Por Ângela Diana
Obrigada a quem teve paciência de esperar. Quase que essa coluna não sai hoje porque tive uma inspiração para outra coluna. Mas, agora de manhã, bateu a vontade de terminar e redigi rapidinho, deixando a Telma Elorza, que edita essa coluna, quase louca. Continuemos. Quem não lembra da última parte, leia aqui.
E lá estava eu, novamente no albergue em Nova York, meio perdida, porque como ia sair para conhecer a cidade sem saber a língua? Foi daí que, na cozinha comunitária, na hora do café, três brasileiros estavam conversando e percebendo que eu também era brasileira me puxaram para a conversa. Um era o seu Luiz, um senhor viajado; o outro, que infelizmente não lembro o nome era um arquiteto de Caxias do Sul, super gente boa, e outro um rapaz carioca que veio encontrar amigos na cidade.
Logo fiz amizade com seu Luiz que, gentilmente, me falou que já conhecia a cidade, mas me serviria de guia, e assim foi…. Saiamos de manhã e ele me mostrou toda cidade e fiz amizade com o arquiteto gente boa e conversamos muito de arte! Inclusive eu era fã de um artista da cidade dele e por “coincidência”, ele tinha vários postais do artista. Mas isso, gente, não foi o importante…
O mais importante foram os sinais… Só me toquei que estava na cidade, na Big Apple, quando vi a Estátua da Liberdade. Para vocês saberem sou fã do livro “Fernão Capelo Gaivota” e tem uma passagem que Fernão fala para seu discípulo: “se você quiser chegar em algum lugar, saiba que já esta lá!” Pois bem, eu me sentei na ilha, olhando para aquele ícone verde claro, lindo demais, segurando a tocha para iluminar o caminho e nisso uma das várias gaivotas da ilha parou perto de mim. E ficou me encarando.
É. Você já foi já foi encarado por uma gaivota? Eu, achando aquilo engraçado, comecei a falar com ela, como se ela fosse o Fernão Capelo (o povo deve ter achado que eu era doida!). De repente, me deu uma espécie de catarse, um vazio total, como se eu estivesse flutuando num vazio e ouvi uma voz muito clara me dizendo, como se o Fernão fosse eu! “Pois é, Fernão, quando você quer estar em algum lugar, você já chegou lá!”
Daí, eu voltei, estava no banco, olhando para a Estátua da Liberdade, tendo a consciência que eu não tinha a mínima condição de estar lá sem ter ganho o prêmio, mas que sempre foi um dos lugares que sempre “me pertenceu”… foi um insight que me guiou a vida toda.
A noite, fomos numa pizzaria cujo o dono era italiano e chamava Frank (filme do Coppola, gente). Nisso disse pra ele que levei várias telas enroladas e ele quis ver! Quando chegamos no albergue, falei com Deus que eu queria ter o gostinho de vender uma tela, nem que fosse por 20 dólares, só pra dizer que vendi! Peguei as telonas, espalhei pelo corredor do albergue e, sim! Essa foi a melhor expo que já fiz na vida.
Vários jovens do mundo todo, passavam pelo corredor, paravam, olhavam, admiravam, comentavam, e meu colega traduzia para mim, as pessoas olhavam com um interesse que nunca vi aqui. Meu colega gostou de uma telinha, enrolei e dei para ele. Daí ele foi buscar os postais do artista que eu queria, e voltou com os postais numa mão e na outra mão uma nota de 20 dólares! Ele olhou bem nos meus olhos, colocou a nota na minha mão e me disse seriamente: “isso é um preço simbólico, nunca mais dê suas obras, venda”!
No outro dia, todos íamos embora, me despedi do seu Luiz, do nosso colega arquiteto, e fiquei esperando no salão do albergue ate chegar o ônibus que me levaria para o aeroporto. Quando vi um iraniano, que também falava espanhol, arrumando várias peças de metal numa mala, uma delas era um pote de alumínio com uma bela figura de anjo gravado. Conversamos sobre arte e sobre anjo e ele me deu uma pulseira que tenho ate hoje.
Resumo de toda essa série: sem a coragem que tive que adquirir para ir nessa viagem jamais teria montado a oficina de arte contemporânea com Mira Benvenuto e, com isso, perderia metade de histórias, honras e glórias (como dizia Renato Russo).
A cidade de Nova Iorque é cheia de anjos, esculturas, pinturas, murais, foi lá que tive o toque de me reconectar com todos os anjos que fazem parte da minha vida desde que eu era criança, inclusive tenho a figura que ficava na parede do meu berço ate hoje.
Por causa da viagem, pesquisei e pintei anjos por quatro anos, tive coragem e resiliência para enfrentar a dura vida de ser artista nesse país! Sofri quando assisti ao vivo as torres gêmeas caindo, pois eu as conheci, e chorei sim! Nova Iorque é do mundo… Podem me chamar de capitalista, nem ligo (pois sou anarquista e tô nem ai pro que acham de mim), mas me apaixonei pela cidade, como se já a conhecesse, e, às vezes, quando estou andando na rua, me vem o cheiro de lá!
O mundo é muito grande e tem muita história para contar. Talvez nunca mais volte para lá, mas a moral da história para mim foi a resposta que Deus me deu: “Ângela, seu caminho não vai ser fácil, mas você É artista e todos os anjos estarão com você, te guiando e protegendo, vá pra vida! E cumpra sua tarefa, eu estou te ouvindo e conheço todos os sonhos do seu coração”.
Que todos possam ter suas respostas mais profundas!
Nunca mais pensei em desistir! E só fiquei mais forte para isso!
Boa semana, pessoal!
Ângela Diana
Sou londrinense e me dedico à arte desde 1986 quando pisei pela primeira vez no atelier de Leticia Marquez. Fui co-fundadora da Oficina de Arte, em parceria com Mira Benvenuto e atuo nas áreas de pintura, escultura, desenho e orientação de artes para adolescentes e adultos.
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