A cada década, o Brasil se vê envolvido no, até então, maior escândalo de corrupção do país. Só para citar a história recente da democracia – porque, afinal, durante a ditadura militar os órgãos de controle e fiscalização eram censurados e silenciados –, vieram o Mensalão, o Petrolão, a Lava-Jato e, agora, o Vacinoduto. Ao mesmo tempo, assistimos inertes à notícia das mais de 500 mil mortes por Covid-19. O que aconteceu que nossa sociedade parece normalizar e relativizar assuntos tão sérios e graves como esse?
Por um lado, é a falta de uma educação política e cidadão da qual padece o brasileiro há décadas. Ter uma educação assim não é o que querem os militares fardados de políticos. Pelo contrário, é permitir uma pedagogia crítica e reflexiva acerca dos problemas que afetam a sociedade, com discussões em sala de aula sobre o que acontece nos palácios governamentais. Ou seja, é preciso desalienar o povo, que diz não gostar de política e, diante disso, muda de canal na televisão ou de assunto no bar.
De outro lado, as justificativas pairam sobre o cumprimento de ordens. Não comprou vacina porque alguém mandou, não fez o certo porque alguém ordenou. É mais ou menos o tipo de análise que faz a pensadora Hannah Arendt, quando analisa, a partir do julgamento de Eichmann, um alto oficial nazista, as consequências, justamente, de cumprir ordens sem refletir, discutir ou questionar: milhares e milhares de judeus foram torturados, mortos e exterminados porque as pessoas “obedeceram” uma ideologia genocida.
Estamos, novamente, à beira de um genocídio humanitário porque as pessoas, alienadas que são, insistem em cumprir ordens, justificar ou relativizar as ações de um governo, um governante e de uma ideologia que, ao que tudo indica, não está interessada em salvar vidas ou em melhorar a vida das pessoas. Então, até quando vamos relativizar as atitudes e ações, ou melhor, a culpa de pessoas cuja única obrigação é zelar por quem as colocou no poder? Não interessa se é de esquerda, de direita ou de centro: todos alçados aos cargos de governo são os únicos responsáveis e que devem à população, justificativas e explicações. Não o contrário.
Fábio Luporini

Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.
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