Atribui-se ao psiquiatra, professor e escritor Augusto Cury a frase: “tem gente que é tão pobre que só tem dinheiro”. É um pensamento que revela a fragilidade do conceito de riqueza. Enquanto uns consideram rico quem tem mansões, carros importados e diversos bens materiais, outros atribuem a riqueza a elementos como família, amigos, saúde, etc. Uma definição que divide as pessoas desde que o mundo é mundo porque, apesar de muitos concordarem com o axioma inicial, ao mesmo tempo, buscam ter riquezas materiais, alimentando sonhos e expectativas.
O estoicismo de Sêneca (4 a.C – 65 d.C.) afirma que ser rico é limitar os desejos ao que é necessário para a vida e evitar o que for supérfluo. Para ele, o dinheiro nunca deixou alguém rico, mas, sempre causou mais cobiça porque quem tem muito sempre quer ter mais. Nada muito diferente dos dias de hoje, apesar de dois milênios nos separarem do pensamento deste filósofo. Em sua filosofia, a pessoa que tem o que é suficiente obtém o que o rico jamais poderá ter, que é o fim dos seus desejos.
Olhando para o mundo ao nosso redor, cantores, atores e youtubers, por exemplo, têm tudo e, no fim, não têm nada. Parece que há uma busca incessante por conquistar grana, comprar bens enquanto o vazio ronda o coração dessas pessoas: tristeza, ansiedade, depressão e vícios não se satisfazem com a materialidade das coisas. Karl Marx (1818-1883) é outro pensador que fez uma crítica social profunda acerca da acumulação de capital na nascente sociedade do mundo moderno: o capitalismo.
Para ele, é irracional ter poucos donos de propriedades privadas nadando em dinheiro ao passo que muitos proprietários da força de trabalho sofrem com a falta de tudo, inclusive o básico para a sobrevivência. Por exemplo, durante a pandemia do coronavírus, que atingiu o mundo todo, a riqueza dos bilionários aumentou em cerca de US$ 5 trilhões. Dessa forma, o ranking da Forbes tem 2.755 bilionários, cuja riqueza, somada, passa de US$ 13,1 trilhões, muito maior que os US$ 8 bilhões do ano anterior.
Quanta fome não daria para saciar com essa riqueza? Quantas moradias não dariam para construir com tanto dinheiro? Voltando o pensamento de Sêneca, o supérfluo sempre estará à mão de modo fácil, enquanto que a busca pela sobrevivência sempre vem à custa de sofrimento e trabalho intenso, o que abarca a grande parte das pessoas. Assim, a pergunta que encerra esse texto é: você é rico?
Fábio Luporini
Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.
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