Por Ângela Diana
“Tempo, tempo, tempo, mano velho, vai…vai…vai, tempo amigo, seja legal, esteja comigo pela madrugada, só me procure no final”. Pato Fú. Desculpem se tiver algum errinho na letra, o Rô tem memoria musical e lembra TUDO até melodia, eu sou uma negação!
Mas, acordei com essa musica na cabeça hoje.
Talvez já tenha falado que, para mim, o tempo na arte é uma escada em espiral, que sempre saí dos povos antigos e cresce até a contemporaneidade….
Lembrando que, a todo instante, arqueólogos e pesquisadores encontram artefatos mais antigos do que se pensa que nasceu o ser humano e que a cada dia surgem novos e novas artistas, com muitas técnicas diferentes.
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A arte aceita a todas, todes e todos, desde pessoas até tecnicas!
Todos os artistas têm dentro de si a questão do tempo.
O que é o TEMPO? Quanto tempo temos? Será que nossas obras serão tão antigas quanto as pirâmides do Egito?
Que, aliás, tem um ditado que diz que o “tempo tem medo das pirâmides do Egito”.
MEU tempo (a representação dele) é um homem barbudo, de longas madeixas brancas. Não tenho mais essa obra, doei para uma entidade beneficente. Não fiz fotos…. Mas, assim também seria a descrição do anjo do tempo.
Muitas culturas falam do tempo e da morte, como as fiandeiras gregas que teciam o destino das pessoas e que quando fosse a hora de morrer, o fio era cortado.
Quando eu era uma jovem aprendiz, e adolescente, queria que o tempo passasse, acreditava que, aos 25 anos, estaria casada, com minha profissão de artista estabelecida e, como todo jovem artista sonha, “famosa”!
Ai, ai, ai! Se você perguntar para artistas mais experientes (como sou agora), isso soa como uma ENORME bobagem.
A vida vai jogando você na parede e as quedas ensinam que a arte está DENTRO e não tem como separar ela da nossa vida.
Que ela não serve apenas para ganhar dinheiro (às duras penas, aprendemos que conseguimos o dinheiro da sobrevivência com qualquer outra coisa, menos vendendo esculturas, murais, quadros ou desenhos).
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E qualquer coisa vai desde ser atendente de loja à varrer rua.
O marido de uma amiga minha, era um grande compositor, o Pedro.
Ele tinha pastas e pastas de letras e ritmos de música e, inclusive, fizeram entrevista com ele…. Seu maior sonho era ter uma das suas musicas tocadas por duplas sertanejas como Teodoro.
Infelizmente, Pedro morreu cedo, de ataque cardíaco, um choque para a família e todos os amigos!
Até hoje, acredito que, como na arte, o tempo corre diferente, alguém ainda há de descobrir as pastas e tocar, gravar CDs, colocando o nome do Pedro e o dinheiro dos direitos autorais indo para a família dele.
E porque eu acredito?
Porque muitos artistas foram descobertos quase na terceira idade…ou SE descobriram.
Inclusive, já citei alguns aqui que cuidaram das famílias e depois se jogaram no trabalho, ou outros tardiamente como Van Gogh, depois da morte.
Só que- FRISO! – essa história que artista só fica famoso depois de morto ou morta é uma grande lenda urbana.
Lógico, que as obras ficam mais raras e caras, porque afinal o criador já não está aqui na terra.
Mas, não tem um tempo certo!
O “sistema” que existe, tenha o nome que quiser, coloca o tempo como uma linha reta: nascer, crescer, fazer faculdade, casar, ter filhos, aposentar, envelhecer e morrer!
Sério? Quantas pessoas conhece que segue esse padrão e se sentem culpadas quando não dá certo?
Gente, artista vive FORA do sistema… E sabemos que “ele” é uma ilusão.
É como acreditar que o mundo tem que ser confortável, rápido e feliz! Dar prazer a todo instante e nada disso é VERDADE.
O mundo, para mim, é uma escola que, como diz minha mãe, “tem poucas horas de recreio”.
A arte nos traz os questionamentos e conforme amadurecemos, existem fases que nem mostrar o trabalho é importante mais.
Fama, então! Como disse Andy Warhol, qualquer um teria “seus 15 minutos de fama”.
Fama não preenche vazios existenciais ou espirituais, pode até por um “tempo” trazer dinheiro…. Mas de resto….Mais uma grande ilusão.
Ser artista conhecido ou conhecida é normal…. Afinal, a arte abre muitas portas, inclusive a do próprio dinheiro.
De uma hora para outra, existe sim a chance de sermos descobertos. Hoje em dia, com a internet, bem mais fácil.
Mas, para quem está começando: não se fie nisso e nem se iluda, a arte só é boa quando o artista percebe que faz parte da sua alma e tem a “coragem” de colocar para fora (coragem= cuore ou core, coração. Ou seja, colocar o coração em alguma coisa!)
E isso não é para todo mundo, porque existem muitas coisas que precisamos abrir a mão e muitas vezes é a da estabilidade financeira, ouvir coisas que magoam e batalhar o tempo todo para provar que arte é um TRABALHO E QUE PRECISA SER REMUNERADO!
É ou não assim?
Claro, se o artista for tambem professor, existe o salário fixo, mas tem que ter muita disciplina pra cuidar da própria obra e não só da dos alunos!
Mais uma vez….o tempo.
Hoje, para mim, vivo de 24 em 24 horas… às vezes sem pensar em passado ou futuro.
Apenas no dia de hoje!
E para voces? O que é o senhor TEMPO?
Bom final de semana para todos, todes e todas!
Ângela Diana
Sou londrinense e me dedico à arte desde 1986 quando pisei pela primeira vez no atelier de Leticia Marquez. Fui co-fundadora da Oficina de Arte, em parceria com Mira Benvenuto e atuo nas áreas de pintura, escultura, desenho e orientação de artes para adolescentes e adultos.
Foto principal: Obra A Persistência da Memória, de Salvador Dali