Restauração x revitalização

restauro

Muitas pessoas confundem esses dois termos, mas existe uma grande diferença entre eles: restaurar é deixar as obras em sua forma original. Restauradores precisam passar por faculdades de artes e vários cursos técnicos e de história pois precisam, inclusive, saber que tintas ou técnicas foram usadas no desenvolvimento da obra.

Conhecer a biografia do artista profundamente e seu processo de criação é importantíssimo, pois cada pincelada ou traço fala muito da técnica, datação histórica e muito mais… Se a obra é conhecidíssima, como a Monalisa de Da Vinci, a responsabilidade do restaurador é ainda maior. Cada pedacinho do quadro passa por vários processos, como raio x ou técnicas com uso do microscópio. Aliás, o conhecimento sobre química é importantíssimo para que o processo dê certo. Nem todo mundo pode ser restaurador, é uma profissão séria e grandes museus não abrem mão!

Existe, inclusive, uma discussão que busca fazer a comparação de durabilidade das obras de 500 anos atrás com as de hoje por causa dos materiais mais voláteis, por assim dizer, que temos! Todos os museus deveriam ter restauradores e estrutura, as obras contemporâneas também precisam de cuidados. Isso por causa da poluição, aumento de carros, poeira, calor ou frios excessivos. Essas condições tem corroído grandes obras com menos de 100 anos. Alguns materiais como óleo de linhaça ou pigmentos eram mais duráveis e confiáveis. Como tudo tem seu lado bom e ruim, temos hoje em dia materiais fantásticos e em grande número. Hoje, se o artista quiser, pode comprar suas tintas em potes e já misturadas, quando no século passado muitos ainda faziam suas tintas e pinceis…

E, justamente para mostrar como funciona esse processo, o Rijksmuseum, de Amsterdã, está realizando a restauração da obra “Ronda Noturna” de Rembrant. O quadro e os restauradores estão trabalhando dentro de uma redoma de vidro para que o público conheça todo o processo. Envolver as pessoas é o primeiro passo para conseguir apoio financeiro para o museu e para que seja reconhecido o esforço de profissionais que mantem uma obra que é guardada pelo museu, mas que pertence a todos nós!

Revitalizar já é outra coisa! Escuto muito dizerem que tal espaço ou obra vão ser restauradas e isso não é verdade. Mal e mal alguns logradouros públicos, principalmente, são “revitalizados” de verdade, que dirá “restaurados”. Obras revitalizadas passam por processos de customização, mudam de cor e até forma… a restauração, como já foi dito, é deixar uma obra em seu estado original.

Escuto muito também falarem assim, sobre restaurações de monumentos antigos como as igrejas em Minas Gerais: ”É tudo velho, para que gastar dinheiro”, ou “Façam outra!” Pura ignorância de um povo sem memória, como somos nós brasileiros! Não conseguimos nos lembrar nem em quem votamos, não sabemos da história do nosso país e nem nos importamos, muita gente acredita que coisa “velha” fica em museu!

Nossos museus são sucateados, roubados e agora pegam fogo! Nossas grandes obras de arte são compradas por colecionadores estrangeiros porque nossos museus não tem verbas ou não têm profissionais para resgataram e criarem acervos de respeito. Não conseguimos entender que um povo sem memória e sem história é um povo sem autoestima, sem consciência das suas riquezas, e o Brasil é um país extremamente rico.

Somos ricos de recursos naturais, água potável, pré-sal, urânio enriquecido, ouro, prata, pedras preciosas, mão de obra especializada, artistas, cultura, folclore, florestas, remédios naturais, matérias primas …. Precisamos tanto REVITALIZAR OS MUSEUS e termos RESTAURADORES, para todas as obras que sejam necessárias para nossa história como brasileiros. Seguimos tantos exemplos errados de vários países e sempre me pergunto: porque não seguirmos o que dá certo? Manter nossa cultura, transformar a arte em algo básico como água, luz, comida, telefone celular, implantar o que deu certo!

Eu sei! Muitos vão dizer: se somos tão ricos aonde está esse dinheiro? Todos nós sabemos a resposta. E, com isso, com a corrupção e o malfadado “jeitinho brasileiro”, nosso país vai sendo corroído como um câncer e nossa história vira cinzas a olhos vistos.

Enquanto museu por aqui for sinônimo de “lugar para guardar coisas velhas”, cada brasileiro vai perdendo sua identidade e autonomia… Fica a reflexão para hoje!

Bom resto de semana pessoal!

Foto: Estátua Nossa Senhora das Graças – revitalização de peça feita sob encomenda para a Paróquia Nossa Senhora Aparecida (Acervo Pessoal) 

Angela Diana

Sou londrinense e me dedico à arte desde 1986 quando pisei pela primeira vez no atelier de Leticia Marquez. Fui co-fundadora da Oficina de Arte, em parceria com Mira Benvenuto e atuo nas áreas de pintura, escultura, desenho e orientação de artes para adolescentes e adultos.

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