Jornalista, músico, homem do teatro e designer, Diniz marcou época na Londrina dos anos 1960 e 70; livro com distribuição gratuita será lançado na sexta-feira (20)
O LONDRINENSE com assessoria
Vou Lá e Faço – A Vida-Obra de Oswaldo Diniz. O título da biografia diz muito sobre o biografado: um realizador cheio de paixão, cuja inventividade e ousadia em uma Londrina basicamente conservadora marcou sua curta – porém intensa – passagem pela cidade. O livro escrito pelos jornalistas Felipe Melhado, Gabriel Daher e Teixeira Quintiliano dedica-se a reabilitar essa figura fundamental da história cultural londrinense, mas cuja vida e obra são raramente lembradas e pouquíssimo conhecidas das novas gerações.
Em razão da pandemia, o livro não contará com um evento de lançamento, mas o leitor interessado poderá recolher um exemplar gratuitamente, a partir de sexta-feira (20), em dois pontos de distribuição na cidade: na Loja Ciranda (Rua Hugo Cabral, 656) e no Nosso Sebo (Rua Paraíba, 205). Atualmente, os dois estabelecimentos funcionam em horário comercial, de segunda a sexta das 10 às 17 horas e, aos sábados, das 9 às 13 horas. Serão distribuídos de forma gratuita 120 exemplares. Após a distribuição gratuita destes exemplares, o livro será vendido a R$ 40 no site do Grafatório (www.grafatorio.com).
Diniz: Vida-Obra- Nascido em 1940 em Paraguaçu Paulista, no interior de São Paulo, Oswaldo Diniz mudou-se para Londrina no início dos anos 1960. Em um momento em que a cena teatral da cidade começava a fervilhar, seu espírito atirado e o jeito meio punk de produzir arte fizeram dele um dos realizadores mais capazes da cena local. Entre diversas montagens que foram sucesso de público e de crítica, Diniz dirigiu peças transgressoras, revolucionárias para aquela Londrina de modos conservadores, servis, e que então era amplamente favorável à ditadura militar. Entre suas principais realizações estão as montagens de Revolução na América do Sul, de Augusto Boal, e de O Assalto, de José Vicente. Ambas peças foram vencedoras, em 1968 e 69, das duas primeiras edições do Festival Universitário de Londrina, uma mostra competitiva que daria origem ao celebrado FILO.
No entanto, a imensa popularidade de Diniz na cidade, para além da vida teatral, era devida principalmente à sua atuação na mídia local. Ainda nos anos 1960 ele foi um dos principais nomes da TV Coroados, o Canal 3, primeira emissora de televisão do interior do Brasil. Ao lado do carioca David Conde, nos primórdios da teledramaturgia brasileira, Diniz produzia e dirigia peças que eram encenadas ao vivo na televisão local. Mas foram seus programas musicais que marcaram época na TV: Bossa Total, um programa dedicado à MPB que ele dirigia e apresentava junto de sua irmã Maria Lúcia Diniz, e Ala Jovem, uma espécie de versão local da Jovem Guarda, que ele produzia e apresentava com o irmão Edson Diniz e a cantora Marta Santos. Na aurora do rock’n’roll, Ala Jovem recebeu e divulgou inúmeras bandas de jovens de Londrina e de toda a região, dando grande impulso à cultura roqueira no Norte do Paraná.
Além de fazer enorme sucesso na TV, Oswaldo Diniz ainda trabalhou como radialista na Rádio Alvorada, onde comandou diversos programas de música e de entretenimento, e no início dos anos 1970 também fez parte da Folha de Londrina. No jornal, começou como designer gráfico em um momento em que a Folha modernizava seu sistema de impressão, e mais tarde acumulou também a função de jornalista. Diniz era colunista do jornal e foi o criador e editor do Caderno 3, um caderno de cultura e variedades. Em um momento de liberação dos costumes, o caderno editado por ele trazia conteúdos antenados, modernos e às vezes polêmicos – como os retratos de homens seminus que estamparam a primeira página do Caderno 3 por alguns meses. Como jornalista da Folha, ele registrou importantes momentos da cultura local, como o Festival Colher de Chá e o show Na Boca do Bode, além de ter atuado como designer nas primeiras edições do Brasil Mulher, um dos primeiros jornais feministas do país, editado em Londrina por sua amiga Joana Lopes.
