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Janelas abertas para a percepção

Em hebraico – língua de sua origem – a palavra “janela” quer dizer “Deus é gracioso”. E tem sido uma graça, em tempos de pandemia, ter janelas grandes, ensolaradas e verdejantes abertas em casa.
No universo místico, as janelas são consideradas como símbolos da consciência, ou mesmo um portal para o inconsciente. No mundo material, quando abertas, apresentam a paisagem emoldurada e garantem a ventilação. Fechadas, asseguram a privacidade.

É delas que observo que a maioria dos moradores do condomínio tem respeitado o isolamento social pelo número de carros estacionados no pátio. Também é dela que vejo o movimento no comércio local, este sim, desrespeitando a quarentena.

Desde que comecei a fotografar, desenvolvi um gosto peculiar pelas paisagens emolduradas em caixilhos de alumínio, ferro, madeira ou PVC. É adentrar um ambiente e correr conferir a paisagem. Tenho uma amiga que garante que escolho minhas amizades pela paisagem da janela de suas casas.

Há muitos anos fiz uma exposição só com fotos feitas através de janelas, minhas e de conhecidos. Depois disso, sempre que alguém entrava em casa pela primeira vez, ia direto conferir aonde as imagens tinham sido feitas. Decepção total, pois era um amontoado de telhados no centro da cidade. Me achava a artista por ter achado beleza naquele caos.

As janelas sempre estiveram presentes na arte. Cantadas em músicas, versos e prosa, muitas vezes foram usadas como metáfora. Quem nunca usou a expressão “janelas da alma?”

Fui pesquisar a origem das ditas cujas e descobri que os primeiros registros da utilização de aberturas que lembram janelas, datam do ano de 4000 AC nas casas de Persepolis, a antiga capital do Império Persa.

A utilização dos primeiros caixilhos e folhas surgiram no palácio de Minus, na Grécia. Os gregos têm forte influência na história das janelas, já que foram eles que iniciaram a ornamentação nas casas com átrio que ficavam de frente para o pátio. Mas os romanos também têm culpa no cartório. Foram eles os primeiros a introduzir a utilização de janelas como elas são hoje, nas aberturas, por volta do ano 100 DC.

No Brasil, o uso de janelas em construção se iniciou no século XVII. Foi nesta fase que as aberturas começaram a ganhar formas redondas, elípticas e de geometria livre. Hoje, são encontradas em vários tamanhos e materiais.

Teve gente que quebrou as regras e usou as janelas para chocar a sociedade no início do século, como a estilista Coco Chanel, que trocou os rococós das janelas francesas, por caixilhos pintados de preto.

Nos tempos em que as meninas casavam virgens, era comum elas ficarem expostas na janela, se exibindo para os meninos da sociedade. Ainda bem que os tempos mudaram.

As janelas também simbolizam a liberdade. Não vejo a hora de poder circular por aí. Estou que nem aquelas estátuas namoradeiras mineira, só na janela, vendo a pandemia passar. Não vejo a hora de tudo acabar.

Raquel Santana

Já foi jornalista, acha que é fotógrafa, mas nesses tempos de Covid-19 ela só quer sombra e água fresca no aconchego do seu lar. Vendo seriados, óbvio!

Fotos: Acervo pessoal

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