Restaurante traz a gastronomia contemporânea mexicana com pratos deliciosos e drinques diferentes
Telma Elorza
O LONDRINENSE
O amigo me perguntou se eu já conhecia o Ramirez Cocina, um restaurante de comida mexicana instalado ali na Rua Goiás. Eu disse que não, que conhecia apenas o Señor Ramirez, o container de fast-food mexicano (dos mesmos donos) e que gostava muito. Então ele me recomendou que conhecesse, porque era uma experiência diferente. Ah, pra quê? Não sosseguei enquanto não fui visitar.
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Confesso que estava esperando um restaurante esteriotipado, desses com “tequileros” (que é uma invenção brasileira e não existe no México), muitos sombreros e mariachis. Afinal, é o que estamos acostumados a ver em restaurantes mexicanos, né? Qual foi minha surpresa ao entrar num restaurante com decoração clean em tons de terra suave, com iluminação discreta e bem planejada (tirando dois neons ótimos para fotografias, para quem não dispensa a foto para o Instagran), uma playlist de músicas em espanhol num nível de som discreto e uma sofisticação confortável nas mesas e cadeiras. Na decoração, as únicas coisas que remetem diretamente ao México são uma série de fotografias em P&B, emolduradas nas paredes. Pensei: “Nossa, isso é o México? Gostei”.
O estilo do lugar já deixa claro que ali é um México diferente daquele difundido por Hollywood e que se tornou popular no mundo todo. O proprietário do Ramirez Cocina, Samuel Bruder, explica que procurou reproduzir os restaurantes tradicionais do país, daqueles longe das rotas turísticas. “Eu quis trazer a experiência que é jantar ou almoçar num restaurantes destes. Lá, as pessoas não comem e vão embora, como aqui. As famílias ou amigos se reúnem em mesas grandes, comem, bebem e ficam. É um momento de união, sem pressa, para curtir. Se nosso cliente chegar às 18 horas e sair à meia-noite, para nós é ótimo, porque essa é a nossa proposta”, conta.
A ideia, segundo ele, é oferecer a experiência que ele teve nos bons restaurantes mexicanos, aquilo que vivenciou lá, não só a gastronomia TexMex – com influência americana – que é oferecida no container, mas algo a mais. “Principalmente, aquilo que a gente vê no lado do Oceano Pacífico, no litoral mexicano. Aquelas coisas com sombreros, barulhento, é tudo influência americana. Os Estados Unidos usaram essas referências para vender a comida TexMex. Você vai pro México hoje, nos lugares turísticos sempre têm o esteriotipado, mas a grande maioria dos bons restaurantes são como o nosso e vão muito além do nacho, chilli, taco. A gente tem a essência raiz do México, mas oferece uma cozinha moderna”, explica.
O Ramirez Cocina surgiu de um sonho do Samuel. “Eu sou administrador de formação, trabalhei 15 anos em área comercial de grandes empresas multinacionais. Mas em 2017, eu tive um burnout. Os médicos falaram: você precisa fazer algo que lhe faça feliz. Aí, como sempre gostei de cozinhar, já tinha feito cursos de gastronomia para me divertir, surgiu a oportunidade de montar um food truck, o Señor Ramirez, que um ano e meio depois, virou o container na Doca 120. Em 2020, eu fui ao México, conhecer um pouco mais da cultura e gastronomia. E aí eu vim com essa ideia de montar um restaurante de gastronomia contemporânea mexicana. Mas veio a pandemia e eu tive que esperar”, conta. Até que, no começo de 2022, o restaurante começou a sair do papel.
No cardápio, Samuel procurou adaptar o sabor da comida mexicana ao gosto do brasileiro, juntamente com o chef de cozinha. “Lá, a comida tem muita pimenta. Isso não é esteriótipo. É pimenta mesmo. É muito alho, muito coentro, muito tempero, tudo muito over. Então a gente trabalha legal no tempero e na pimenta, sim, mas na medida certa, que o paladar do brasileiro suporta. Ele come e fica tranquilo”, brinca.
O restaurante tem uma proposta sustentável – com embalagens de delivery compostáveis feitas com fibra de cana e de milho – e que se estende aos produtos que são usados ali. “Temos nossa horta 100% orgânica que nos dá as hortaliças e temperos”, conta. “E 100% do que a gente faz é feito na casa. O pão é feito aqui, as tortilhas que acompanham alguns pratos são feitas com milho crioulo, o sorvete, temos uma série de diferenciais que estão dentro desse conceito de proporcionar essa experiência gastronômica”, diz.
Mas vamos ao que realmente interessa: a comida.
