“Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio porque as águas renovam-se a cada instante.” A frase, dita pelo filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso (aproximadamente 540 a.C. – 470 a.C.) representa sua metáfora de vida, que é um grande devir. O conceito se origina do latim devenire, que significa “vir a ser” e que quer dizer as mudanças e transformações pelas quais as coisas passam. Como a própria vida.
Para o pensador, a vida é um grande e constante movimento de mudança. Afinal, tal qual o rio segue o seu curso, nada é estático. Tudo se move, tudo muda. Inclusive o próprio ser. Não podemos dizer que uma pessoa é a mesma do que era na infância ou é igual a que era um ano atrás ou ainda pensa a mesma coisa que pensava há poucos dias ou horas. O ser é aquilo que é e o que vem a ser. Entender esse aspecto nos ajuda a compreender grandes mistérios da existência. Não o que significam, mas, ao menos, que eles existem.
Heráclito faz parte de um grupo de filósofos que vieram antes de Sócrates. Mas, ao contrário de muitos dos seus conterrâneos – chamados de filósofos da natureza porque buscavam entender a origem das coisas nos elementos naturais –, foi além e procurou entender a natureza do ser, não apenas sua origem. É um momento de transição no pensamento filosófico, que teria em Sócrates sua realização completa na compreensão do ser humano, o que o fez ser considerado até os dias de hoje um dos maiores filósofos que já existiram.
E é assim. O mundo é esse eterno devir, definido por Heráclito. Uma mudança que é certa, embora imprevisível. Se quando criança decidimos que seremos isso ou aquilo enquanto adultos, esse movimento de transformação faz parte de nós, mesmo que não tenhamos certeza absoluta se nos transformaremos naquilo que sonhamos.
Por isso é que não há problema algum que um estudante mude de curso durante a faculdade se decidir que não é o que quer mais. Ou que as pessoas se arrependam do que fizeram um dia. Ou ainda inúmeras possibilidades de mudar de opinião, de decisão, de roupa, de casa, de amigos e de tudo o mais. Tudo muda. E se permanecemos do mesmo jeito, segundo Heráclito, estamos na contramão da vida. Vale o dito popular: aceita, que dói menos.
Foto: Pixabay
Fábio Luporini

Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.