Até quando seremos passivos diante dos preconceitos brasileiros?

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Não é possível dizer que não exista racismo no Brasil. Mais: preconceitos, em geral. Da mesma forma que não se pode dissocia-lo(s) da estrutura sobre e pela qual foi construído, cristalizado e enraizado no DNA brasileiro. Pior: tem, cada vez mais, saído do armário nesses tempos malucos e tristes que estamos vivendo, nos quais virou moda dizer o que pensa sem considerar o respeito pelo outro.

O filósofo político Norberto Bobbio tem uma explicação para isso. De acordo com ele, o preconceito é uma opinião ou um conjunto delas errôneas sobre algo ou alguém, pensadas irracionalmente. E que só se é levada em conta porque corresponde aos desejos de alguém, porque vai ao encontro do que as pessoas pensam, de suas paixões e de seus interesses. É muito forte dizer isso sobretudo, porque nos leva a perceber que há muitas pessoas que, de fato, pensam e acreditam nos preconceitos que vomitam.

Muitos se escondem sob o hoje conhecido mito da democracia racial, até há pouco tempo – e ainda, em grande parte – crível no país, teoria discutida pelo historiador e sociólogo Gilberto Freyre, na obra Casa Grande & Senzala. Por esse pensamento, o brasileiro é fruto de uma miscigenação e, assim, vive em harmonia com as diferentes raças. É verdade que somos um povo miscigenado. Disso não há dúvidas. Entretanto, isso não quer dizer que essa mistura tenha resultado numa igualdade de oportunidades e acessos na sociedade. Ao contrário, a miscigenação tinha limites muito bem delimitados pela elite brasileira.

Gilberto Freyre, inclusive não nega que tenha havido violência e desigualdade. Mas, suas teorias seguem pelo caminho da harmonia racial. E assim foram e são utilizadas por quem quer que seja. Por outro lado, o pensador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda enxerga o brasileiro como amável, dócil, gentil: é a teoria do homem cordial, fruto, justamente, da miscigenação. E é aí que, talvez, resida a passividade do brasileiro, que assiste sentado às atrocidades preconceituosas que se registram por aqui, mesmo se indignando com o que se observa em outros países. A pergunta que hoje deixo no ar é: até quando?

Fábio Luporini

Sou jornalista formado pela  Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.

Foto: Life Matters no Pexels

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