Mais de 2,5 mil anos se passaram e parece que tem gente que ainda não saiu da caverna de Platão. Ou, pior ainda, que continua a crer nos monstros marinhos da terra plana. Mais que isso, há pessoas que desprezam a vida porque negam a ciência, que nasceu junto da filosofia lá na Grécia Antiga. Ou seja, resumindo, querem voltar a viver numa ignorância já superada pelo desenvolvimento da humanidade. E com apenas um objetivo: assim é mais fácil dominar o outro pelas correntes que prendem e cerceiam a liberdade.
Ora, Platão é muito claro em seu Mito da Caverna. Os homens vivem presos por correntes no interior de uma caverna escura iluminada apenas por uma fogueira ou pela luz do sol. As sombras que veem na parede, pensam ser a realidade, que está ampliada e projetam monstros irreais. Até que um deles se desprende e faz o caminho inverso, de saída da caverna. Chegando lá fora, se dá conta de que o mundo é bem diferente. E volta para alertar os outros da realidade que os espera. Em vão, porque muitos, assim como hoje em dia, preferem a ignorância que a verdade.
É assim que estamos vivendo em plena pandemia do coronavírus. Muitas e muitas pessoas negam a vacina, até contraírem a doença. Muitos negam a verdade, até serem traídos pela mentira. Aqui no meu whatsapp tem uma senhora, formada com mestrado e doutorado, e que insiste em enviar mensagens contraditórias pela lista de transmissão. Numa hora, propaga as fake news contra a vacina e contra uma série de coisas. Noutra, pede orações pela neta internada com Covid-19. Parece incoerência. Em vez de defender a vida, difunde a morte. E se desespera quando a morte ronda a vida.
Alguns discípulos de Sócrates aprenderam a lição. Fundaram o cinismo, corrente filosófica que acredita no desprezo pelos bens materiais e pelo prazer em favor da vida verdadeira. Creem que o valor da vida não se dá por propriedades disso ou daquilo e que o prazer afasta o ser humano da verdadeira felicidade. Justamente o contrário de certos negacionistas, que se agarram à vida mundana e se afastam da vida real. O desprezo pela vida não pode ganhar terreno em pleno século XXI, com tantos avanços filosóficos e científicos.
Fábio Luporini
Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.
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