Por Ana Paula Barcellos
Londrina é um município novo, ainda é jovem. Nesse ano de 2024, a menina Londrina completa 90 anos. Se como idade de gente é muito, pra cidade é idade de moça.
Além de ser nova, também é uma cidade muito adepta dos modismos, desde sempre. Puxe sua historia pela memória (pelo Google também vale, claro) e vá analisando as primeiras construções, quais foram as inspirações artísticas e arquitetônicas, como as tendências de comportamento iam sendo incorporadas ou importadas. Mas, principalmente, quanto tempo elas duravam por aqui até serem substituídas por outras.
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Valeria fazer uma retrospectiva (ótimo tema para pesquisas acadêmicas, inclusive), só não cabe nesse espaço e por isso me valho das reflexões e de alguns exemplos mais pontuais: as belas casas históricas (lembra da casa dos anõezinhos que não foi tombada pelo poder público?) que Londrina já teve e que foram derrubadas para virarem prédios ou centros comerciais.
Essa extinção e ausência de edificações que deveriam ter sido tombadas como patrimônio histórico da cidade faz com que a cidade vá ficando cada vez mais com uma estética “quadrada” e homogênea, tem muitos espaços com a mesma “cara” de consultório médico ou escritório de advocacia, vai ficando tudo muito igual. Acho até que Londrina é uma cidade muito sem identidade, nesse sentido.
A mesma coisa acontece com espaços importantes da cidade. O Calçadão de Londrina, como pontuei em outra coluna, foi praticamente assassinado. Esse que já foi ponto de referência, quase turístico, centro cultural e de lazer, está às moscas. E arrancaram todos os símbolos que faziam desse espaço o que ele era: os quiosques, o petit pavê (que foi trocado por aquele piso horroroso). Foi um crime não terem tombado também os ladrilhos característicos do nosso Calçadão. Já imaginaram Copacabana sem seu calçadão característico?
Trocar o histórico pelo novo por aqui é normal
Em Londrina, arrancar algo importante pra colocar qualquer coisa no lugar, nova, é normal. E com isso não quero dizer que tudo que é novo é ruim. Óbvio, o novo pode ser muito bom, pode ser sinal de progresso. Aqui não quero levantar bandeira de saudosismo sem causa ou anti-renovação. Mas também não dá pra sair abraçando tudo o que é novidade só pelo gosto da novidade – que é o que acredito ser o caso de Londrina.
E sinto falta aqui, na cidade pela qual eu tanto suspiro, de mais raízes simbólicas. Sofro com esse Calçadão tão largado de lado, acho horríveis as cabines telefônicas imitação das gringas e tudo que faz referência a Londres! Quando a gente vai deixar a síndrome de filha de quem só pariu, para buscar nossa própria identidade e construir nossa trajetória própria, sem repetir ladainha como História?
História se faz com tempo. Para ter lugares e monumentos históricos é preciso preservá-los, assim como aspectos culturais e certos costumes e tradições. Legado se constrói com o tempo! A gente precisa deixar Londrina envelhecer e envelhecer bem…
Ana Paula Barcellos
É graduada em História pela UEL, Mestre em Estudos Literários, integra coletivos culturais da cidade e é agente cultural. Sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências, e escreve também a coluna de Moda deste jornal. Siga os Instagram @experienciasdecabide e yopaulab
Foto principal: Calçadão/Arquivo/Procon
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