O cardápio e os preços são bem variados, com vários drinques de destaque. Para começar, escolhemos dois drinques, em um menu recheado deles. Difícil escolher, heim? O primeiro foi uma Piña Helada (R$32), feita com tequila, abacaxi, limão e Monin Gengibre, que é forte (tequila, né?) e, ao mesmo tempo, refrescante. O segundo foi o Ramirez (R$30), desenvolvido na casa, que leva tequila, laranja, limão, Monin Agave, canela e cardamomo. Ambos muito gostosos, mas o Ramirez combina mais com o inverno, um pouco mais encorpado. No menu de drinques ainda tem alguns bem tradicionais no México, como o Margarita e a Pinã Colada, além de outros como o Mex Mule que substitui a vodka do tradicional Moscow Mule pela tequila.
Quase no fim da refeição, resolvemos pedir também uma dose de tequila José Cuervo Ouro (R$19) e um drinque chamado Michelada (R$22) – uma espécie de Blood Mary mexicano sem o suco de tomate – que leva cerveja, limão, tabasco, molho inglês e temperos, tudo misturado. Salgado, delicioso e, segundo o Samuel, muito utilizado no México para curar ressaca. “Só que lá, eles carregam ainda mais na pimenta e, na maioria das vezes, colocam uma coxa de frango frito dentro dele”, conta. Não sei se ajudou, mas no dia seguinte eu estava inteira, sem ressaca nenhuma.
Pedi para o Samuel escolher os pratos que ele acreditava que representasse bem essa proposta de experiência do restaurante, já que o cardápio também é bem extenso (sim, também tem os famosos tacos, burritos, quesadillas e fajitas, para quem não quer se arriscar além do conhecido). Mas olha, recomendo muito muito seguir as sugestões. Até polvo eu comi e gostei, e não sou muito chegada a polvo.
A entrada foi uma Camarilla del Mar (R$69), uma novidade no cardápio. O prato leva tentáculos de polvo, camarão, cebola, alho laminado, tomate cereja, chilli oil e coentro. Acompanha tortilha de milho. Tudo muito bem temperado e no ponto certo. Veio fumegando numa frigideira de ferro e foi realmente uma experiência sentir os sabores variados casados com a tortilha, que é bem gostosa e diferente das que a gente costuma comer por aí.
Como estávamos em duas, Samuel sugeriu que provássemos dois pratos individuais: Carne com Plátano (R$52), que traz fraldinha grelhada, purê de banana da terra, farofa de banana e picles de cebola; e Cerdo com Arroz de Coentro (R$47), que traz lombo suíno, arroz de coentro e limão e um mix de folhas verdes. Logicamente que provei os dois. E são FANTÁSTICOS. Gente, a harmonização de cada prato é perfeita.
No Carne com Plátano (banana na gastronomia espanhola), a fraldinha veio ao ponto, macia, gostosa, bem temperada e, combinada com o picles de cebola, tinha um sabor maravilhoso. Tanto o purê de banana quanto a farofa (que também tinha pequenos chips de banana) estavam sensacionais.
O lombo também estava no ponto ideal, um pouco mais passado como é recomendado para esse tipo de carne, mas saboroso e suculento. Mas o Arroz de Coentro, gente! O que foi aquilo? Maravilhoso. E eu nem gosto de coentro! No entanto, ele combina demais com a carne de porco e o mix de folhas. E não combina tão bem com a fraldinha (sim, eu provei mudando os acompanhamentos, para testar a harmonização).
Para finalizar, Samuel nos recomendou que provássemos a Rabanada (R$38) com sorvete de cumaru (chamada de baunilha brasileira), entre as várias opções mais tradicionais mexicanas. Embora a rabanada não seja um prato típico mexicano, essa especialmente foi desenvolvida pelo Samuel e pelo chef, que sugeriu acrescentar o sorvete de cumaru. E é uma coisa assim, como vou explicar, sem usar tantos superlativos? Necessária, deliciosa, surpreendente. Porque, ao contrário das tradicionais rabanadas, que são feitas com pão dormido e fritas em óleo, a do Ramirez Cocina traz pão caseiro fresco, envolto na calda, grelhado na chapa e acompanhado de um caramelho salgado, que é despejado na mesa. A coisa borbulha lindamente e cria uma casquinha crocante. Simplesmente sensacional. Uma sobremesa dessas dá perfeitamente para duas pessoas que comeram muito bem.
No computo geral, o Ramirez Cocina foi uma das minhas melhores experiências gastronômicas entre os restaurantes londrinenses, com uma cozinha temática, porém criativa, que vale cada minuto passado lá. Recomendo muito. E ele tem promoções incríveis, durante a semana. É só acompanhar o Instagram do restaurante para descobrir quais. Vale a pena.
O Ramirez Cocina funciona de terça a sábado, das 18 às 23 horas, e nos sábados e domingos, das 12 às 15 horas. Está localizado na Rua Goiás, 1376.
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