Por Telma Elorza
“Sem falsa modéstia, eu sou uma mulher bonita de 28 anos, do tipo mignon (baixinha, delicada e voz meiga). Tenho formação universitária, especialização e mestrado e estou planejando meu doutorado. Mas sofro o tempo todo com mansplaining por causa da minha aparência. Já não aguento mais ser interrompida em TODAS as minhas falas por um homem que quer me explicar coisas básicas do dia a dia do meu trabalho. Não sei mais o que fazer”.
Nossa, amiga, imagino muito a sua situação. Eu mesmo, mesmo não sendo pequena e nem delicada, sofro de vez em quando com o mansplaining. O termo vem do inglês man, que significa homem, e splaining, uma versão informal do verbo explain (explicar). Em tradução livre, seria algo como “explicação do homem”. Ou seja, eles querem nos explicar assuntos que dominamos, às vezes até mais do que ele. Uma vez, um cara quis me explicar como funcionava a menstruação. Outro quis me explicar porque eu era gorda. Um terceiro quis me explicar como funcionava o jornalismo, mesmo eu tendo 37 anos de experiência na área. Esses são apenas alguns exemplos da falta de noção do macho mediano. Sempre há uma tentativa de mansplaining, eu corto.
Isso acontece porque os homens se acham brilhantes e têm a irritante mania de substimar a inteligência das mulheres de modo geral. Isso foi comprovado por um estudo americano e publicado na revista Galileu em 2022. E, com sua aparência frágil e delicada, isso deve ser ainda mais forte para você. Como uma coisinha fofa e meiga dessas vai ser capaz de sobreviver na luta diária do trabalho sem a ajuda deles, não é mesmo (contém ironia)?
O que posso dizer sobre seu caso é que você tem que aprender a ser “casca grossa” e a se impor. Como? Bom aí é que são elas kkk.
Eu sugiro que adote algumas medidas preventivas. A primeira é não valorizar muito sua aparência delicada no ambiente de trabalho. Esqueça tons pastéis nas roupas (nada de ressaltar sua delicadeza) e use cores mais chamativas e fortes. Que tal fazer uma análise colorimetria pessoal? Isso pode lhe ajudar a ter uma melhor percepção de como as cores podem transmitir estímulos de uma imagem poderosa. Esqueça também as roupas de estilo romântico ou delicado. Use um estilo mais agressivo (até se vestir de couro preto dos pés ao pescoço está valendo, kkk). Isso pode servir como uma armadura, lhe dar confiança e impor uma certa aura de respeito.
Corte o mansplaining pela raiz
Esse “figurino” poderoso deve vir acompanhado de uma mudança de atitude também. Quando perceber que vai ser mais uma vez vítima do mansplaining, corte na raiz. É fácil perceber porque o mansplaining é sempre precedido de manterrupting – ou seja, o homem interrompendo nossa fala para despejar sua imensa sabedoria (contém mais ironia). Quando cortarem sua fala, interrompa o cara e diga firmemente: “Eu estou falando, por favor, não me atrapalhe”. Procure usar um tom de voz mais grave (estudos já provaram que vozes agudas transmitem impressão de pessoas mais frágeis, seja homem ou mulher) para dar seu recado. O cara vai ficar supreso porque ele nunca imaginaria que uma mulher – especialmente uma frágil e delicada – ousaria interrompê-lo tão firmemente.
Se interrompê-lo não adiantar (cabeças duras existem aos montes), o melhor é virar as costas e deixá-lo falando sozinho, sem nem se desculpar nem inventar desculpas para sua retirada. Com quase toda a certeza, ele vai procurá-la alguma hora para que VOCÊ dê uma explicação por sua grosseria (eles são muito ciosos de seu orgulho masculino e vai querer que você se desculpe. Ai, tão previsíveis). Essa é a hora de explicar que não gosta do fato de ele estar sempre interrompendo-a para dar explicações óbvias sobre sua área de conhecimento e que não vai mais admitir isso. Se imponha, garota.
Claro que, mesmo com tudo isso, você ainda vai ser vítima de mansplaining pela vida afora. É uma sina de todas as mulheres. Mas pode diminuir bastante os episódios, principalmente no seu ambiente de trabalho.
Espero ter ajudado
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Quem é a Tia Telma
Telma Elorza é jornalista, divorciada e adora dar pitaco na vida dos outros. Mas sempre com autorização.
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Arte: Mirella Fontana
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