Raquel Santana (*)
Quem nunca entrou no cinema errado, que atire o primeiro rolo de filme.
Vi que o Cine Vila Rica vai reabrir. Depois de passar por um período de ouro e de ser o meu cinema do coração junto com o Ouro Verde e o ComTour, mesmo porque na década de 80 praticamente só tinha esses cinemas em Londrina, o Vila Rica teve um período de transição entre o cinemão e o pornô. Bem nesse período, entrou em cartaz o filme Blade Runner, o Caçador de Androides, de Ridley Scott.
Sensação já na época de seu lançamento, lá fomos nós em turma ver o filmão, um cult até hoje. Antes de ver o filme, eu já havia me apaixonado pela trilha sonora, do Vangelis. Sem contar que os astros do filme eram Harrison Ford e Hutger Hauer. Ah, sim. E a mocinha do filme se chama Rachael. Me senti.
Ingressos na mão, entramos numa sala que cheirava a mofo e suor. Naquela época o Vila Rica já estava bem decadente. Blade Runner é de 1982. O tempo passa e nada do filme começar. Na sala, alguns gatos pingados, todos do sexo masculino e de idade, digamos, avançada. Achamos esquisito. Luzes apagadas e aquela sensação gostosa de entrar em um universo paralelo e futurista, cujo cartaz na entrada nos garantia.
De repente, na telona, começa um desfile de genitálias femininas e masculinas, tudo em close-up. Na turma, um olha pro outro que olha pro um e de comum acordo, achamos que era trailer. Afinal, a sala ao lado era destinada aos filmes pornôs. O tempo passa e já concordando que o trailer estava muito longo, a conclusão fatídica: entramos na sala errada.
Sim, nosso filme rolava na sala ao lado. Mortas de vergonha e de rir, saímos no meio de uma cena de sexo oral e caímos de boca num dos melhores e mais clássicos filmes de ficção científica, que aliás, foi relançado recentemente em sua versão definitiva.
(*) Jornalista radicada em Curitiba mas uma eterna apaixonada por Londrina
Foto: Divulgação