Quero? Posso? Devo?

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Quero? Posso? Devo? A essas perguntas, nossas respostas se norteiam por um conjunto complexo de valores, alguns universais enquanto outros específicos de cada cultura. Noções de certo e errado, permitido e proibido e do que se pode ou que não se pode fazer. O filósofo londrinense Mario Sergio Cortella, referência no Brasil, diz que “nem tudo que eu quero, eu posso; nem tudo que eu posso, eu devo; e nem tudo que eu devo, eu quero”. Por vezes há conflitos entre nossas vontades, nossos desejos, nossos sentimentos e nossos deveres.

Para resolver desses “detalhezinhos” da nossa consciência, o filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804) propõe o que chama de imperativo categórico, uma espécie de imposição de deveres pela nossa consciência de princípios a partir dos quais se considera ideal que fosse aplicado universalmente. Valores morais que, na realidade, deveriam ser seguidos por todos os seres humanos, em qualquer parte do mundo, independentemente de qualquer diferenciação cultural.

Antes, porém, é preciso por à prova qualquer princípio que se pretenda submeter aos outros. Como? Aplicando-o consigo mesmo. Traduzindo: o que fiz, faço ou farei seria bom se o fizessem comigo? Seria justo? Seria ético? E assim por diante. Até que, segundo Kant, se estabelecem ao menos três fórmulas do imperativo categórico. Lei universal, fim em si mesmo e legislador universal. Resumindo muito bem resumido, juntando um pouquinho de cada e traduzindo num formato bem popular, significa dizer que o que nós gostaríamos que fizessem conosco devemos fazer aos outros.

Afinal, quantas situações do cotidiano se deparam conosco e, diante delas, entramos em conflito: quero? Posso? Devo? E tantas foram as vezes que nos arrependemos profundamente depois, justamente porque escolhemos fazer o que queríamos, embora não devêssemos! Ou boas foram as consequências das vezes em que optamos por fazer algo que deveríamos em vez do que gostávamos e o resultado apareceu. Demorou, mas apareceu. A vida será sempre esse dilema entre as possíveis escolhas de querer, de poder ou de dever. Sábio é aquele que, norteado por princípios universais, se deixa levar pelos deveres morais em vez das vontades e dos poderes.

Foto: Visual Hunt

Fábio Luporini

Sou jornalista formado pela  Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.

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