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Mank e as entranhas de Hollywood

Com os números do coronavírus subindo novamente, a melhor opção é ficar em casa, na medida do possível. Pra quem viu e também pra quem não viu o Cidadão Kane de Orson Welles, Mank é a melhor opção do streaming, para este final de semana.

Indubitavelmente Cidadão Kane (Orson Welles – 1941) é um clássico do cinema, sempre referenciado como um dos melhores filmes já produzidos pela indústria cinematográfica. A Netflix lançou na sexta-feira o filme Mank, apelido carinhoso do polêmico Herman J. Mankiewicz, o co-autor do roteiro de Cidadão Kane.

Dirigido por David Fincher (Clube da Luta, 1999 – Garota Exemplar, 2014), genialmente a trama de Mank se desenvolve toda em forma de roteiro, em forma de flashbacks do protagonista, assim como os flashbacks do magnata Charles Foster Kane em Cidadão Kane. Desta maneira o filme cresce em sua forma, situando todo o contexto na era de ouro de Hollywood, com seus casarões medidos em hectares, a grande depressão, a ganância dos estúdios, a miséria. E percebemos que nosso conturbado 2020 está bem parecido com 1930.

Apesar de ter que se desdobrar para atender aos pedidos de Fincher, tendo que decorar as falas em grande velocidade, Gary Oldman (O Destino de uma Nação, 2017) interpreta Mank impecavelmente, mostrando várias faces da sua polêmica e alcoólica personalidade.

A direção de fotografia fica por conta de Erik Messerschmidt (Garota Exemplar, 2014). A pedido de Fincher, Messerschmidt também emula Cidadão Kane em sua fotografia. O filme é todo em preto e branco, com cenários cheios de detalhes iluminados com dezenas de holofotes discretos, como se estivessem encapsulados em globos de neve. Metáfora usado por Welles para representar a época de inocência de Kane.

Uma coisa que precisa ficar bem clara antes de você começar a ver o filme; Mank não polemiza a famosa questão dos créditos de Cidadão Kane, sobre de quem é realmente a autoria do roteiro, se é de Mank ou de Welles. O filme aborda as entranhas de Hollywood de forma desglamourizada, discute o poder das imagens, da informação e da desinformação, tudo muito alinhado a 2020.

Assim como Cidadão Kane, certamente Mank vai estar presente na cerimônia do Oscar a noite toda, premiação após premiação. Mais um filme incrível de Fincher.

Marcelo Minka

Graduado em licenciatura em Artes Visuais, especialista em Mídias Interativas e mestre em Comunicação com concentração em Comunicação Visual. Atua como docente em disciplinas de Artes Visuais, Semiótica Visual, Antropologia Visual e Estética Visual. Cinéfilo nas horas vagas.

Foto: Divulgação

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