Por Cassiano Russo, professor de Filosofia
Quero ser artista. Pintar quadros como Van Gogh, no despertar da primavera do olhar da moça ruiva da tela. Girassóis do olhar da moça em uma tarde de sol no centro de Londrina. Pássaros que cantam a esperança de um belo dia eternizado num olhar. Quem sabe atravessar a velha estradinha rural em mais um poente dessa saudade que só encontro na fotografia de uma tela? Não sei. Estou longe, em outros horizontes, outras latitudes. Posso apenas contemplar a saudade do girassol, uma saudade de artista, na qual eu sou o pintor holandês, e ela é bela.
Enquanto desenho minhas imagens com palavras, um gosto de café me vem à memória. Sei que fui feliz. Sei que sou feliz, só não sei quando precisar. O olhar da moça ruiva me desperta para algo de bom, e isso eu não nego. Ah, como eu gostava de passear pela cidade cheia de sonhos, flanar pelo brilho das praças das ruas iluminadas do centro…
Naquela época, eu vivia meu lapso de eternidade, ainda que num sorriso, ou numa conversa. A palavra saudade bate forte nesta crônica e no meu peito…
E, mesmo sabendo que ela será a musa inatingível em minha pobre existência de poeta, quantos versos aquele sorriso não criou? Escrevi minha própria Ilíada ao me lembrar dela. Sim, tudo por conta de um simples olhar que eu vejo e que não me vê. Olhar paralisado numa tela. Olhar de Girassol. Olhar de alegria primaveril. Mas a moça ruiva nem sabe de minha existência. E é melhor que seja assim: um ideal inatingível, uma tela especial, uma criação de artista. Antes uma desconhecida que retrato em meus quadros do que uma certeza!
Pois, pela eternidade daqueles olhos, prefiro que ela seja sempre a moça bonita do meu comentário de cronista. E hoje só tenho a agradecer pela oportunidade de bendizer a vida. Que bela estação! É muito bom começar a primavera com girassóis. Obrigado, moça ruiva desconhecida! Nada sei sobre você, mas parece que a conheço tão bem. Eu não sei explicar esse meu sentimento. Sou muito suscetível à beleza. De qualquer modo, agradeço por tudo. Agradeço do fundo do coração, moça ruiva da minha querida Londrina! Você é o girassol desta minha primavera!
Foto: Jennifer Murray no Pexels