foi encerrado oficialmente em agosto deste ano. Com recursos da Fundação Araucária, o projeto de pesquisa foi estendido em decorrência da pandemia, que acabou se tornando também um pesado fator para a própria pesquisa, uma vez que a economia foi diretamente afetada pelas políticas de isolamento, entre 2020 e 2022. O projeto se baseou em fontes como o Ministério do Trabalho, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), entre outras.
Os aspectos negativos não passaram despercebidos pelo governo estadual, que ainda em 2020 criou um Grupo de Trabalho para analisar o cenário e propor estratégias para a recuperação da economia paranaense pós-pandemia. Por outro lado, as restrições impulsionaram o governo e outras organizações a investir em sustentabilidade, o que colaborou para obter o selo ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), da Organização das Nações Unidas (ONU), como foi o caso da UEL, entre outras instituições.
O efeito negativo na economia pode reverberar por uma grande parcela do mercado. Um exemplo está no turismo. Sem turistas, deixaram de gerar receita os hotéis, restaurantes, comércio, transportes, agências de viagem, companhias aéreas, prefeituras (taxas e impostos). Todos estes tinham funcionários, fornecedores, despesas de manutenção… enfim, foi grande a redução na geração de renda e no índice de emprego. Umberto Sesso informa que os setores que mais sofreram foram o de alimentos, construção civil, agropecuária e químico.
Quanto ao meio ambiente, a pesquisa sobre a estrutura produtiva leva muito a sério pelo menos dois fatores: o consumo de energia e de água para produção. O primeiro está associado à emissão de carbono, o que é uma preocupação ecológica. Mas nisso o estado não está mal, se comparado, por exemplo, a estados da região Sudeste que fazem extração mineral – eis aí uma atividade extremamente poluente. Quanto à água, o Paraná tem muita, e não desenvolve atividades das mais poluidoras. De fato, a água é o foco do próximo projeto do pesquisador.
Modelo de Desenvolvimento Econômico
De acordo com o professor, os dados auxiliam na elaboração ou aperfeiçoamento de um modelo de desenvolvimento que leve em consideração todos estes e outros fatores. Por exemplo, a tecnologia – uma valiosa aliada. Ela pode contribuir tanto no desenvolvimento de um produto (como um alimento saudável, um medicamento eficaz, um material de construção mais resistente) quanto, via de consequência, na expansão de mercado deste produto.
A sustentabilidade é outra conditio sine qua non para a boa economia. “A responsabilidade ambiental é um pré-requisito”, afirma Umberto Sesso. Ele lembra que o Paraná, comparativamente, não sofre tanto com desmatamento, embora o problema ainda exista.
Também há muito o que melhorar ainda quando o assunto é reciclagem. Contudo, um fator positivo no estado são as cooperativas, forte fator econômico. Um ranking internacional (World Cooperative Monitor), divulgado em agosto, colocou 11 cooperativas paranaenses do agro entre as melhores do mundo.
Ao lado da preocupação ambiental, o pesquisador cita o respeito aos direitos trabalhistas e as políticas de geração de emprego e renda.
Regiões
Ao observar as regiões do estado, diferenças de desenvolvimento são percebidas. O projeto colocou os dados em diversos mapas. A região menos desenvolvida, com o menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano”, que leva em conta fatores como economia, saúde e educação), é o Vale do Ribeira, ao norte de Curitiba, chegando até o estado de São Paulo.
A queda do IDH leva à queda de população. O que os números têm mostrado é que os municípios menores encolhem; os médios crescem mais que a capital; e os grandes ainda têm possibilidade de crescer. Os mapas constataram um aumento populacional na região metropolitana de Curitiba e no entorno de cidades como Londrina, Cascavel e Foz do Iguaçu. Já a região central do estado perdeu habitantes.
De outro lado, pensando no Paraná inserido em uma região, o que historicamente havia era o estado vendendo bens in natura e comprando-os de volta manufaturados (industrializados). Isso está mudando, pelo menos em alguns setores, como a produção de óleo e farelo. Implantar indústrias transformadoras no estado significa não apenas independência e economia de gastos, mas também, e principalmente, geração de novos empregos e renda. Afinal, a agropecuária é forte, mas consome mais insumo do que gera empregos.
Quanto ao setor de serviços, ele emprega mais que a indústria. Porém, o professor Umberto defende que poderia desenvolver ainda mais. Ele lembra que os serviços estão concentrados na capital do estado e que no interior há muito potencial não ou mal aproveitado. Um exemplo: Londrina é uma cidade forte em saúde e educação (que também sofreram com a pandemia), mas deixa muito a desejar quando o assunto é turismo.
Além disso, uma discussão que voltou à tona é a reindustrialização do país, ou seja, a retomada e fortalecimento da produção industrial, sustentável, para que pese ainda mais no desenvolvimento econômico. O vice-presidente do Brasil e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alkmin, anunciou que vai concentrar esforços para isso, assim que assumiu a pasta, em janeiro passado.