Por Fábio Luporini
Circular por aeroportos no mundo inteiro é uma experiência surpreendente. O contato com pessoas de diferentes países faz com que a gente aprenda, entenda e passe a respeitar ainda mais as culturas diversas. Entretanto, vez ou outra a gente acaba passando por situações inusitadas. E aconteceu comigo um par de vezes. Algumas engraçadas, outras meio peculiares. No mínimo, estranhas. Vou compartilhar com vocês duas delas.
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Certa vez, lá pelos idos de 2015 ou 2016, eu voltada de uma viagem internacional pela Europa. Desembarquei em Guarulhos e esperava meu tio me buscar no aeroporto para uma carona até a rodoviária. Naquela época, a gente podia levar mala despachada. Hoje, a realidade é diferente. Enquanto eu estava sentado nas cadeiras esperando, uma moça jovem e bonita puxa assunto comigo. Aparentemente desesperada, ela pedia ajuda para se comunicar com o namorado.
Os detalhes? Ela era russa, não falava nada de inglês, muito menos português, e vinha ao Brasil pela primeira vez, para conhecer o namorado virtual. Não sei como, mas fui me entendendo com ela. No aplicativo tipo Facebook, conversei com o rapaz, orientei onde ela estava aguardando-o e, para minha surpresa, a russa ficou tão contente e agradecida, que tirou da mala um punhado de doces russos e me fez trazer tudo. De fato, comi e eram deliciosos! Hoje, penso que, talvez, desconfiaria se o namorado virtual não era um golpista ou se os doces não me fariam mal.
Culturas diferentes
O mundo mudou, afinal. Parece que ficou mais perigoso. Ou ficamos mais desconfiados. O que me levou à segunda situação, vivida recentemente. Ao esperar o meu voo no aeroporto de Frankfurt, comprei um vinho alemão e um pão com a típica salsicha deles. Sentei-me ao lado de uma mulher bonita, vestida com uma roupa imponente, trajada com brincos e colares brilhantes. Negra, parecia uma rainha africana. Ao lado dela, duas crianças e outra moça, vestida de modo simples.
Num primeiro momento, a mulher me perguntou se o que eu tomava era vinho. Disse que sim. Ela quis saber quanto eu havia pagado. Contei e mostrei a ela onde. Mais de uma hora depois, ela se levantou e retornou após alguns minutos. Nesse meio tempo, tanto ela quanto eu estávamos cada qual esperando o voo a seu modo: ela conversava ao telefone enquanto eu navegada nas redes sociais e atualizava alguns trabalhos. De repente, ela me pergunta se eu não podia comprar um vinho para ela, mas, em vez de branco como eu estava degustando, ela preferia tinto.
Fiquei sem entender muito bem, mas ela foi dizendo que não podia simplesmente comprar um vinho. Que eu era homem e esse “dever” era meu. Pensei que, por alguma razão religiosa ou cultural, ela não podia comprar o vinho. Mas, na realidade, ela queria que eu mesmo oferecesse o vinho a ela. Noutros tempos, até teria comprado. Todavia, hoje em dia, preferi me fazer de desentendido e vazar dali. Afinal, não sei quem é, não sei o que queria e não sei o que poderia ter acontecido. Talvez ela tenha esperando o voo internacional para degustar um vinho ofertado pela companhia aérea.
De qualquer modo, esse choque entre culturas e costumes é um verdadeiro aprendizado. Por isso – e por tantos outros motivos – defendo que as pessoas viagem cada ver mais!
Fábio Luporini

Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.
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