A pandemia do novo coronavírus, que fechou escolas pelo mundo inteiro, já nos ensinou que é fantástica a capacidade de nossos professores em trabalhar e se reinventar. Ao mesmo tempo, escancarou a necessidade de acelerarmos os investimentos e a implantação de uma educação digital que nos permita desenvolver atividades fora do ambiente físico das instituições. Entretanto, estamos agora diante de um dilema: como oferecer esse conteúdo frente às dificuldades enfrentadas no Brasil?
No mundo todo, temos cerca de 1,5 bilhão de estudantes em casa, em mais de 160 países que adotaram o isolamento compulsório, de acordo com dados do Banco Mundial. A realidade que se verifica no Brasil pode ser replicada em diferentes lugares do mundo, principalmente em países emergentes e em desenvolvimento. Afinal, por aqui não são todas as crianças, adolescentes e jovens estudantes que têm acesso a uma internet de qualidade ou equipamentos necessários para assistirem as aulas on-line.
Educação é um direito previsto na Constituição e, como tal, deve ser garantido pelos governos municipais, estaduais e federal. Dessa forma, é necessário que o acesso seja universal. Quem não tem condições de estudar pela internet ou não possui tais equipamentos, deve fazer o que? O Estado é obrigado a proporcionar que esses alunos não deixem de estudar. Mesmo porque estão oferecendo essas aulas como parte do ano letivo. Caso contrário, o Estado será responsável por aprofundar as desigualdades sociais.
Da mesma forma, é preciso levar em consideração outros problemas crônicos no Brasil, que interferem diretamente na qualidade do ensino: saneamento básico com esgoto, água encanada e até mesmo a falta de alimentação, aspectos que impactam diretamente na aprendizagem. É sabido que muitas crianças em situação de vulnerabilidade só tem a merenda escolar como refeição no dia. Sem ir à escola, como ficam? Alguns governos têm distribuído a merenda às famílias, o que é uma situação louvável. Entretanto, e os outros problemas? Não se consegue levar saneamento básico rapidamente.
Está certo que esta situação é provisória, imprevista e temporária. Todavia, é preciso planejamento e ações para que, em situações futuras, nós não precisemos nos preocupar com o que é básico e com o que já deveria ser realidade.
Tiago Mariano

Formado em História pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), pós-graduado em Ensino e História. Atualmente ministra aulas no Colégio Estadual Olavo Bilac, em Cambé, no Colégio Maxi, em Londrina, e é coordenador pedagógico da startup londrinense EducaMaker. Em 2018, foi premiado pela Google for Education (2018) com o primeiro lugar nacional no Programa Boas Práticas pela criação de um método de formação de alunos de alta performance.
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