O que se deve dizer em primeiro lugar é que 1917 é uma aula técnica e estética de cinema, sem grandes pretensões intelectuais, mas com cenas de cair o queixo. Dirigido por Sam Mendes (Beleza Americana – 1999) que está no auge de sua maturidade cinematográfica, o filme conta com uma produção impressionante e nos traz a esperança de que, em matéria de criatividade, nem tudo está perdido em Hollywood.
Sim, 1917 é mais um filme de guerra e por vezes nos remete aos manjados O Resgate do Soldado Ryan, Nascido para Matar, Apocalipse Now e até mesmo ao poético Além da Linha Vermelha, do Terrence Malick. Mas, por incrível que pareça, Sam Mendes consegue ser original. A narrativa acontece visualmente em um único plano-sequência (sem cortes), algo impossível para uma produção dessa magnitude. Desta forma, o diretor se apropria das mesmas técnicas que Hitchcock utilizou em seu Festim Diabólico de 1948, utilizando cortes visualmente imperceptíveis na narrativa, ou seja, um pseudo plano-sequência.
Protagonizados por nomes não conhecidos do grande público, George Mackay e Dean-Charles Chapman que convencem em suas atuações, o filme mostra a guerra apenas como pano de fundo, o foco é na humanidade de seus personagens.
A direção de fotografia ficou por conta de Roger Deakins (Como treinar seu Dragão 3, Blade Runner 2049), e de certa maneira Deakins co-dirige o filme, temos que considerar que todo o cenário desenvolve a trama de maneira orgânica com o uso abundante da luz natural e de lentes fixas, para que cada ação aconteça exatamente quando tem que acontecer, diminuindo os riscos de perder o ritmo bem marcado do plano-sequência.
A história toda do filme se desenvolve em apenas um dia, estruturando a trama simples com rapidez vertiginosa em um cenário desolador e melancólico. Um dos favoritos ao Oscar deste ano (10 indicações), assistir 1917 é uma experiência imersiva e intensa, cheia de adrenalina. Uma grande experiência cinematográfica.
Foto: Divulgação
Marcelo Minka

Graduado em licenciatura em Artes Visuais, especialista em Mídias Interativas e mestre em Comunicação com concentração em Comunicação Visual. Atua como docente em disciplinas de Artes Visuais, Semiótica Visual, Antropologia Visual e Estética Visual. Cinéfilo nas horas vagas.