É nos bares e cafés que a vida de uma cidade acontece!

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Por Ana Paula Barcellos

Parece que não pode mesmo elogiar, né? E que pra cada coisa legal que acontece aqui em Londrina tem mais três rasteiras pra rebater e levar a gente pra trás. Eu tenho tentado reclamar menos (e provo isso com a coluna da semana passada), mas o povo também não colabora! No caso, a Prefeitura de Londrina também não anda colaborando.

Digo isso por conta do projeto de lei que surgiu no bojo da revisão do Plano Diretor e que pretende restringir e até mesmo fechar bares e restaurantes em alguns pontos da cidade. Fala sério! Porque o projeto só pode ser transformar essa cidade menina, que já foi tão progressista, tão ligada ao que há de mais moderno, no que é melhor, sinônimo de progresso e transformação, em uma cidade parada no tempo. Tenho a sensação de que as mesmas pessoas (ou famílias) e empresários influentes, que faziam de Londrina um lugar visionário e vanguardista, envelheceram muito mal e agora querem o extremo oposto.

E é através de uma canetada que eles querem restringir esses lugares que são verdadeiros pontos de encontro e também onde turismo acontece (porque quando vem alguém de fora, é pra esses lugares que a gente leva, né?), porque, muita atenção agora: eles são BARULHENTOS. Pausa para um respiro. Um suspiro. Haja paciência e força pra não desanimar com uma canalhice dessas.

Um dos pontos citados é o da Rua Paranágua, um dos principais redutos de barzinhos e restaurantes descolados de Londrina. Detalhe: Faz muito tempo que essa deixou de ser uma rua essencialmente residencial. Muito tempo mesmo. Essa região de bares, restaurantes e cafeterias (que também abarca as ruas Santos, Belo Horizonte e Av. Higienópolis – essa nunca foi residencial a não ser no início da história de Londrina) passou a ser uma região comercial – fenômeno que se intensificou com a debandada de uma galera pra Gleba Palhano e adjacências – ainda nos 2000. Por lá, sempre teve lojinhas e casas de comida babadeiras, depois vieram os barzinhos. Isso não é de agora!

Pois parece mesmo que o povo Old Money que resistiu e ficou por lá, agora quer empatar a vida e emudecer os arredores. No caso da Rua Paranaguá, eles querem fechar os estabelecimentos cujo alvará não tenha dois anos (sente o absurdo!) ou mais e proibir a abertura de novos bares, restaurantes e afins. Tudo isso com a desculpa de que esse tipo de estabelecimento se enquadra na categoria “entretenimento” – o que não é verdade, esse é o caso de boates, teatros, cinemas etc.

As cidades do progresso são barulhentas, minhas senhoras e senhores. É assim, com o barulho (claro, respeitando os limites de decibéis estabelecidos pela lei) que a gente sabe que uma cidade cresce e pulsa. No mundo inteiro, as cidades mais vibrantes são justamente as que têm mais bares, cafés e restaurantes – principalmente os de beira de calçada, com mesinhas na parte de fora! É nesses lugares que a vida acontece. Como a gente atrai investimentos e mais pessoas para fazer Londrina crescer, sem atrativos urbanos como esses? Simplesmente não é possível. E ninguém investe ou finca pé em cidade morta.

Bares e café fazem de Londrina uma cidade acolhedora

São esses os lugares que fazem de Londrina uma cidade acolhedora. Que fazem os universitários ficarem por aqui (inclusive no período de férias), que trazem alguma programação cultural interessante (coisa também cada vez mais escassa) e a manter uma boa variedade de lugares para sair, comer e ver pessoas. Eles são necessários! O que os moradores da região querem é mais fiscalização contra abusos.

Parece que a gente não pode elogiar que vem logo uma rasteira. Agora querem fechar os bares e restaurantes em alguns pontos de Londrina. A vida acontece em bares e é bom até para o turismo.
Fiscalização na Rua Paranágua: tudo que os moradores querem – Foto: Secretaria de Defesa Social/arquivo

Eu, que cresci na região da Rua Paranaguá, onde minha mãe ainda mora, espero continuar sentindo prazer ao caminhar por esse que considero, ainda, meu quintal. Onde passei boa parte da minha adolescência e do começo da vida adulta comemorando a abertura de vários desses lugares. Onde finalmente fui experimentar coisas diferentes e criar algumas das lembranças mais simbólicas que carrego comigo!

E, mais do que esperar, eu desejo. Desejo com força que a gente possa ponderar muito para fazer nossas escolhas em outubro. E que, mais do que escolher, a gente possa realmente acompanhar o que acontece na nossa cidade e lutar pelo que a gente acredita, cobrar dos nossos representantes que eles cuidem de verdade das áreas que Londrina mais tem carência (saúde, educação, infraestrutura, cultura) ao invés de cometer essas atrocidades políticas em nome de um grupo que quer impedir nosso município de se transformar naquilo que ele tem tanta capacidade de ser: uma cidade modelo, da qual a gente sinta cada vez mais orgulho.

Não sei vocês, eu amo a História de Londrina, só não quero voltar a viver como em 1940, 1950. O futuro também tem que ser aqui.

Ana Paula Barcellos

É graduada em História pela UEL, Mestre em Estudos Literários, integra coletivos culturais da cidade e é agente cultural. Sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências, e escreve também a coluna de Moda deste jornal.

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Leia mais Crônicas de uma cidade

(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.

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Uma resposta

  1. A vida acontece em todos os locais onde nos reunimos. Incluindo cafés e bares. Eu compeendo os sofrimenso, mas quando se busca uma politica conservadora onde somente o sagrado importa a vida em sociedade começa a ficar sem razão para uma boa parte das pessoas. Inclusive para os que creem. Precisamos de igrejas e templos.. mas precisamos de parques, bares, café, boates, carnaval, etc….Precisamos encontrar uma equação para atender a todos….o bom senso é a melhor opção.. mas a censura nunca andou ao lado do bom senso!!

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