Ao contrário da temperatura ambiente que estamos enfrentando no dia a dia da cidade, os cinemas voltam a apresentar estreias frias e insípidas.
A estreia mais comentada é do filme Rambo: Até o Fim (ação), dirigido por Adrian Grunberg (Jack Reacher) e estrelado por Sylvester Stallone. O personagem Rambo é tão icônico no cinema que, midiaticamente, Stallone se funde e se confunde com seu personagem mais famoso, tendo uma importância relevante no imaginário coletivo.
Quase quatro décadas após o lançamento do primeiro “Rambo: Programado para Matar”, percebemos que “Rambo: Até o Fim” se distancia dos principais elementos que consagraram a série, não só os visuais, como a selva, mas também do formato do roteiro, que agora gira em torno de resgates, apresentando novas perspectivas da personalidade do sexagenário John Rambo.
Mesmo assim, o diretor Grunberg não consegue aprofundar aspectos desta personalidade, talvez para reforçar o estereotipo do macho que não chora, ou pela limitação de Stallone como ator, ou mesmo por questões criativas do roteiro. A única coisa que conseguimos captar desta rica personalidade, é que ela não consegue trabalhar suas frustrações, como um macho que não chora.
Com relação à linguagem cinematográfica utilizada, podemos dizer que em determinado momento se torna irritante, como um adolescente que não sabe porque está no mundo e fala de si mesmo ininterruptamente. À medida que a trama simplista se desenvolve, flashbacks se mostram e vozes ecoam na cabeça de Rambo, tudo de maneira excessiva e redundante. Este tipo de narrativa já era datada nos primeiros “Rambo” lá nos anos 80, e não foi tão usada e abusada como neste “Rambo: Até o fim”. Para piorar a situação, a montagem tenta deixar a trama mais sofisticada, mais mental, e toda esta linguagem cacofônica mais confunde do que esclarece o espectador.
Percebemos que a franquia se tornou vaga, perdendo sua contemporaneidade, não tendo nada mais pra contar, se é que um dia teve. “Rambo: Até o Fim”, cenas de ação com um confronto final, corpos trucidados e cabeças explodindo. Onde os homens não choram, onde as mulheres são frágeis, onde os mexicanos são corruptos e ineficientes. Coisas da natureza humana.
Foto: Divulgação
Marcelo Minka
Graduado em licenciatura em Artes Visuais, especialista em Mídias Interativas e mestre em Comunicação com concentração em Comunicação Visual. Atua como docente em disciplinas de Artes Visuais, Semiótica Visual, Antropologia Visual e Estética Visual. Cinéfilo nas horas vagas.