Adentramos a uma nova década. Um novo ciclo. O ano novo traz novas possibilidades, mas, 2020 vai precisar da filosofia como nenhum outro da contemporaneidade precisou até agora. A ascensão ao poder de governos, partidos, grupos e pessoas com características autoritárias leva consigo uma avalanche de repetições hierarquias e comportamentos além. Mesmo que grande parte queira sufocar os gritos filosóficos, a força dos questionamentos precisará se manter firme.
Será preciso questionar. Absolutamente tudo: algumas velhas práticas benéficas a uns, nem tanto a outros; falas, posturas, posicionamentos radicais (o mundo já viu que isso não dá certo, né?); ideologias, crenças, valores, normas, moralidades, éticas e comportamentos; e muitas outras questões que incomodam, as quais atraem para si a vontade de ignorar, de calar e de censurar.
Afinal, questionar é um incômodo porque nos leva a um exercício de pensar. E fazê-lo dói, principalmente quando a gente precisa olhar para dentro de si e acaba descobrindo respostas inconvenientes. Ou percebe que é necessário mudar de atitude, de direção, de caminho. Se Sócrates estivesse por aqui diria ser necessário a ironia e a maiêutica, o que significa perguntar e questionar (do grego iron) para trazer para fora o conhecimento, as respostas, a verdade.
Não é fácil buscar dentro de si a verdade das coisas, mesmo que ela nos desagrade. E, entretanto, extremamente necessário. Mais que isso, é fundamental e até benéfico. Acontece que, no mundo em que vivemos, seja no Brasil, no Japão, nos Estados Unidos ou no Irã – isto é, em qualquer lugar do planeta –, cada um está olhando apenas para o próprio umbigo, para seus interesses privados e particulares. E o que é pior, usando o argumento de que está preocupado com o bem público.
O próprio Sócrates dizia que está apto para governar os outros aquele que menos quer fazê-lo. Pois, esse, sim, não se preocupa com um interesse pessoal, seja a ganância ou outro qualquer, mas, devota-se ao coletivo, ao que é comunitário. Estão faltando essas pessoas. Sabe por que? Porque os absurdos e as loucuras pessoais (assim como as ideologias, as crenças e os comportamentos) estão dominando o espaço público. Questionar, portanto, é urgente!
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Fábio Luporini
Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.