Após uma temporada de dez anos em São Paulo, Diniz retornou a Londrina no início da década de 1980, quando abriu com seu companheiro um bar e lanchonete chamado Pão, Filé & Cia. Por um breve período, o bar se tornaria um dos redutos preferidos dos artistas, jornalistas e intelectuais da cidade. O fim da empreitada deveu-se também ao falecimento precoce de Diniz, em julho de 1984, aos 44 anos, com complicações no esôfago. Embora na época o diagnóstico fosse algo incerto, tudo leva a crer que Diniz tenha se tornado uma das primeiras vítimas do HIV em Londrina, o que consternou a todos os seus amigos, colegas de trabalho e admiradores.
Por onde passou, Diniz deixou marcas singulares com seu talento, seu faro para novidades, sua erudição pop, seu gosto plural e sem preconceitos e seu ímpeto realizador. Por isso ele cativou uma pequena multidão de amigos e de fãs na cidade. No entanto, Diniz também causou vários dissensos em Londrina: no teatro, foi acusado de ser um subversivo pela direita e de ser demasiado reacionário pela esquerda militante. A crítica ao seu trabalho feita pela esquerda mais ortodoxa foi o que levou Diniz, inclusive, a abandonar sua carreira nos palcos. Na televisão, antes da Tropicália embaralhar a polarização que existia entre a MPB e o rock, Diniz já transitava com desenvoltura entre esses estilos à frente dos programas Bossa Total e Ala Jovem, o que incomodava as cabeças mais binárias da cidade. Como homossexual assumido, ele incomodou também a mentalidade machista da província. E nos anos 1970, nas páginas da Folha de Londrina, ele foi um crítico criterioso dos ídolos da nascente contracultura, postura que desconcertava aqueles que o julgavam como um entusiasta acéfalo de tudo o que estava na moda.
O livro – Vou Lá e Faço: A Vida-Obra de Oswaldo Diniz é o resultado de meses de pesquisa bibliográfica, consultas a jornais antigos, acervos particulares e de entrevistas com familiares, amigos, fãs e colegas de trabalho de Diniz. A pesquisa e a autoria do livro foram realizadas a seis mãos por Felipe Melhado (jornalista e editor), Gabriel Daher (jornalista) e Teixeira Quintiliano (jornalista, músico e documentarista). O posfácio é assinado por Tony Hara, jornalista e historiador local. São 142 páginas repletas de fotos e depoimentos que retratam a vida e o trabalho de Oswaldo Diniz, com ênfase em sua atuação em Londrina. O texto é um perfil biográfico com toques ensaísticos, uma leitura leve e veloz que pode ser feita em único dia.
A obra é um lançamento da Grafatório Edições, editora de Londrina que já lançou livros de autores como Paulo Leminski, Arrigo Barnabé, Rogério Sganzerla, Paulo Menten e Jotabê Medeiros (no prelo). O design do livro é assinado pela dupla Maikon Nery e Gustavo André, e é inspirada na visualidade de revistas contraculturais dos anos 1960 e 70. A sobrecapa do livro traz uma coletânea de notas escritas por Diniz e publicadas originalmente na Folha de Londrina e conta com uma impressão artesanal em serigrafia realizada pelo Estúdio Kilz. A tiragem de Vou Lá e Faço é de 700 exemplares, sendo que apenas 120 estarão disponíveis neste primeiro momento para retirada gratuita. Em breve, os livros também estarão disponíveis para empréstimo nas bibliotecas públicas de Londrina e à venda pelo site da Grafatório: www.grafatorio.com.
Vou Lá e Faço: Vida-Obra de Oswaldo Diniz conta com o patrocínio da Prefeitura Municipal de Londrina via PROMIC – Programa Municipal de Incentivo à Cultura. A classificação indicativa do livro é de 14 anos.
Serviço:
Lançamento: Vou Lá e Faço: Vida-Obra de Oswaldo Diniz
Distribuição gratuita de 120 exemplares (apenas 1 por pessoa) a partir de sexta-feira (20/11)
Pontos de distribuição: Loja Ciranda (Rua Hugo Cabral, 656) e Nosso Sebo (Rua Paraíba, 205)
Horário de funcionamento 10h às 17h (segunda a sexta) e 09h às 13h (sábados)
Após a distribuição, o exemplar do livro será vendido a R$ 40 no site do Grafatório (www.grafatorio.com).
Foto: Divulgação