O dilema dos editais de arte e sua teia burocrática na economia criativa

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Por Edra Moraes

Ah, como é complexo este caminho que nós escolhemos trilhar para produzir nossa arte. Entre a paixão e a sobrevivência, vivendo em um país onde líderes “pregam” contra a arte e a cultura, encontramos nos editais um possível financiamento e reconhecimento. No entanto, o que parece ser uma trilha iluminada, muitas vezes se transforma em um labirinto de desafios, impondo “paradoxos” que dilaceram a alma criativa. Os editais devem ser parte do investimento feito em economia criativa, mas não o único.

Num primeiro momento, os editais parecem ser como pontes que conectam artistas/produtores culturais e recursos, prometendo viabilizar projetos que, de outra forma, minguariam, o famoso investimento estatal em “economia criativa”. Contudo, ao atravessarmos essas pontes, percebemos que cada passo dado implica um pacto com a burocracia e, por vezes, com a desumanização do processo criativo.

Vivendo sobre este fio da navalha há pelo menos 10 anos, onde a promessa de financiamento é entrelaçada com uma rede de requisitos, muitos dos quais parecem destoar da essência do meu próprio trabalho artístico, eu tento ser lógica e superar. Os editais demandam comprometimento, mas esse comprometimento muitas vezes se desloca da obra em si para atender a critérios que só atendem a burocratas, não são lógicos e não têm relação com o trabalho.

Um exemplo disto foi a imposição de 10% de investimento em acessibilidade, por exemplo. Pode soar como uma exigência nobre, mas quando aplicada sem considerar a essência do projeto, transforma-se em um fardo desnecessário.

O paradoxo se intensifica quando percebemos que, ao buscar espaços governamentais para exposições ou apresentações, somos confrontados com a obrigação de proporcionar acessibilidade a locais que, teoricamente, já deveriam ser modelos de inclusão. Surge, então, a pergunta desconcertante: por que o ônus da acessibilidade recai sobre o artista, quando deveria ser uma responsabilidade intrínseca à estrutura pública?

Neste caso em questão perdi ponto por burocracia, porque o espaço que seria feito já estava adaptado, foi documentado no projeto, mas para o parecerista era apenas um projeto que não tinha 10% de investimento em acessibilidade.

A dicotomia entre a necessidade de editais para viabilizar projetos e as amarras impostas por esses mesmos editais cria uma teia complexa de sentimentos. E eu, ser humano que sou, vou acumulando “raiva, ódio e rancor”.

Os editais e os recursos

Você já teve seu recurso aceito? Eu não sei por que existe o recurso, tive dois erros de pareceristas que não foram corrigidos pelos recursos. Sim, erros. Em um dizia que o documento não estava, mas o documento estava anexado. Recurso aceito e nota não alterada.

E o outro ia contra o próprio edital que dizia que se alguém tivesse duas funções bastava colocar o currículo duas vezes. Achei lógico, afinal funções distintas nem sempre exigem habilidades distintas. Repeti o currículo conforme orientação do edital, o parecerista não gostou, achou que deveria ser outro cv, e ponto. Nota perdida, recurso perdido.  

Tanto em editais públicos quanto nos editais das empresas privadas, o aplicante muitas vezes se depara com um cenário onde a submissão de seu material é seguida apenas por um e-mail de recebemos. O veredito de aprovação ou reprovação, vem sem espaço para recursos que possam corrigir equívocos. A ausência de um diálogo efetivo e a falta de canais para esclarecimentos contribuem para a sensação de impotência dos aplicantes, que se veem obrigados a aceitar passivamente as decisões, muitas vezes sem um retorno construtivo. Este modelo inflexível, carente de mecanismos de correção e diálogo, cria um ambiente desfavorável para a vitalidade e diversidade da economia criativa.

Que essa reflexão ecoe como um desabafo coletivo, um grito de artistas que anseiam por um equilíbrio entre o apoio necessário e a liberdade vital para a verdadeira expressão artística. Que os editais se tornem verdadeiros aliados da criação, celebrando a diversidade e a autenticidade que definem a beleza intrínseca da arte. E não uma “caça às bruxas artistas”, e que nenhuma prestação de contas destrua a difícil arte de se tornar “empreendedor cultural”.

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Editais de arte e cultura seriam um bom jeito de viabilizar projetos, mas a burocracia e, por vezes, a desumanização do processo acabam por impedir a sua realização.

Edra Moraes

Profissional de marketing, produtora cultural e escritora. Agitadora cultural e idealizadora do Movimento Londrina Criativa. Prêmios:  Obras Literárias Digitais 2020, “Antologia Poética | Seleção da Autora, Memorial Vivência, Literatura, Livro e Leitura UnesparCultura nas Redes 2020 e FCC Digital 2020. Me siga nas redes sociais: Facebook, Instagram @edra_moraes, YouTube @edra-moraes27. Contatos: e-mail edra.moraes27@gmail.com e fone/whatsapp: (41) 997722447.

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Foto: Canva

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