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Conhecimento e tecnologia para que?

Um rápido giro pelas notícias do dia me faz deparar com manchetes como “iOS 15: iPhone terá chamadas com áudio espacial” e “Como será a viagem de Jeff Bezos com o irmão para o espaço”. Ambas me despertaram reflexões filosóficas profundas sobre o que o ser humano busca, na realidade.

Por um lado, parece que o homem quer desvendar todos os mistérios dos quais não têm controle, como a vida fora do planeta. Por outro, para realizar façanhas com essa, gasta bilhões de dinheiro que, na contramão, poderiam ser investidos para revolver problemas como fome, sede, segurança, saúde e educação.

Se Bezos, fundador da Amazon e um dos mais ricos do planeta, aplicasse sua grana de outra forma, o mundo poderia ser um lugar melhor. O espaço, não. Um dos lugares nessa aventura espacial custa US$ 2,8 milhões por apenas 10 minutos na fronteira entre a atmosfera terrestre e o espaço.

No caso da Apple, maior empresa de tecnologia do mundo, as chamadas com “áudio espacial” nada têm a ver com o espaço. É apenas um recurso tecnológico que permite parecer que o som vem de diversas direções, o que torna uma ligação por vídeo ou áudio mais imersiva. Entretanto, se a alta tecnologia fosse aplicada ao que verdadeiramente importa, o mundo também seria um lugar melhor.

Desde o início da filosofia, os gregos se preocupavam em conhecer o universo, conhecer a realidade das coisas, conhecer a origem de tudo. Para isso, filosofavam. E, diferentemente da mitologia, utilizavam o pensamento racional. Não há problema algum nisso. O problema é avançar tanto no conhecimento e na tecnologia e, ainda assim, não conseguir resolver problemas básicos das necessidades humanas.

Ainda tem gente passando fome, frio, sede, sem ter onde morar ou com inseguranças, sem acesso à saúde e educação, entre outras coisas. Realidade que poderia ser diferente se direcionássemos recursos e conhecimento no que, de fato, precisa. Ir para o espaço deixando a Terra nas condições em que ela se encontra, para mim, é fuga ou indiferença, não motivo de orgulho.

Fábio Luporini

Sou jornalista formado pela  Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.

Foto: Pixabay

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1 comentário

  1. Bezos, diferente de Gates, não é filantropo, o gasto que faz com seu dinheiro não é ilegal nem mesmo antiético, pois se tratando de recurso que lhe compõe o patrimônio privado, fruto de lucro obtido legalmente, não há nada que lhe impeça de fazer o que bem entender. A inanição que assola diferentes povos, por outro lado, revela-se uma realidade perversa quase sempre decorrente de más políticas públicas ou a ausência dessas. Atuais cenários de guerra civil como Etiópia e Venezuela levam a fome não por falta de recursos, mas em razão do conflito instalado. A capacidade produtiva mundial há tempos supera a necessidade alimentar global, o fato de esses recursos não chegar a todos decorre quase sempre da ação ou omissão do regime que controla o Estado. Essa é uma questão que o dinheiro dos ricos não resolverá, sem adentrar ao mérito da desigualdade, pois se trata de questão de poder, é necessária a efetiva ação das nações para a garantia do sustento básico independente de ideologia, política ou preferências, algo que está nos objetivos do milênio, mas que os interesses das diversas nações impedem que ocorra um diálogo franco para suprir o elementar sem boicotes, vetos ou medidas que exigem algo em troca. Usar a fome como moeda de troca não é um preço a se pagar para se exigir mudança, pois quem paga sempre será aquele que já sofre dos problemas existentes.

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