O barato das árvores de Natal

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Raquel Santana (*)

Quando eu era pequena, lá no interior de São Paulo, as árvores de Natal vinham do mato, e não das lojas. Os enfeites eram feitos de chumaço de algodão, pó de glitter e bolas feitas de um vidro fino, que se quebrado, podia ferir profundamente. Tudo colado com goma arábica e pendurado com barbante. Não havia ostentação.

Eu nunca conseguia ficar acordada para ver a chegada de Papai Noel. Mas levantava praticamente junto com as galinhas para ver o que ele havia deixado debaixo daquele galho enfeitado fincado numa lata de banha, coberta de papel de cigarro. Antigamente, aquele papel que protegia o maço por dentro era todo laminado. A gente juntava pra duas ocasiões especiais: para o Natal e pra cobrir as tampas de refrigerantes, que no Corpus Christi, viravam as escamas dos peixes, aqueles dos milagres de Jesus.

Certo Natal , eu devia ter uns 12 anos de idade, o irmão do meu cunhado, conhecido como “Baixinho”, foi passar as festas em casa e resolveu bancar o duende de Papai Noel e, num ataque de pirotecnia, colocou fogo na árvore. Só lembro dela, em chamas, voando pela janela e minha mãe apavorada. Essa história marcou nossos Natais por anos.

Com o passar do tempo, a indústria natalina evoluiu e hoje temos até árvores anti fogo, já que os pisca-piscas são um perigo incendiário. Mas nada impediu que improvisássemos, certa vez, uma árvore nos moldes da minha infância, na redação de um jornal que trabalhei em Londrina. Galho, algodão, algumas bolas e um colega teve a feliz ideia de pendurar papéis enrolados como cigarros de maconha, no lugar das bolas.

Na real, nossa árvore era uma resposta à outra árvore que montaram no outro jornal da empresa, essa sim, ostentação. Éramos o “primo pobre” e assim reagimos. Mas o melhor foi a visita de um dos diretores na redação. Um colega, não contente, fez um dos enfeites se materializar e acendeu ali mesmo, na frente da chefia, que prontamente ofereceu um uísque para acompanhar. Aquele Natal foi mesmo um barato!

(*) É jornalista radicada em Curitiba mas apaixonada por Londrina.

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