Comecei a dar aulas de arte em 1993 e foi por pura necessidade que acabei descobrindo que eu gostava muito de dar orientação sobre técnicas, história da arte e leitura de obras. Só quem gosta sabe do que estou falando…
Ensinar já é complicado, entrar no mundo subjetivo de outra pessoa pode ser instigante, mas também é uma responsabilidade enorme! Além de empatia, é necessário saber o máximo das técnicas possível!
E o mais importante: entender o processo de criação de cada um… Enquanto uma pessoa organiza seu mundo interno com tintas e pinceis, outra precisa apenas de um papel em branco e um lápis de cera. Outra ainda com nanquim ou aquarela…
Tantas técnicas e jeitos diferentes que é praticamente impossível saber tudo, mas é necessário ao menos estudar as varias formas do fazer. E claro, uma boa dose de estudo de psicologia! Quando se está orientando alguém, é como se entrássemos no mundo interno daquela pessoa e enxergássemos a alma dela… É sério!
E é impressionante a diversidade de padrões que se revelam. Várias pessoas aprendendo sobre a mesma técnica, por exemplo: a pintura. A essência da pintura é mancha sobre mancha, só isso já basta para surgirem uma miríade de formas, figuras… Janelas de mundos diferentes que se abrem!
Uma informação muito importante para quem dá aulas de arte: é absolutamente necessário ter seu próprio trabalho funcionando, manter a produção! Só assim, para “trabalhar ” junto com os alunos, sem interferir diretamente nas obras. Existem muitas pessoas que dão cópias! Pessoalmente abomino!
A única forma de aprender arte é FAZENDO arte!
A missão do orientador é mostrar os materiais, como funcionam e entender que cada um vai ter um as forma diferente de fazer o trabalho. E perceber de que forma vai ajudar a desenvolver mais e mais a criatividade de cada um!
Professor não deve pegar o pincel do aluno e pintar por ele!
Outra coisa importante é o tempo! Um curso de artes pode durar anos, pois cada técnica envolve muitas ramificações. O desenho, por exemplo, pode ser com grafite, lápis de cor, tinta, giz de cera, giz pastel, sanguínea…. Cada uma delas tem, no mínimo, três formas diferentes de execução!
Que dirá da cerâmica, gravura, pintura, mosaico, instalações…
Lembrando que nem todo artista é professor de artes, mas que todo professor deve ser artista! A formação de professores de artes no país é absurda! Cada ano saem das faculdades várias pessoas que vão ensinar arte para crianças e adolescentes e elas mesmas não tem condições de desenvolverem a criatividade de ninguém, que dirá orientar uma pessoa que poderá, um dia, seguir a profissão de artista…
A formação dos professores precisa ser mudada, e eu acredito que para fazer a faculdade de artes, o aluno deveria mostrar suas obras, sua experiência e não apenas fazer uma prova e uma prévia!
Quem sabe assim poderíamos formar pessoas que iriam gostar de arte e respeitar, como acontece em países de primeiro mundo.
Bom, o que esperar de um país que politico é tratado como “doutor” e que escolas, sejam públicas ou particulares, não tem salas de arte, fora o salário ridículo dos professores! Um professor que fala do Museu do Louvre, mas que não tem condições financeiras para ir para França! E nem para pesquisas mais profundas na sua área de atuação.
Fiquem bem! Boa semana!
Angela Diana
Sou londrinense e me dedico à arte desde 1986 quando pisei pela primeira vez no atelier de Leticia Marquez. Fui co-fundadora da Oficina de Arte, em parceria com Mira Benvenuto e atuo nas áreas de pintura, escultura, desenho e orientação de artes para adolescentes e adultos.
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