Onde Eu Existo

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  Por Cassiano Russo

Eu só existo na escrita. Fora dela, nada sou, pois ninguém me conhece. Nas publicações que tenho produzido, eu sou completo, existo nelas mais do que na minha casa, onde vivo solitário, numa espécie de degredo doméstico. Meu lar é um grande deserto que somente eu habito. Nas crônicas, porém, eu sinto a plenitude de meu ser, minha existência é real, e eu sou popular para mim.

Lá fora, nas ruas, ninguém sabe nada sobre mim. Ninguém nunca viu o meu rosto de cronista, porque só sou real quando escrevo. O resto não me interessa… Não quero meu rosto estampado a exibir meus dentes amarelados de cigarro, nem meus cabelos desgrenhados e oleosos.

Sou um desempregado que escreve. Nunca recebi um convite para uma entrevista. Veio a pandemia, e me coloquei a escrever para preencher o tempo. Foi essa a minha grande estreia no mundo literário. Só que quase ninguém sabe que eu entrei nesse jogo de escrever. Por outro lado, obtive certa realização pessoal ao descobrir que eu existia em palavras, porque minha existência concreta é como areia que o vento leva, e não sobra um grão de minha presença no mundo fora do texto. Por isso, digo que sou real na escrita, que existo em minhas crônicas. Fora delas, sou apenas uma sombra do que eu redijo, porque todo a minha realidade está no mundo das palavras, e não no mundo dos homens.

Sigo, pois, a errar pelos caminhos da crônica. Tomo certos atalhos, atravesso rios, desfiladeiros, em meu mister de escritor. Sei que poucos lerão estas linhas, porque nada tenho de interessante a dizer – a realidade da minha escrita deve ser bem sem graça – para não dizer chata –  para intelectuais e leigos…

Creio que estas palavras são alguma coisa perdida no caminho da crônica, pois só conheço a solidão.

Assim sigo desocupado. Escrevo, tomo café, fumo e passo calor. E o segredo de tudo o que vejo, ou descubro, eu tento traduzir para a escrita, com a consciência de meus limites como escritor, num breve relato brasileiro, sem esperança de reconhecimento.

E se alguém ler e gostar desta crônica, sentir-me-ei realizado.

Pois ultimamente minha existência se dá na escrita.

Foto: Pexels

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