Raquel Santana (*)
Sempre tive amigos, digamos, alternativos. Gente que lê tarô, faz numerologia, lê mão, faz mapa astral. O máximo que me permiti, nesse sentido, foi jogar tarô. Comprei, e também ganhei, vários baralhos, incluindo um do 007, no filme “Viva ou deixe morrer”. Os arcanos foram desenhados por Salvador Dali entre as décadas de 70 e 80, mas só viraram baralho por ocasião do filme. Foi o que mais gostei, mas acabei perdendo na mudança que fiz para Portugal.
Acredito que o misticismo sempre permeou a vida do ser humano, desde os tempos das cavernas. São tantos os mistérios dessa e de outras vidas, que o místico sempre foi um caminho para justificar o injustificável. Acho que todos nós temos uma fase nesse sentido. Entender os astros e, principalmente para nós, mulheres, as fases da lua. Não há como negar.
Acontece que hoje em dia, todo mundo quer ser a sense Márcia do mercado místico. Vale lembrar que todos somos sensitivos. Em maior ou menor grau. Tem gente que vê, tem quem ouve ou há aqueles que nem uma coisa, nem outra. Mas nem por isso deixam de ser sensitivos. E o sexto sentido, onde fica? Todos nós temos mediunidade , em grau mais, ou menos apurada.
Meu interesse pelo místico começou quando devorei os quatro volumes de “As Brumas de Avalon”, ainda no curso de jornalismo, influenciada por uma professora e uma amiga chegadas num misticismo. O interesse aumentou com a leitura de “O tarô mitológico “, em dois volumes, para os arcanos maiores e menores. Tenho até hoje.
No começo, fui praticando com os amigos. Mas quando umas meninas que eu nem conhecia começaram a bater na minha porta, parei. Achei que era muita responsabilidade. Mas isso não me impediu de continuar interessada no assunto. Nos anos 80, era modinha ser místico.
No auge desse mergulho pelo desconhecido, o escritor, psiquiatra e criador da Somaterapia, Roberto Freire, foi dar um workshop em Londrina. Ele estava no auge da fama, mas tinha amigos na cidade, responsáveis pela organização do evento. Eles também eram meus amigos e me chamaram. Era super caro pra participar, mas fui no 0800. Não dei conta.
Baseada no anarquismo de Reich, a técnica não era nada ortodoxa. Quando me dei conta, estávamos todos só com a roupa de baixo numa sala, acho que na Secretaria da Cultura. Freire fala do método libertador dele e manda todos fecharem os olhos e, caso esbarrasse na pessoa, era para tocá-la. No auge dos meus 20 anos, quando me dei conta, todos os meninos do workshop estavam em cima de mim. Era uma profusão de mãos por todos os lados. Cheguei a questionar se não estava numa suruba. Não dei conta. Sai correndo do lugar e ainda tive que ouvir que “tem gente que não lida bem com o próprio corpo”. Atá. Meu interesse pelo assunto morreu ali.
(*) É jornalista radicada em Curitiba mas apaixonada por Londrina.
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