Como jornalista de texto, sempre soube a importância de uma fotografia na reportagem. Mesmo que a pauta não fosse assim, uma Brastemp, uma boa ilustração na matéria sempre garantiu a primeira página. E por menos vaidade que se tenha, primeiro página é sempre primeira página! Invariavelmente, o leitor vai querer conferir o que foi publicado.
Metade da minha vida profissional passei produzindo texto, até me mudar para São Paulo e trabalhar em uma revista voltada para o mercado fotográfico. Era a era pré digital e tivemos, inclusive, o privilégio de testar as primeiras câmeras digitais. As imagens eram em baixíssima resolução e salvávamos em disquete.
Mas eu gostava, mesmo, era da Polaroid, empresa que atendia – e testava os produtos. A Polaroid era a digital da época, já que dava para conferir a imagem na hora. Claro que abanando a foto, o que não era recomendado pelo fabricante. Quem nunca?

Quando mudei de São Paulo para Lisboa, em Portugal, ganhei uma Pentax de filme de presente. Mas chegando lá, um dia me deparei com um equipamento digital que cabia no meu bolso. Como articulava alguns freelancers para alguns veículos brasileiros, foi perfeito. Passei a partir daí, a ser uma correspondente internacional de texto e imagens. E me apaixonei pela fotografia.
Fui estudar. Primeiro no Núcleo de Estudos da Fotografia, da conceituada fotógrafa Mila Jung. Fui a primeira aluna com câmera digital do Núcleo. Foi ali que um universo inteiro se abriu a minha frente. Um mundo desconhecido que só eu via. Pessoas, objetos, tudo passou a ter outro significado. Era o universo a partir do meu ponto de vista. Que maravilha.
Também já passei muitos perrengues fotografando. Como daquela vez em que os seguranças da diretora e bailarina Déborah Colker, queriam o “filme” da minha câmera digital. Após ameaçar acabar com o espetáculo, caso eles pegassem meu equipamento, desistiram. Ao final do apresentação, ouvi um deles procurando pela “fotógrafa de vestido vermelho”, só que já havia colocado um casaco preto por cima da roupa. Descobri que só o irmão da bailarina tem autorização para documentar o espetáculo. Coisas de mercado.

Mas nem só de perrengue vive uma fotógrafa. Tive o meu momento “influencer”. Nos primórdios da internet, quando ainda nos comunicávamos pelo Orkut, tive um Fotolog que bombou.
Conheci gente do mundo todo, montei exposição em varias cidades, cobri feiras e eventos. Definitivamente me tornei uma profissional de texto e imagem.

Hoje, não consigo pensar em um sem o outro. Na real, tornei-me aquela da música da Adriana Calcanhoto, aquela que vê tudo enquadrado. Acho que levo jeito pra coisa.
Raquel Santana

Já foi jornalista, acha que é fotógrafa, mas nesses tempos de Covid-19 ela só quer sombra e água fresca no aconchego do seu lar. Vendo seriados, óbvio!
Foto: Acervo pessoal