Quem anda por Londrina hoje em dia, nem imagina como a cidade era agitada e uma esperança como polo cultural, nos anos de 1980. Durante todo o ano , além do festival de teatro que tomava conta da cidade, eram realizados o festival de musica, de dança e as exposições de arte.
Tínhamos a casa da cultura da UEL, essa que nos convidava para vários formatos de mostras. A maior delas foi a que aconteceu no espaço da rua Mato Grosso, todos os artistas mais significativos foram convidados e o resultado foi digno de uma das grandes mostras que existem no Brasil!
Os espaços de cada foram escolhidos conforme as tendências de cada artista, a exposição toda contou com um catálogo especial…Há meu ver, uma das melhores que participei. Depois disso, a Casa de Cultura encolheu suas atividades e nada mais se fez de tão importante para a cidade….A Casa de Cultura era extremamente atuante e parceira dos profissionais daqui.
Como já citei anteriormente, também tínhamos a galeria Banestado, a mais séria e competente que tínhamos na cidade. Existia uma banca de curadores convidados e os artistas escolhidos tinham apenas o trabalho de levar as obras para o espaço. Tudo o mais era feito pela assessoria da galeria, coisa que até hoje temos que fazer sozinhos por aqui, como contactar jornais , mandar e-mails, convites, etc. Atividades que eram feitos por eles, como em qualquer galeria de cidades atuantes.
A Secretaria de Cultura mantinha um cronograma de exposições e projetos visuais, como o Salão de Artes “Tempo de Natal”. Para quem não viveu a época, “salões de arte”, eram concursos que se faziam no Brasil todo, aonde os artistas eram premiados e participavam das exposições especialmente elaboradas pelos vários espaços. Os anos 80 e 90 foram recheados de salões, alguns extremamente importantes no país.
Contávamos também com o Salão dos Novos e com a Mostra Zumbi, sempre orquestrada pelo Agenor Evangelista (a única “sobrevivente” nesses tempos áridos de cultura na cidade. Parabéns Agenor, pela garra e de nunca desistir da mostra!)

Quando os festivais aconteciam, era obrigatório sair de uma peça no teatro e olhar uma exposição que estivesse acontecendo no momento, dentro do mesmo prédi. Ou sair de uma exposiçao na Galeria Banestado e ir para o Ouro Verde, depois de assistir algum espetáculo de música ou de teatro na rua. Esses programas faziam o parte da rotina de Londrina!
O Cine Vila Rica também era ponto importante na cidade, assistir uma grande estreia e depois andar pelo calçadão , de madrugada, sentindo o cheiro de inverno , sem medo nenhum de ser assaltado. Era simplesmente mágico!
Epoca de vários ateliers atuantes , como da Leticia Marquez, Yoshiya Nakagawara, Paulo Menten (in memorian) e tantos outros…Esses também com suas mostras em vários lugares, apresentavam pessoas de talento e artistas novos!
Londrina , no inverno, era quente com as apresentações de rua, e cheiro de flor na cidade…
Vi pelo facebook e nao sei se a notícia procede, que o Cine Vila Rica vai reabrir suas portas (se alguém souber de algo me fale). Esse movimento de “retorno”, de revitalizar o centro, deveria ir muito além do que simplesmente pintar os banquinhos do bosque de vermelho e azul….Talvez os órgãos públicos precisem ter uma aula sobre o que é REVITALIZAR, e assim todos ganham, o público, o comércio, a cultura!
Londrina foi também palco da vinda de grandes shows como da Rita Lee, Paralamas, Barão Vermelho, Sepultura, Milton Nascimento, Titã (aposto que muita gente lembra disso), isso tudo no bom e velho Moringão…
Sim, aconteciam os problemas como sempre. Um deles é que era muito difícil existir uma integração com os diferentes grupos na cidade,. Por exemplo, era muito difícil um artista plástico ser convidado para fazer cenários….uma pena, já que realmente a união faz a força….
Não posso esquecer de dizer que também tínhamos vários poetas e fotógrafos bárbaros na cidade e grandes escritores, além, é claro, de músicos e bandas. A Orquestra da UEL também atuante e o querido maestro Benvenuto!
Londrina era uma promessa…
Para terminar o texto de hoje sem parecer pessimista ou apenas saudosista, devo dizer que ainda temos muita gente boa por aqui e, talvez, pudéssemos transformar essa promessa em realidade. Como? Fica aí uma pergunta para se pensar.
Angela Diana

Sou londrinense e me dedico à arte desde 1986 quando pisei pela primeira vez no atelier de Leticia Marquez. Fui co-fundadora da Oficina de Arte, em parceria com Mira Benvenuto e atuo nas áreas de pintura, escultura, desenho e orientação de artes para adolescentes e adultos.