Por Fábio Luporini
A imposição de uma visão sobre outra, de uma ideologia sobre outra, é uma grande falta de caráter, de honestidade e de transparência. Uma coisa é você ensinar ou transmitir um conhecimento científico, cristalizado ao longo dos anos e fundamentado com pesquisas e experimentos, mesmo que isso mude e seja alterado. Outra coisa é você ensinar e transmitir um pensamento particular, de uma ideologia específica, sob o argumento de que é a certa ou a verdadeira.
O caso da juíza que “orientou” uma criança estuprada e grávida a desistir do aborto legal a que ela tinha direito, por exemplo, evidencia a falta de escrúpulos ao se impor um tipo de ideologia pessoal quando se deveria garantir a legalidade. A sociedade é múltipla, diversa e reúne uma série de visões distintas, que devem ser garantidas e respeitadas, principalmente, por aqueles agentes públicos que foram designados para esse tipo de função.
Em pleno século XXI, no ano de 2022, não é possível mais aceitar que uma ou outra visão de mundo sejam impostas a toda a pluralidade social. Isso é coisa do passado, de um tempo que não se volta mais, de uma época [medieval] que já se foi. É preciso considerar as diversidades. Tal qual a filosofia que, ao longo de mais de dois milênios, conheceu inúmeras maneiras de entender, compreender e pensar o mundo. Desde os pré-socráticos, seguidos dos clássicos, passando pelos medievais até chegarmos à modernidade.
Na modernidade, a pluralidade do pensamento filosófico se intensificou e se aprofundou, abrindo caminho para que o pensamento único não fosse mais o tipo de pensamento dominante, qualquer que fosse a ideologia. A grande riqueza das contribuições filosóficas nesses dois milênios é, justamente, permitir que, hoje, possamos olhar para cada uma delas e levar em conta aspectos de todas, construindo um conjunto de pensamento rico e diverso. E é assim que se deve incentivar a sociedade como um todo, desde sempre, a respeitar a diversidade e a pluralidade de pensamento.
Fábio Luporini
Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.
Foto: Pexels
1 comentário
Receio que o futuro será de trevas, onde grupos ideológicos e fanáticos dominarão o mundo, mais uma vez. Eles chegaram ao poder político, numa aliança terrível entre política e religião.
Basta ver os movimentos nazi-fascistas que estão crescendo, movimentos anti-vacina, terraplanistas e todo tipo de pensamento estúpido aqui e ali. A defesa do ensino domiciliar……….
Estaremos aqui lutando em prol da democracia e da República.